ISSN 2359-5191

17/05/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 08 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Grupo da USP estuda os ciclos biológicos na vida social

São Paulo (AUN - USP) - O despertador toca e é hora de ir para o colégio. Difícil acordar. Mais uma vez, é necessária a intervenção do pai, aos gritos, para retirar o garoto da cama. Isso é porque foi dormir tarde, quer ser rebelde em relação aos pais. Essa situação, embora bastante comum nas famílias, não aceita as comuns explicações paternas. Segundo o pesquisador Luiz Menna-Barreto, do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos, sediado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, o ponto central da questão é a presença de um fator biológico para essa mudança de comportamento: a alteração do ritmo biológico devido à mudança, por exemplo, nos níveis hormonais.

Os chamados “relógios biológicos”, formados por estruturas neurais, são responsáveis pelos ciclos que ocorrem no corpo, como, o menstrual, ciclos de oscilação de temperatura, de batimentos cardíacos, e, no caso, ciclos de sono e vigília, que recebem atenção especial de Menna-Barreto, o qual já orientou diversos trabalhos ligados ao sono em crianças, adolescentes e idosos.

Até meados da década de 1980, a discussão sobre as relações entre os relógios biológicos e o sono era bastante incipiente, mas com a publicação de um estudo norte-americano sobre hábitos de sono da população, ela angaria maior atenção dos pesquisadores, dada a importante ligação com questões da saúde pública e da qualidade de vida das pessoas.

Isso porque, de acordo com o professor, “a qualidade do sono é muito diferente dependendo do horário em que você dorme: seu organismo está preparado para realizar certas funções durante o sono e em determinados horários”. Trata-se de um ajustamento àquilo que Menna-Barreto denomina de “orquestra do corpo humano”. Quando ela não é respeitada, a qualidade da atividade decai bastante, podendo gerar acidentes de trânsito ou no trabalho, além de deterioração das condições de vida. Exemplo evidente disso foi o de que crianças com até 6 anos e que ficam em escola todo o dia têm um melhor desempenho se, caso queiram, dormir após o almoço, ao contrário da menor capacidade de concentração observada quando essas crianças eram impedidas de cochilar.

Esses prejuízos decorrem não só do desajuste de um só ciclo, mas também dos demais, que começam a ter dificuldades para continuar seus seguimentos naturais, alterando outras funções, embora as estruturas neurais continuem intactas. Tal desajuste temporário gera insatisfação ao indivíduo para quem, em inúmeros casos, se aconselha o uso de psicotrópicos. Entretanto, nem sempre este procedimento é adequado, uma vez que essas drogas - reguladores de sono e de humor - podem diminuir a fase de sono profundo dos usuários sem, contudo, solucionar o problema, já que em muitos casos a questão psicológica, de depressão, precede a do sono.

Embora haja contra-indicações bastante evidentes, o Brasil figura como o terceiro maior consumidor desse tipo de medicamento, dado bastante alarmante diante do baixo poder aquisitivo da população em geral. De acordo com o professor Menna-Barreto, essa estatística reflete a falta de informação das pessoas quanto aos medicamentos, seus efeitos e sobre o seu próprio corpo.

Tendo em vista essa situação, o pesquisador está desenvolvendo um projeto de exposição por todo o país de um conteúdo básico sobre a Cronobiologia (ciência que estuda a organização temporal da matéria viva). O público leigo será convidado, no projeto Um dia na vida, a estudar as mudanças do corpo humano ocorridas no dia-a-dia para conhecê-las e melhor lidar com elas, buscando adaptar suas atividades às predisposições biológicas que devem ser respeitadas para a melhoria da qualidade de vida. Também com esse propósito, o grupo disponibilizou uma página na Internet, que pode ser acessada pelo endereço www.crono.icb.usp.br.

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