ISSN 2359-5191

05/04/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 2 - Sociedade - Universidade de São Paulo
Estado concede anistia política a aluno da USP morto pela ditadura

Há 40 anos, morria, vítima da ditadura militar, Alexandre Vannucchi Leme, aluno de geologia da Universidade de São Paulo. Por essa razão o Instituto de Geociências foi o local escolhido para a 68ª caravana da anistia, que prestou homenagem ao ex-aluno da USP, além de ser palco para o reconhecimento da condição de anistiado político do mesmo.

Após leitura do relatório e votos relativos ao requerimento formulado por Maria Cristina Vannucchi Leme, pleiteando a declaração de anistiado politico post-mortem de seu irmão Alexandre, Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia declarou: “Nesse dia 15 de março de 2013, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça por unanimidade declara Alexandre Vannucchi Leme anistiado politico brasileiro”. E, dirigindo-se à família do ex-aluno da geologia, completou: “Pedimos desculpas públicas e oficiais pelos erros que o Estado cometeu contra ele, contra toda familia, seus amigos e à causa da justiça social no Brasil”.

A Comissão da Anistia é responsável por analisar os pedidos de indenização de pessoas impedidas de exercer suas atividades econômicas por razões políticas, entre os anos de 1946 e 1988. Desde sua criação, em 2001 pelo Ministério da Justiça, foram feitos mais de 70 mil requerimentos de anistia. Esses pedidos são apreciados pela Comissão, para serem posteriormente submetidos à decisão final do Ministro da Justiça.
 

A história de Alexandre Vannucchi Leme

Alexandre tinha 22 anos e cursava o quarto ano da faculdade de geologia quando, em março de 1973, desapareceu. Na época, foram divulgadas duas versões para sua morte. A primeira era a de que o estudante fora atropelado enquanto fugia, a segunda era a de que ele havia cometido suícido enquanto preso. Para a família e amigos, estava claro que nenhuma dessas versões era verdadeira, já que, quando foram informados de seu paradeiro, o corpo de Vannucchi já havia sido enterrado como indigente e com cal virgem, o que acelerou a decomposição e impediu a confirmação da causa da morte.

Quarenta anos depois, a luta da família de Alexandre teve resultados. No evento que o reconheceu como anistiado político, sua irmã, Maria Cristina Vannucchi Leme, prestou tributo a seus pais, que, não podendo comparecer por estarem muito idosos, eram, segundo ela, o real motivo dessa vitória. “Foram eles que trilharam décadas atrás de justiça, de reparação, atrás do restabelecimento da verdade”. E completou:: “Então  é justo que passado todo esse tempo, o mesmo Estado que, através de seus agentes, causou tanta dor, tanto dano, agora nos peça perdão”.

Durante seu discurso, Maria Cristina lembrou de Ronaldo Mouth Queiroz, estudante de geologia e companheiro de Alexandre, também morto pela ditadura e homenageado no evento. “Só fui conhecer a amizade, o companheirismo dos dois depois que ambos já estavam assassinados”, lamentou.

Ao final da cerimônia houve o descerramento de uma placa em homenagem a Alexandre Vannucchi Leme, com texto que reconhece que o estudante foi morto sob tortura nas dependências do DOI-CODI durante a ditadura e se encerra com a significante frase: “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”.
 

Família de Vladimir Herzog recebe novo atestado de óbito

Durante o evento, a família de Vladimir Herzog recebeu o novo atestado de óbito do jornalista. A causa da morte, que antes era “enforcamento por asfixia mecânica” foi substituída por “lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório nas dependências do segundo Exército DOI-Codi”.

“Que bom que o Brasil tem hoje sua Comissão Nacional da Verdade, que com a coragem esperada por todos teve a determinação de trazer à tona a verdade sobre nossa história”, reconheceu Ivo Herzog, filho de Vlado.

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