ISSN 2359-5191

07/02/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 105 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Literatura é tema de seriado infanto-juvenil

São Paulo (AUN - USP) - A influência da língua portuguesa na criação artística foi tema de encontro entre o cineasta Rafael Gomes e o músico Vinícius Calderoni. O debate “Vida e texto: A língua portuguesa na arte” abriu a segunda noite da Semana Redigir 10 anos, ocorrida recentemente no Auditório Paulo Emílio, da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), e teve como tema principal a série infanto-juvenil “Tudo o que é sólido pode derreter”.

Em parceria com a TV Cultura, os diretores Rafael Gomes e Esmir Filho contam a história de Thereza, uma adolescente de 15 anos que mergulha no mundo da literatura e da imaginação. Apesar de não ser abordado de maneira pedagógica, o seriado é de cunho educativo, voltado principalmente para os estudantes do ensino médio. Cada episódio faz referência a um clássico da literatura brasileira, como Dom Casmurro e Macunaíma. Envolvidos com a história, muitos adolescentes comentaram que acabaram lendo esses livros por influência do programa.

A série estreou com 13 episódios na TV Cultura em abril deste ano, mas o sucesso foi tanto que o programa voltou ao ar em novembro. Os episódios podem ser vistos toda segunda-feira, às 18 horas, ou pelo site da TV Cultura. Rafael Gomes, idealizador do projeto, aposta na complexidade das personagens e critica o modo com que a televisão brasileira tem retratado os adolescentes. “A impressão que dá é de um monte de pessoas mais velhas que se baseiam na representação, no retrato estereotipado para representar a juventude. A questão é: a juventude tem valores fúteis ou é a representação dela que sempre esbarra nesses valores?”. Para ele, a opção é sempre pelo mais simples quando se faz televisão para os jovens. “Falta aos roteiros essa volta para a vida, e as personagens acabam perdendo sua complexidade”.

Músico e compositor, Vinícius Calderoni compara a televisão com a música, e explica que os jovens deixam de se envolver com conteúdos mais sofisticados por falta de exposição, e não por falta de interesse. “A maioria das pessoas está sempre numa zona de conforto. O gosto musical e a descoberta de novos universos é uma questão de exposição e não de determinismo socioeconômico”. Segundo Vinícius, quando as coisas têm profundidade, de alguma maneira as pessoas conseguem se conectar àquilo. “Quando é superficial, é pegar ou largar: dirigido somente para um tipo de público, como ‘Malhação’. A televisão de hoje tem um quê de aspecto comunitário, de prestação de serviço para o público. Explorar a complexidade das personagens seria muito mais enriquecedor do que isso.”

Vinícius compôs a canção “Mesmo quando a boca cala” especialmente para a série, e destaca a literatura como elemento fundamental em sua formação artística. “Li muitos livros para chegar ao universo lírico que as músicas pediam, que pelos meus recursos eu não conseguiria chegar”, diz Vinícius. Rafael também vê a língua portuguesa como base para toda sua criação: “Qualquer produção audiovisual começa com a palavra.” Para o cineasta, o maior problema do cinema brasileiro é exatamente a falta de bons roteiros. “Falta prática e ensino de roteiro, e a história é a base de tudo. Em outros países, quem quer ser roteirista faz um curso só de redação dramatúrgica por muitos anos.”

O trabalho de Vinícius Calderoni pode ser conferido no seu primeiro CD, gravado aos 18 anos, cujo título já revela o interesse do autor nas minúcias da língua portuguesa. “Tranchã” significa, ao mesmo tempo, “legal” e “resolvido” – um nome instigante e que dá uma assinatura para a obra. Para Vinícius, o domínio da língua não é apenas a base da expressão, mas também do pensamento. “Se você não domina a língua, você deixa de ir a outros lugares. Existe uma especificidade muito grande na palavra, mas a maioria das pessoas se contenta em usar qualquer uma que sirva.” Desde pequeno, Vinícius decidiu que queria ser letrista para sintetizar aquilo que já estava na cabeça de muita gente e não podia ser traduzido em palavras. “As pessoas encontram a verdade delas naquilo que está escrito. E é isso que é mais fascinante na arte.”

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