Explicitando, em linhas gerais, o projeto de pesquisa que tentaremos realizar, diremos que este se desdobra em duas partes: 1) Discussão de um dada corrente de crítica: a Estética da Recepção; contribuição à historia recepcional de João Guimarães Rosa. Percebe-se inclusive pelas palavras utilizadas, que as duas partes se unificam em torno de um objetivo comum: ressaltar o papel, simultaneamente do leitor e da história na análise e interpretação críticas.
Propomos demonstrar que as principais possibilidades de abordagem da obra de Guimarães Rosa foram, pioneiramente, traçadas ou levantadas por Antonio Candido. Para tanto, tomamos como base dois textos seminais sobre Grande sertão: veredas: “O homem dos avessos” e “Jagunços mineiros de Cláudio a Guimarães Rosa”. Nesses e em outros ensaios e resenhas, o crítico traz as ideias que têm balizado os estudos sobre Guimarães Rosa. Embora Antonio Candido seja considerado como o fundador da vertente crítica sócio-histórica da obra do escritor mineiro, consideramos que outras abordagens como a metafísica, a mítica, a linguística, a psicanalítica têm também seu nascedouro nos seus textos.
A partir do ensaio “O homem dos avessos”, em que Antonio Candido analisa a obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, pretendo mostrar o que chamo de dupla navegação do ensaísta no modo de compor a análise. Trata-se de desentranhar do caminho analítico justamente o movimento duplo e ambíguo que Candido surpreende no autor mineiro, qual seja, a oscilação entre os passos enraizados no realismo, herdeiro da vertente crítica dos anos 30, e o voo inventivo e criativo que singulariza escritor e crítico. Selecionando passagens notáveis do ensaio, busco examinar essa dupla flutuação como procedimento crítico analógico à temática estudada por Candido.
O artigo procura assinalar duas das principais contribuições de Antonio Candido para uma discussão que recaia, ao mesmo tempo, sobre a forma do romance Grande sertão: veredas e sobre formas políticas e sociais marcantes na história do país.
O presente texto trata, a partir de uma analise comparativa entre o pensamento crítico de Antonio Gramsci e Antonio Candido, das relações de tensão dialética entre o Regional e o Universal no processo de Formação de uma Literatura Moderna Nacional Italiana, na obra de Luigi Pirandello, e os paralelos deste mesmo processo de Formação na Literatura Brasileira, na obra de Guimarães Rosa.
O objetivo desta tese consiste em verificar a evolução da fortuna crítica de Grande sertão: veredas. Os pressupostos do enfoque escolhido inscrevem-se na perspectiva histórica que rege a concepção de sistema literário teorizada por Antonio Candido em Formação da literatura brasileira, de 1959. Tomando como ponto de partida os escritos do mesmo Antonio Candido sobre Guimarães Rosa, o propósito é analisar as relações de descendência e de renovação que com eles estabelecem duas linhagens da crítica: os ensaios sociológicos, historiográficos e políticos e os ensaios de estrutura, composição e gênero. Foram examinadas as fases que se sucederam na recepção crítica de Grande sertão: veredas e o processo de internacionalização das leituras do romance, em particular sua recepção na França. Fez-se o levantamento de alguns dos conceitos mais salientes do projeto crítico de Antonio Candido e seus desdobramentos na crítica literária brasileira. Os escritos de Antonio Candido sobre Guimarães Rosa analisados são: as resenhas de Sagarana e de Grande sertão: veredas, o ensaio pioneiro sobre o romance, ―O homem dos avessos‖, ―Jagunços mineiros de Cláudio a Guimarães Rosa‖, ―Literatura e subdesenvolvimento‖ e ―A nova narrativa‖. No que se refere aos ensaios sociológicos, historiográficos e políticos sobre o romance, foram investigados: As formas do falso, de Walnice Nogueira Galvão, grandesertão.br, de Willi Bolle, Lembranças do Brasil, de Heloisa Starling, O Brasil de Rosa, de Luiz Roncari. Quanto aos ensaios de estrutura, composição e gênero, destacam-se: ―Grande sertão: a fala‖ e ―Grande sertão e Dr. Faustus‖, de Roberto Schwarz, ―O mundo misturado: romance e experiência em Guimarães Rosa‖, de Davi Arrigucci Jr., ―Veredas-Mortas e Veredas-Altas: a trajetória de Riobaldo entre pacto demoníaco e aprendizagem‖, de Marcus Mazzari. Metodologicamente, este trabalho orienta-se pelos estudos comparativos, mas com uma especificidade: o objeto de comparação é a crítica e não a criação literária. São apurados o método crítico e os fundamentos de cada ensaio em sua integridade. Entendendo que tais leituras interagem no tempo, procuramos desvendar o movimento dialético de aproximação e distanciamento operado entre elas.
Esta dissertação consiste no estudo da categoria do “super-regionalismo” proposta por Antonio Candido em “Literatura e subdesenvolvimento” (1970). Investiga, ainda, a leitura crítica elaborada por Antonio Candido do romance Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa, especialmente em “O Homem dos Avessos” (1957) e “Jagunços mineiros, de Cláudio a Guimarães Rosa” (1970). Sugere-se, então, que a proposição teórica de Antonio Candido, associada à análise que elabora do romance rosiano, reitera hierarquias sociais e culturais que, por sua vez, veem-se perturbadas e mesmo questionadas pela obra de Guimarães Rosa