Sala 39

Os avanços na inclusão de pessoas trans no meio acadêmico

Apesar do número ainda ser pequeno, é somente a partir dos primeiros passos que a realidade a longo prazo pode ser alterada

(Imagem de Vectonauta no Freepik)

Por: Filipe Moraes, Júlia Queiroz, Rebeca, e Tainá Silva

Editora: Júlia Martins

A Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, no primeiro semestre de 2023, pela primeira vez efetivou uma professora trans: Dodi Leal, graduada em Artes Cênicas e com doutorado em Psicologia Social, ambos pela USP, foi convidada para ministrar como iniciativa do Laboratório de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC).

O professor Marcos Bulhões, que foi o responsável pelo convite, declarou em reportagem feita por Mariana Zancanelli do Laboratório Agência de Comunicação que a ocupação desse espaço na pós-graduação por uma professora doutora travesti é uma renovação muito importante. Dodi Leal, em entrevista ao G1, afirma que “lecionar na USP é um marco de reconhecimento do meu trabalho no Sul da Bahia e também na cena artística trans brasileira. Sou a primeira pessoa trans a se efetivar no ensino superior público de artes do mundo, isso sempre foi uma denúncia, porque só agora, e ainda apenas uma.”

O acesso de pessoas trans ao ensino superior apresentou avanços nos últimos anos, entretanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Segundo pesquisa feita pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), publicada em 2028, somente 0,1% de todas as matrículas no ensino superior público do Brasil eram de pessoas trans. 

Ações feitas pelas próprias universidades tentam mudar esta realidade. A Universidade Federal do ABC, por exemplo, determinou que 1,6% das vagas na graduação seriam exclusivamente para a população trans, mas havia um problema: muitas destas pessoas nem chegam a completar o ensino médio. Para Rena Orofino, presidente da Comissão Especial para Pessoas Transgêneras, Transexuais e Travestis (CEPT) da instituição, em declaração para o jornal Estado de S. Paulo, o programa “EJA (Educação de Jovens e Adultos) precisa de fortalecimento e, enquanto essas pessoas trans não estiverem formadas, vamos pegar as poucas que conseguiram se formar”. 

Apesar de não existirem cotas para transgêneros na USP, há projetos que visam a discussão e reflexão sobre diversidade. Desde 2017, o Diversidade na ECA promove encontros que debatem os mais diversos temas relacionados à inclusão, como racismo, capacitismo, sexualidade e gênero. 
Entretanto, os desafios continuam no cotidiano dessas pessoas, desde o direito de serem reconhecidas por seu nome social, até o direito de simplesmente viverem. Não somente o Brasil, mas diversos países no mundo, vivem um levante contra a existência de pessoas trans, com projetos de leis que desejam, por exemplo, abolir o uso da linguagem neutra e impedir que jovens tenham acesso a procedimentos médicos de transição. É de extrema importância que as universidades, enquanto espaço de ensino e encontro de realidades tão distintas, sejam capazes de promover a inclusão e, acima de tudo, o respeito.