ISSN 2359-5191

28/06/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 55 - Saúde - Instituto de Biociências
Não dormir causa prejuízos à memória e à atenção

São Paulo (AUN - USP) - A pesquisa realizada pelo laboratório coordenado por Débora Cristina Hipólide, do Departamento de Psicobiologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), fala sobre aquela velha história de aprender dormindo. Prova que esta não é mais uma balela dita por professores para convencer seus alunos a não passar a noite estudando em véspera de prova. Em parceria com o Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências, Débora apresentou seus estudos para os graduandos da USP.

Segundo a pesquisadora, não dormir ou dormir pouco causa alterações metabólicas, endócrinas, imunológicas e cognitivas. “A principal queixa, além do cansaço no dia seguinte, é não conseguir prestar atenção”, explica. Esta reclamação não é por acaso, entre as alterações cognitivas causadas pela falta de sono estão prejuízos à memória e déficit de atenção, focos da pesquisa de Débora.

A relação de boas noites de sono e memória não é mais algo relativo, a pesquisadora afirma: “O sono é fundamental para o funcionamento normal da memória”. Fundamental mas não fator determinante, a repetição na hora de guardar informações também é um elemento indispensável. Para provar a importância do sono, os pesquisadores privam cobaias de dormir e analisam os efeitos.

As principais ações prejudicadas pela privação do sono são coordenadas por uma área do cérebro chamada hipocampo, localizada nos lobos temporais. Ela é responsável pela formação da memória de longa duração e pela percepção de estímulos sensoriais, o que a deixa em contato com o sistema límbico, que controla as emoções. O hipocampo foi detectado como o principal afetado a partir de testes feitos com ratos em laboratório.

Quando submetidos a tarefas de memória, ratos que foram impedidos de dormir apresentaram desempenho inferior aos que tiveram um sono de qualidade. A principal tarefa, a esquiva inibitória, consiste em colocar o animal em uma caixa clara que contém uma porta para uma caixa escura. A tendência do roedor é se abrigar na área menos iluminada, só que ao passar pela porta, esta se fecha e o rato recebe um choque. Após esse treinamento, os animais têm a tendência de permanecer mais tempo na área clara. É um aprendizado, eles se lembram do choque e essa memorização é feita pelo hipocampo. Em comparação com ratos normais, os que tiveram privação de sono passam menos tempo na caixa clara, pois sua capacidade de aprendizado é menor.

Para entender esse comportamento do hipocampo, Débora se debruçou sobre a passagem de informação elétrica entre os neurônios - o sistema de neurotransmissão feito por receptores. Já se sabia que falhas na memória de origem neuropatológica eram causadas pela redução de um tipo de receptor, o AMPA. A pesquisadora, então, procurou fazer uma relação entre esses receptores e a privação de sono. Para isso, fez uma marcação radiográfica deles nos cérebros de ratos que depois foram impedidos de dormir. A análise posterior dos encéfalos provou que havia menor quantidade de receptores AMPA nos hipocampos de ratos que não dormiram.

Débora ainda testou um medicamento usado para neuropatologias nos ratos para consolidar sua descoberta. O fármaco age de modo a potencializar a atuação dos receptores AMPA. Quando submetidos a dosagens do remédio, os ratos que não dormiram conseguiram recuperar sua capacidade de memorização, o que prova de uma vez por todas que a falta de sono reduz a ação dos receptores AMPA que agem no hipocampo, o que diminui a capacidade de memorização. A pesquisadora também deixa claro que os efeitos causados pela privação de sono são quase que completamente revertidos quando o sono é recuperado.

Uma das dificuldades do experimento é impedir que os ratos dormissem. Durante os anos iniciais da pesquisa isso era feito por meio de um ambiente no qual os ratos tinham que ficar apoiados em pequenas plataformas envoltas de água. Se o animal dormisse, perdia a capacidade muscular de se sustentar em cima da plataforma e caia na água. O incomodo que isso causava no rato o obrigava a permanecer acordado. Os testes feitos incluíam privações de sono de quatro dias.

O estresse causado por esse método para as cobaias é uma das principais críticas recebidas pela pesquisa, o que obrigou a pesquisadora a mudar de procedimento. Hoje em dia os ratos são submetidos a períodos menores de privação de sono e eles são impedidos de dormir por cutucadas feitas com uma vara. Este método é menos estressante e agressivo, mas ainda não é perfeito. Agora, procuram reproduzir em laboratório a realidade humana: “Ninguém passa quatro dias sem dormir, o que acontece é a gente dormir menos do que precisa”, esclarece Débora, “no período de uma semana, acabamos perdendo um dia”.

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