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A Superindústria do Imaginário: como o capital transformou o olhar em trabalho e se apropriou de tudo que é visível

A obra sintetiza mais de 20 anos de trabalho do professor titular da ECA-USP em seu esforço de interpretar a fase atual do capitalismo e suas relações com a comunicação, por meio de incursões teóricas nas áreas da linguagem, do direito e da psicanálise, e claro, da economia e da comunicação. Esse esforço teve um primeiro marco quando Bucci publicou sua tese de doutorado “Televisão Objeto: a Crítica e suas Questões de Método”, defendida na ECA-USP em 2002 sob a orientação da professora Dulcília Buitoni. A obra atual revisita os conceitos formulados na tese, como a instância da imagem ao vivo, o telespaço público e o valor de gozo, e os atualiza a partir da hegemonia alcançada pelas grandes empresas de tecnologia digital, o que denota uma nova fase do capitalismo.

O argumento central de Bucci é que embora já trouxesse sinais a partir da tese da fetichização da mercadoria de Marx, o domínio das empresas de tecnologia sobre a economia mundial mostram que a dimensão simbólica dos bens e serviços que circulam na economia, na política e na sociedade finalmente se tornaram os principais motores da valorização do capital. Contudo, essa dimensão simbólica não se resume aos valores de representação, de status social ou de poder de que se revestem as mercadorias em suas relações com as pessoas, mas tem uma operação mais profunda. Primeiramente, essas empresas lidam com o processamento dos dados pessoais e o monitoramento não esclarecido dos comportamentos cotidianos dos usuários das mídias digitais, de modo a capturar verbas publicitárias cada vez maiores, com a promessa de saber mais sobre as pessoas do que elas mesmas. Em segundo lugar, é da ordem do desejo o processo de valorização das mercadorias atuais, capturando as pessoas não “pelas costas”, como diria Marx, mas pelo seu inconsciente, que é sempre insatisfeito e sedento por identificação. A economia política que opera esse mecanismo é a da Superindústria do Imaginário.

Como escapar dela? É possível regulá-la? Quais forças são capazes de fazer frente a esse “diagnóstico de uma grande injustiça”? Assim uma vez interpelei o professor Eugênio, quando ainda era seu aluno.

Trata-se de uma obra de maturidade, com grande fôlego teórico, e que certamente será objeto de grandes discussões não só nas áreas da comunicação, mas também da economia, do direito, e também das ciências da computação. É o que nos propomos a fazer a partir de agora e durante os próximos anos.

por Vitor Blotta

PODCAST: Eugênio Bucci e Fernando Haddad comentam o livro recém-lançado, com mediação de Ricardo Musse

Superindústria do Imaginário: como o capital transformou o olhar em trabalho e se apropriou de tudo que é visível está disponível para compra no site da Editora Autêntica por R$ 74,90. Você também pode ler o epílogo da obra neste link.