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Novo Ensino Médio: estudantes organizam manifestação pela revogação da reforma

CIDADANIA

Previsto para o dia 19 de abril, o ato critica as mudanças impostas pelo NEM e o aprofundamento da desigualdade educacional

Protestos para revogação do NEM na Avenida Paulista em março de 2023. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Na próxima quarta-feira (19), ocorre o ‘2º Dia Nacional pela Revogação do Novo Ensino Médio e por Paz nas Escolas’ nas principais capitais brasileiras. Organizada pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), a manifestação tem como principal objetivo evidenciar problemas relacionados ao Novo Ensino Médio (NEM) e lutar pela sua revogação. 

O movimento já conta com a adesão de estudantes e professores nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Amazonas, entre outros. Na capital paulista, a concentração será às oito horas, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), na Avenida Paulista.

Letícia Chagas, militante do movimento Juntos, que está ativo na organização do protesto, afirma que o ato “apresenta importância histórica para o Movimento Estudantil, já que, em meados de 2017, quando a reforma do Ensino Médio iria ser aprovada, os estudantes do movimento também estiveram presentes na mobilização. Então, nessa nova etapa do pressionamento pela revogação da reforma, é essencial ter a presença em massa não só dos estudantes, mas de todos os profissionais da área da educação.”

Manifestantes em 2019 contra a reforma da educação. Foto: Jornalistas Livres.

Apesar de suspenso pela portaria nº 521 do Ministério da Educação desde o início de abril, o NEM ainda é rotina para os estudantes. O prazo estipulado de 60 dias visa ao debate e à busca de soluções para a estrutura da reforma, mas, por enquanto, o modelo educacional continua o mesmo.

Aprovado em 2017 durante o governo de Michel Temer (PMDB), o NEM tem a proposta de oferecer maior flexibilidade de matérias ao currículo de cada aluno por meio dos itinerários formativos. No entanto, a implementação do sistema é alvo de críticas por falta de diálogo com os alunos, falta de capacitação dos professores e redução da carga horária de conteúdos básicos, gerando maior desigualdade educacional no território brasileiro.

Jovens em escola da rede de ensino do Estado de São Paulo — Foto: Governo do Estado de São Paulo.

O relato de estudantes do Novo Ensino Médio é marcado pela indignação com a falta de diálogo e a baixa  qualidade dos conteúdos lecionados. “A escola em si não reuniu a gente para falar sobre essa mudança”, relata L. (17), aluno da rede estadual paulista. “Fiquei meio sem entender na hora [que recebeu seu cronograma de aulas], pensando que era mentira. É frustrante, pois a gente acaba deixando de aprender as matérias essenciais – principalmente matemática e português – para colocar matérias que não são bem aproveitadas”. Ele ainda completa: “Tiraram história, geografia, física e química do nosso currículo formativo, então acho que esse novo modelo não está bacana”.

V. (17), que também é aluna da rede estadual pública, conta um pouco da sua percepção e a de seus colegas de sala . “Na minha sala, ninguém gosta do NEM, ninguém. Mas quem realmente quer prestar vestibular tem aquele ódio a mais do NEM porque justamente a gente não tem as matérias [necessárias].” 

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e vestibulares, como a Fuvest, também são uma preocupação para os estudantes. Em 2023, nenhuma dessas provas, que reúnem assuntos das diferentes áreas do conhecimento, será adequada ao NEM. Como alternativa para esse problema, alguns alunos buscam cursinhos pré-vestibulares antes mesmo do término do Ensino Médio. “Eu escolhi o cursinho para fazer, porque eu vi que realmente não tem como passar em nada só aprendendo coisas na escola.”, comenta V.
“O Novo Ensino Médio propõe um ensino cada vez mais tecnicizante, que volta os alunos somente ao mercado de trabalho, em detrimento da formação de cidadãos capazes de pensar a sua realidade e os problemas que a circundam de forma crítica. Como uma escola que tem matérias como ‘Brigadeiro Caseiro’ vai se aplicar em resolver problemas como o crescimento do bullying e o aumento dos casos de violência escolar?”, destaca Letícia Chagas.

Lucas Lignon

Mirela Costa

Nicolle Martins

Revisão: Nicolle Martins e Lara Soares

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