A obra do escritor brasileiro João Guimarães Rosa foi altamente difundida em diversos países. Seus textos tornaram-se lidos não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, rompendo as fronteiras e sendo levados, por outros escritores, para países que enfrentavam uma problemática social semelhante com a brasileira, como Angola e Moçambique. Neste ensaio, buscou-se ver o quanto o escritor brasileiro influenciou a obra do escritor angolano Luandino Vieira e do moçambicano Mia Couto.
João Guimarães Rosa e José Luandino Vieira revelaram extraordináriota lento para inventar linguagens. As vozes, respectivamente "brasileiras" e angolanas", portadoras das histórias de João e de José, são tão engenhosamente criadas quanto os eventos concebidos com os agentes de sua dramatização. Se é imediatamente visível esse traço comum aos dois ficcionistas, as marcas diferenciais entre ambos não são menos flagrantes, ficando, desde logo, perceptível que as falas, na obra de um e de outro, têm pontos de origem distintos/distantes, e vêm identifi car falantescujos universos, estritamente linguísticos ou genericamente culturais,onde se projetam suas particularidades pessoais e nacionais, são suigeneris. Examinar alguns pontos desse ângulo de criatividade na ficção dos dois escritores é o objetivo des te trabalho.
DESDE QUE AS CONVENÇÕES CLÁSSICAS SOBRE OS CÂNONES DO DISCURSO COMEÇARAM A SER MAIS LARGAMENTE DESCUMPRIDAS, CONFUNDIRAM-SE TAMBÉM AS FRONTEIRAS DOS GÊNEROS LITERÁRIOS. NESSE SENTIDO, O PRESENTE TRABALHO ANALISA ALGUNS CONTOS DA PRODUÇÃO LITERÁRIA EM LÍNGUA PORTUGUESA OS QUAIS, PRÓDIGOS EM RECURSOS CÊNICOS OU EM OUTRAS LINGUAGENS VISUALIZÁVEIS, ENGENDRAM, COM SUAS HISTÓRIAS, EMBRIÕES DE ESPETÁCULOS, QUE DEMANDARIAM UM ESPAÇO COMO O PALCO OU A TELA PARA CONSUMAR SUA PLENITUDE POTENCIAL DE SENTIDO.
Esta dissertação tem como objetivo o estudo comparado dos dados expressivos em Luuanda, de Luandino Vieira (Angola) e em três contos de Sagarana, de Guimarães Rosa (Brasil). Os textos dos autores são tomados de um ponto de vista supranacional, partindo do fato de que os sistemas literários dos dois países se integram em um macrossistema de literaturas de língua portuguesa. Focalizamos a oralidade como tema estruturador das seguintes narrativas: "Vavó Xíxi e Seu Neto Zeca Santos" (Vieira, 1964), "Estória do Ladrão e do Papagaio" (Vieira, 1964), "Estória da Galinha e do Ovo" (Vieira, 1964) e "Sarapalha" (Rosa, 1946), "Duelo" (Rosa, 1946) e "Corpo Fechado" (Rosa, 1946). Nesses textos, as falas registradas são retratadas de forma a conduzir a uma inflexão real das falas do musseque em Angola e do sertão no Brasil. A transposição da linguagem regional se dá de modo diverso nas culturas brasileira e angolana, o que determina diferenciações na construção das falas das mesmas. Em ambos os autores, a oralidade é parte integrante na observação da língua como processo ideológico essencialmente lúdico. Tal ludicidade aproxima o falar regional do poeta que, no seu fazer artístico, desconstrói a linguagem e recria-a de outra forma, conferindo-lhe significações sempre novas.
O trabalho ora apresentado tem como proposta a leitura, sob o pondo de vista comparatista das estórias presentes em Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, publicado pela primeira vez em 1962, e No antigamente, na vida, de José Luandino Vieira, de 1974. Parte-se do mapeamento do percurso da (re)invenção inscrita no tempo da infância, para posteriormente, sob o recorte da caracterização das personagens infantis, verificar a ficcionalização da violência através destas personagens, marcadas por dois movimentos distintos: através da compreensão da presença ou do passado colonial e das identificações nacionais, do intento harmonizador, em Guimarães Rosa, e da evidenciação da violência, temática e estruturalmente, em Luandino Viera.
Do macrossistema de literaturas de língua portuguesa na linha de pesquisa Literatura e sociedade na época contemporânea: Portugal, Brasil e áfrica escolhemos as literaturas brasileira e angolana para nosso estudo com os livros Sagarana, de João Guimarães Rosa e Luuanda, de José Luandino Vieira. Pela valorização da linguagem local esses escritores criaram um mundo à parte no espaço ficcional - o sertão em Sagarana e o musseque em Luuanda - com uma geografia, flora e fauna que são parte ativa na vida das personagens habitantes deste espaço. Os seres que vivem nesse "mundo dentro de outro mundo" estão sujeitos às suas leis: um misto de acaso, de destino e de forças sobrenaturais. Pretendemos verificar as semelhanças e diferenças entre esses dois autores e a nossa escolha desses autores se justifica tanto pela formalização estética quanto pelos valores veiculados nas obras.
Esta dissertação tem como objetivo refletir sobre as estratégias narrativas configuradoras de espaços e espacialidades tal como se manifestam em contos do escritor brasileiro João Guimarães Rosa e dos escritores angolanos José Luandino Vieira e Boaventura Cardoso. A composição do corpus foi motivada por textos que permitissem uma aproximação com vistas ao deslinde das configurações espaciais que estruturam as narrativas. Para a realização do estudo, foram conclamados pontos de vista teóricos sobre espaço e espacialidade, particularmente, os de Edward Soja, Doreen Massey, Michel de Certeau, Cássio Hissa e, principalmente, Milton Santos. Embora os objetivos da dissertação privilegiem a constituição espacial, discussões sobre as categorias personagem e tempo também estão presentes para demonstrar a pertinência de utilização de um conceito tomado ao sociólogo polonês Zygmunt Bauman e de sua teoria sobre o refugo humano. Essa teoria subsidiou a percepção de certas personagens dos contos selecionados, delineadas por elementos que fazem parte do conceito de refugo humano. Como se pretendeu demonstrar, a orquestração de seres do lixo, nos contos analisados, arquiteta e cristaliza o veio de uma literatura que, mesmo produzida em contextos culturais tão diversos, permite construir pontos de contato e delicados olhares para espaços, espacialidades, territórios, paisagens e lugares e seus seres redundantes e exibi-los na cena literária.
Esta tese propõe uma leitura crítica do tempo e do paradoxo em dois dos mais importantes romances em língua portuguesa do século XX: Grande sertão: veredas, do brasileiro João Guimarães Rosa; e Nós, os do Makulusu, do angolano José Luandino Vieira. Como base teórica, parte-se de três importantes obras de Paul Ricoeur: A metáfora viva (1975), Tempo e narrativa (3 vols.: 1983, 1984 e 1985) e O si-mesmo como um outro (1990). Em Grande sertão: veredas, analisa-se como o narrador cria para si um ponto de observação situado fora do fluxo temporal, a partir do qual busca conferir sentido a sua experiência. Como resultado, percebe-se um modelo narrativo que se caracteriza por uma recursividade que segue um percurso em espiral, alterando os próprios eventos a cada novo torneio narrativo. Analisa-se também a forma como o autor transfigura eventos históricos referenciais para que possam servir de matéria-prima para sua escrita ficcional. Por fim, desenvolve-se um estudo de como o narrador busca, com maior ou menor êxito, diferenciar-se da coletividade que o cerca. Em 'Nós, os do Makulusu', a atenção se volta para o processo de desintegração da linearidade temporal em função da experiência traumática da guerra. Tendo como suporte várias formas de disjunção, a voz narrativa promove deslocamentos temporais tanto para o passado da memória quanto para o futuro da especulação fictícia. Especial atenção é dedicada à maneira como Luandino Vieira lida com o bilinguismo angolano para compor seu estilo bastante particular de escrita.
A presente comunicação, a partir de uma leitura de estórias de João Guimarães Rosa e José
Luandino Vieira, presentes em Primeiras Estórias e No antigamente, na vida, respectivamente, visa
uma abordagem dos textos baseada na reconstrução do passado enfocada no tempo da infância.
Privilegiamos no decorrer desta leitura os processos de ressemantização tanto da palavra, como do
próprio espaço do passado, que salvas as distinções contextuais e das intenções dos projetos
estéticos dos autores, aponta para uma tensão estrutural entre o novo e o velho. Esta tensão se
evidencia nas narrativas, ademais dos aspectos já apontados, através de um constante movimento
de trazer os espaços periféricos para o centro da narrativa, tanto pela inventividade da linguagem,
tanto pela ruptura das fronteiras entre centro e periferia presente nos textos, nomeadamente, os
musseques de Luanda em Luandino Vieira, e o sertão roseano, que nos apontam para um
entrecruzamento cultural, dentro de uma escritur