ISSN 2359-5191

05/04/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 2 - Economia e Política - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Pioneirismo no Brasil contribui para a formação da nova geração e para o atual cenário mundial
Projeto coordenado pela Universidade mostra como grandes ideias podem mudar o mundo

Em cinco lições básicas, muito pode ser apreendido a partir da trajetória dos grandes pioneiros brasileiros. É com essa premissa que o professor Jacques Marcovitch, ex-reitor da USP, iniciou a palestra “O que ensinam os pioneiros?”, pertencente aos projetos da Universidade Aberta à 3ª Idade e do Pioneiros & Empreendedores, ambos da USP. A história da economia brasileira, influenciada de maneira decisiva pela história dos empreendedores mais importantes do país, pode trazer às novas gerações (tanto dentro quanto fora do Brasil) uma inspiração quanto aos problemas e possibilidades em pauta atualmente.

O projeto Pioneiros & Empreendedores, coordenado pelo professor, é resultado de dez anos de pesquisa e engloba uma exposição de cunho histórico, que viaja todo o país e percorre as histórias de 24 empresários que mexeram com as bases da economia no período 1890-1930. Entre eles, estão Francisco Matarazzo, Johannes Gerdau, Roberto Simonsen, Barão de Mauá, Roberto Marinho e José Ermírio de Moraes. O projeto também prevê um curso de extensão, a ser ministrado para professores nos dias 29 e 30 de junho de 2013, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, que contará com material gratuito disponibilizado online e tendo por objetivo incentivar a abordagem da trajetória dos pioneiros em salas de aula comuns.

Já a palestra ministrada por Jacques Marcovitch expôs de maneira breve as relações de pioneirismo naquela época e as projeções para a geração atual, de 1990 a 2030, intensamente divergentes por conta do novo panorama demográfico e econômico em que o país se encontra.


Os cinco passos do pioneirismo

O professor Marcovitch elabora cinco pontos significativos para o entendimento do que os pioneiros podem nos ensinar. Em primeiro, está a percepção das mudanças que podem fornecer a oportunidade. Segundo o professor, muitos deles eram imigrantes, que enfrentaram adversidades e adquiriram capacidade maior de resistir a elas, além de uma diferenciação cultural já prenunciada. “Eles foram ao encontro do mercado, souberam atender às necessidades e à demanda do momento”, enfatiza.

Em segundo, está o olhar diferente sobre a riqueza. “O objetivo dos pioneiros nunca foi enriquecer. A riqueza era apenas um meio para alcançar o sonho já estabelecido, mas nunca a finalidade absoluta”, reitera Jacques Marcovitch. Ele ainda acrescenta exemplos sobre a origem humilde e turbulenta de alguns dos 24 empreendedores, como o Barão de Mauá, expulso da casa da mãe aos 9 anos e obrigado a viver por conta própria, mas, ainda assim, fundador do Banco do Brasil e um dos maiores empresários que o país já viu.

Em terceiro lugar, está a autodisciplina, reafirmando o imenso poder de que poderiam lançar mão e, ainda assim, a inabalável capacidade de conter gastos e manter a disciplina mesmo em situações caóticas. O quarto passo é o aprender com os passos dos outros, o utilizar-se da experiência anterior já documentada de modo a prevenir futuros erros e diagnosticar onde estão os acertos.

Por fim, como ressaltado por Marcovitch, os pioneiros souberam “construir o futuro e amar o destino. Foram pessoas que, ao mesmo tempo em que tornaram-se verdadeiros empreendedores de suas vidas, souberam conformar-se quando seus planos não deram certo e aceitaram o que o destino lhes oferecia”, completa.


Horizonte 2020 e tendências nacionais

Ao transferir a questão para o período atual de 40 anos, de 1990 a 2030, o professor ressaltou as tendências atuais que tornam propícia e desejável a atuação de empreendedores pioneiros. Para ele, entre os principais pontos estão a gradual mudança de foco industrial, saindo do Sudeste brasileiro para a região Norte. “A taxa média de crescimento anual do PIB na região Norte está em constante aumento, apesar de ainda não superar a das regiões mais ao sul”, completa. Além disso, apesar de a tecnologia ainda ser majoritariamente concentrada no Sudeste, a Zona Franca de Manaus se estabelece com firmeza na produção do gênero.

Marcovitch ressaltou também a evolução do modo de ensinar nas faculdades voltadas à saúde. “Hoje, os enfermos já vão ao consultório sabendo, parcial ou totalmente, qual problema têm, devido às pesquisas nos servidores de busca. O médico já não mais decide sozinho o tratamento do paciente”, ressalta. Para ele, seguindo a mesma linha que o médico, o professor da área da saúde é, agora, um construidor do conhecimento, não mais um mero transmissor, o que gera uma reformulação nos cursos de medicina para melhor atender à demanda dos pacientes.

A diversificação das fontes energéticas também pode ser uma oportunidade. A possível reforma energética dos EUA, passando a utilizar e exportar gás de xisto, pode provocar uma mudança na geopolítica atual com os países produtores de petróleo. Além disso, Jacques Marcovitch mencionou o já conhecido, porém pouco resolvido, uso consciente da terra e da água e as formas de não degradação.

Entre as outras possibilidades estão o novo material militar de nível pesado, como drones, gerando novos problemas de direitos humanos, e também o já antigo desejo do homem em transpor a última barreira de seu próprio corpo: o cérebro, a partir do The Human Brain Project, que deseja simular um cérebro completo através de computador.

“Agora é mudar ou morrer”, conforme frase de Valentim dos Santos Diniz, usada para sintetizar os termos progressistas do projeto de empreendedorismo. “Em certos momentos não há meio termo. Nos anos 1930, os pioneiros souberam entender as necessidades da sua realidade. Agora, é hora de fazermos o mesmo”, completa Marcovitch.

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