São Paulo (AUN - USP) - Dando continuidade à série de palestrasO MAC encontra os artistas, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) recebeu no 12 de setembro o artista plástico Gustavo Von Ha. Na apresentação de sua produção artística, o paulista de 34 anos falou sobre o processo de cópias em sua obra, o trabalho com desenhos de Tarsila do Amaral e Leonilson e discutiu o sistema de direitos autorais.
Inventivo, Von Ha mantém uma relação muito próxima com apropriações e releituras de obras de outros artistas para realizar seus projetos. O artista falou sobre sua admiração por Han van Meegeren, pintor holandês considerado um dos maiores falsificadores do século 20. “Sou fã dele. Ele quis se vingar do sistema, por não ser reconhecido, ocupando esta lacuna, desestruturando o sistema e provocando confusão nessa questão da autoria.”
Apesar da aparente superficialidade, existem na obra de Von Ha questões políticas mais profundas, como o questionamento da idéia de autoria e os direitos sobre a obra, principalmente na era em que todo tipo de filme, imagem e texto é encontrado na internet, definida por ele como “uma não-lei, uma terra de ninguém”. Para o artista, não dá para impedir hoje as pessoas de copiarem, editarem ou fazerem download de produtos artísticos e culturais.
Curiosamente, uma das cópias feitas por Von Ha, A Negra do Google (2011), foi adquirida pelo MAC e passou a integrar o acervo ao lado de seu próprio original, A Negra, de Tarsila do Amaral, obra de 1923 que também pertence ao museu. “Fiquei pensando nisso depois. Que coisa perversa, não é”, brincou. A obra é uma das 39 peças da exposição T.L., de 2009, composta por cópias feitas a partir de desenhos de Tarsila do Amaral (1888-1973) e Leonilson (1957-2003).
O início desse trabalho se deu com pesquisas de imagens no Google e, posteriormente, chegou a consultas de livros e catálogos, além do estudo de gestos, técnicas e traços dos dois artistas brasileiros, imitando, até mesmo, suas posturas corporais, segundo Von Ha. “Me sinto um ator desenhando. Acredito que uma boa cópia consiste em exagerar mais nos próprios defeitos do que nos traços do autor”, conta. O artista aplicou aos desenhos originais um efeito de espelho, deixando as reproduções aparecem em posição invertida em relação a eles. A partir dessa simples inversão, Von Ha assegura sua autoria sobre as imagens e leva ao público novas concepções acerca de cópias e originais, e de verdade e mentira. Outro projeto apresentado na palestra foiTokyo Show, um vídeo que circula na internet e une cinema, artes plásticas e muito humor.
Provocativa, a obra é protagonizada pela atriz Alessandra Negrini e consiste em um trailer de um filme que não existe, mas o desafio ao espectador está nos detalhes. Além do trailer, o “filme” conta com site, prêmio conquistado em um festival de cinema que também não existe e até artigo na Wikipédia. “Infelizmente alguém já colocou lá que o filme não existe, já corrigiram. Eles [da Wikipédia] prezam pela verdade absoluta”, disse o artista em tom de brincadeira.
O ciclo de palestras segue até o final de novembro e o convidado da próxima terça será Theo Craveiro, artista plástico formado na Universidade de São Paulo, que entre outras obras, desfilou com seu Museu Ambulante em frente ao Museu de Arte Moderna (MAM) e ao próprio MAC. O início é às 18 horas e a entrada é gratuita.