São Paulo (AUN - USP) -A sociedade atual, caracterizada por uma crescente organização dos movimentos sociais organizados e pelo aprimoramento da democracia, dá um novo papel ao jornalismo, que ainda custa a encontrá-lo. Esta é a opinião do ex-professor da Escola de Comunicações e Artes e jornalista Manuel Carlos Chaparro. Ele participou do debate “Jornalismo e Sociedade” da Semana de Jornalismo da USP, realizada por estudantes do curso. Também participaram da mesa o jornalista do Projeto Repórter Brasil, Maurício Hashizume, e o também ex-professor da ECA e coordenador da Oboré, Sérgio Gomes.
Chaparro começou a sua apresentação com uma crítica ao jornalismo engajado, explicando a sua visão sobre a função do repórter atual. Para ele, mais importante do que “engajar nas lutas”, está a função dos jornalistas enquanto “narradores, que não devem se furtar da defesa dos valores da sociedade”. Estas são constituídas de um conjunto dinâmico, em contínua mudança e ressignificação, conduzidas pela própria sociedade, mas que são expressas em sua essência pela Constituição de 1988, que restitui as instituições democráticas no país. A Carta Magna deve ser o maior guia de valores para o jornalismo, acredita o ex-professor.
Neste novo cenário, ele aponta uma sensível diferença entre o Brasil atual e o de tempos atrás: “Hoje, temos uma sociedade em que a democracia participativa é ainda mais importante do que a representativa. Há, nesta democracia, ONGs, cooperativas, movimentos sociais diversos que reivindicam as suas causas. É a expressão de uma sociedade nova”.
Para ele, esta nova configuração do país deixou o jornalismo em crise. “[Antigamente], o jornalismo substituía a sociedade como aquele que pautava os grandes assuntos nacionais”. O professor defende que o jornalismo deve encontrar e cumprir o seu papel novo: socializar os discursos daqueles que lutam de maneira organizada.
Jornalismo de hoje é melhor
Chaparro também comparou a atividade jornalística de 40 anos atrás com os dias atuais. “Antigamente, havia, sim, grandes e ótimas reportagens, mas que não mudavam nada. E ainda por cima eram compradas”.
Outro episódio mencionado pelo ex-professor ocorreu nos primeiros dias em que ele assumiu o cargo de assessor de comunicação da Sudene, em 1964. “Na primeira semana, fui encostado na parede pelos jornalistas credenciados com a seguinte pergunta: quanto vamos ganhar? Pela independência e liberdade, os jornalistas de hoje noticiam mais e melhor”.