Buscando pensar a narrativa rosiana em suas múltiplas relações com outras áreas do conhecimento, sobretudo com a Filosofia, a presente comunicação é um estudo interpretativo do processo de ficcionalização de textos filosóficos em Corpo de Baile (1956). Assim, o referido complexo novelístico, lido em conjunção com o texto das Enéadas de Plotino, ganha unidade não apenas formal, mas temática. Em termos de uma discussão em torno da experiência estética, Corpo de Baile pode ser descrito preliminarmente como um corpo da literatura, em que a metáfora do baile e do corps du ballet ressaltam a figura do dançador. Corpo da literatura, mas também da filosofia, da retórica, de tantos outros saberes, assimilados ao corpus das sete novelas que compõem o livro. Imageticamente, a figura do dançador vem de Plotino, contudo Guimarães Rosa o toma não corpo doutrinário fechado, cujas premissas seriam demonstradas pelas narrativas, mas como labor poético-filosófico. Assim, de acordo com uma abordagem gada
As Primeiras estórias como atos genesíacos primordiais. O princípio do uno e do múltiplo regendo a proliferação das estórias. Os quatro pilares fundamentais que sustentam a estrutura arquitetônica do livro: a catábase, o personagente, o psiquiartista e a alegria. O entrelaçamento destas noções e o seu desdobramento nas estórias. A estória medial – “O espelho” – e as duas estórias extremas – “As margens da alegria” e “Os cimos” – como o princípio ativo do livro a partir do qual as outras dezoito estórias seguem-se umas às outras num percurso progressivo de desvelamento e engrandecimento do homem. A seqüência das estórias e a sua orquestração conjunta na composição de um enredo harmônico. As correlações internas entre as estórias. O destino ascensional da alma e os ecos plotinianos na obra rosiana.
Este trabalho tem como objetivo investigar os efeitos do procedimento narrativo do
encaixe, presentes em Corpo de baile (1956), de Guimarães Rosa, a partir da técnica mise en
abyme introduzida por André Gide. O livro é composto por sete narrativas que juntas formam
um corpo que se tensiona por apresentar uma estrutura que tanto remete ao sentido de unidade
como de fragmentação. Por meio da técnica narrativa do encaixe, temas, personagens se
repetem e diferentes gêneros se mesclam, remetendo à espécie de jogo de espelhos ou mise en
abyme (estrutura em abismo). A forma de encadeamento que ocorre entre as novelas faz-se por
meio da reduplicação complexa, paradoxal (desdobramento da obra em si mesma).
Os anos que se seguiram à Segunda guerra mundial são marcados, nos Estados Unidos e na Europa, por um grande interesse pela América Latina, que se traduzia pela busca de conhecimento de sua cultura, principalmente no que se referia à música e à literatura. O caso da Knopf Incorporation é significativo desse movimento no universo norte-americano. Na pessoa de seus diretores, Alfred e Blanche Knopf, a editora sempre buscou novos talentos na Ásia e na Europa. Mas foi apenas com o advento da Segunda guerra mundial e com a “Política da boa vizinhança” instaurada pelo governo Roosevelt, que eles se voltam para a América Latina e passam a publicar, entre outros, Jorge Amado, Gilberto Freyre e Guimarães Rosa. No universo francês, a Gallimard cria em 1951, sob a direção de Roger Caillois, a emblemática coleção “La Croix du Sud”. Especializada na literatura latino-americana, inaugura-se com Ficções de Jorge Luis Borges e publica entre outros, nos anos subsequentes, Julio Cortázar, Alejo Carpenti