A tese defendida neste trabalho é a de que o narrador de Corpo de baile é o personagem Miguilim, ou melhor, o Dr. Miguel. Inicialmente, como em uma espécie de romance de formação, ele busca rememorar sua história – nasce assim Campo geral; mas ele percebe que para recuperar sua história precisa recuperar também toda a história de seu mundo e de seu povo; e nascem as outras seis narrativas. Paralelamente a isto há também um rememorar do gênero narrativo no ocidente.
O ensaio pretende apontar como a estratégia narrativa da obra-prima rosiana, ao se valer de um diálogo virtual/monólogo interior, propiciando a intersubjetividade entre quem fala - o narrador épico e quem escreve - o narrador do romance, dramatiza a própria escrita do romance como gênero e como "pacto" com a ficção.
Este artigo apresenta os grandes eixos escolhidos para a discussão do Colóquio dos 50 anos de Grande Sertão: Veredas e Corpo de Baile. O problema dos gêneros rosianos (caso, lenda, conto, poema, romance) tem íntima ligação com a tensão entre a particularidade característica e regional do material, de um lado, a ânsia universal e metafísica do outro. No tratamento mítico, Rosa procura transcender a objetividade crítica das análises sociológicas do ensaísmo dos anos 30 e 40 (Holanda, Freyre, Vianna).