ISSN 2359-5191

18/06/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 56 - Sociedade - Hospital Universitário
Pesquisadores expõem diferenças entre a bioética de fronteira e a bioética do cotidiano

São Paulo (AUN - USP) - A partir da exposição de dois casos fictícios, uma mesa-redonda montada no Hospital Universitário da USP propunha-se a discutir a bioética do cotidiano hospitalar a partir das experiências de cada profissional e também a diferenciá-la da ética de fronteira. Foram focadas, para este debate, as relações do enfermeiro com a equipe, com o paciente e também consigo mesmo. Fizeram parte da mesa os professores Ana Cristina de Sá, Elma Lourdes Zoboli e Genival de Freitas.

O primeiro caso apresentado consistia em uma discussão entre dois enfermeiros, já que ambos precisavam fazer o uso do único banheiro do andar, cada um com um procedimento diferente (um enteroclismo e um banho de aspersão). A briga entre os dois gerou mal-estar entre os próprios pacientes e um dos acompanhantes disse que iria processar o enfermeiro, já que entendeu que a atitude havia sido de negligência.

O outro caso apresentado referia-se a uma menina com distúrbios de comportamento causados por uma infância conturbada. A menina é diabética e já teve que ser internada por períodos longos. No momento, internada há seis meses, é agressiva com aqueles que cuidam dela, gerando um ambiente desagradável. Pergunta-se se em casos de agressão existe a necessidade de fazer um Boletim de Ocorrência. Para os dois casos, pergunta-se qual seria a maneira ética de lidar com a questão.

Para o pesquisador Genival de Freitas, que explorou a bioética na relação com a equipe, a primeira questão deveria ser resolvida com um diálogo, em local reservado, a fim de decidir qual dos procedimentos era mais urgente. É também necessária uma educação formal na própria unidade para que o caso não se repita. Os beneficiários desta atitude não são só os profissionais, segundo Freitas, mas também os pacientes.

Já Elma Zoboli expôs a ética no plano das relações do profissional com o paciente e seus familiares. “O que deveria ter sido feito em primeiro lugar no caso da discussão entre os enfermeiros é verificar que ambos os pacientes estão seguros, já que este é o imperativo ético da enfermagem.”

Para Zoboli, a bioética é uma nova maneira de enfocar a ética nas ciências, e por isso é tão importante distinguir, no trabalho do enfermeiro, a bioética do cotidiano e a bioética de fronteira. Esta última engloba algumas reflexões que nem sempre estão presentes no cotidiano hospitalar, como a pesquisa com células-tronco e a eutanásia. Já a bioética do cotidiano é mais próxima, preocupada com o que aflige a maioria da população. No entanto, a pesquisadora ressaltou que não existe uma divisão sistemática entre as duas correntes e que explorar suas inter-relações sempre estimula debates.

Em relação ao último caso, o imperativo é ser ético consigo mesmo, afirmou Ana Cristina de Sá, que também é psicóloga. “Apesar de situações como a da menina sempre agressiva causarem mal estar e até reflexões sobre sua própria competência nos enfermeiros, é importante notar que a menina está testando limites, e que a agressividade é dirigida ao mundo e não a você especificamente”, afirmou Sá. É necessário agir com firmeza, e não com agressividade. O Boletim de Ocorrência só é necessário, para a pesquisadora, caso a situação fique insustentável.

Esta mesa-redonda fez parte das comemorações da Semana de Enfermagem no Hospital Universitário da USP.

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