ISSN 2359-5191

22/05/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 22 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
Pesquisador mostra desilusão de Graciliano Ramos com a sua geração
No segundo Café Acadêmico promovido pelo IEB, professor analiza manuscrito de Graciliano Ramos que retrata a desesperança do romancista com obras produzidas pelos escritores da década de 1930

O segundo Café Acadêmico da série Uma Obra, Um Autor, realizado pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), foi conduzido pelo professor de Letras da Universidade de São Paulo, Erwin Torralbo Gimenez, tendo o título de Graciliano Ramos e as inflexões do romance em 30. Para o evento, ele escolheu um manuscrito sem data do romancista, em que a limpidez de raciocínio do autor é substituído por um fluxo de pensamentos amargos que refletem a desilusão do romancista com o fazer literário de sua geração.

De acordo com o professor, um Antônio Candido em início de carreira afirmou que os romancistas da década de 30 tinham se “desburguesado”, descido de classe social. De herdeiros da oligarquia, passaram a funcionários públicos. Isso lhes deu uma visão crítica mais próxima da realidade da população brasileira. Além desse aprimoramento crítico, também se apontam outros fatores para a originalidade e qualidade da produção da geração de Graciliano Ramos: esteticamente, eles se orientavam pelos avanços da Semana de Arte Moderna de 1922, trazendo a seus tópicos um apego maior à realidade. Politicamente, se beneficiaram da multiplicação de vozes proporcionada pela Revolução de 1930. E o aumento ocorrido no público leitor completou o triângulo favorável para a literatura produzida nessa época.

Entretanto, por volta de 1936, essa conjuntura se desfez. Graciliano Ramos, preso por um período pela ditadura de Getúlio Vargas, viu o presidente empreender uma caça aos comunistas. O professor Erwin Torralbo acredita que a produção do manuscrito tenha se dado em algum momento desse período. O documento escolhido é representativo do “desengano, desconserto e da falta de caminho de Graciliano Ramos”. A caligrafia do romancista passa por variações no decorrer das páginas. Marcas de um copo de aguardente mancham o documento, mostrando que o texto foi escrito sob a influência do álcool.

Graciliano Ramos estava desiludido com a sua geração, acreditando que o que eles produziram cairia no esquecimento.  Ele temia um retrocesso que os levaria de volta ao nível da literatura produzida por Coelho Neto, escritor que foi combatido pelos modernista de 22 e acabou em um certo “ostracismo intelectual”. Ramos tinha a preocupação de o que foi produzido em 30 não sobrevivesse para a próxima geração. Entretanto, Gimenez faz questão de frisar que o texto era de um pessimista lúcido.

Graciliano estava em busca de uma voz. No manuscrito, tempos verbais se misturam, algo que Graciliano nunca fazia. O que o professor comenta não ser um erro gramatical, mas o reflexo de um “pensamento errante” por parte do escritor.

Vidas Secas foi o último romance publicado por Graciliano Ramos após a sua desilusão. O professor comenta que essa obra é “estruturalmente incomparável”. Desmontável, as vozes do narrador e das suas personagens não se misturam. A divisão anterior entre romances “espirituais” e “sociais” é derrubada. O intelectual João Condé tinha como um passatempo obrigar seus amigos a lhe contarem o processo de criação de suas obras. Foi exatamente o que ele fez com Graciliano Ramos e o seu Vidas Secas. O romancista contou que o livro foi uma forma de responder ao jornalista Otávio Faria, que escreveu que o sertão, como fonte de material para a literatura, estava esgotado. Com o seu romance, Ramos pretendia provar que Vidas Secas, “sem paisagens, sem diálogos e sem amor”, em contraste com obras que, ao tratar do sertão, traziam uma natureza exagerada e sertanejos caricaturais, tinha pelo menos isso de original.

Após isso, o professor concluiu, Graciliano se refugiou na única voz que ainda se dava à resistência na primeira pessoa: a dele. E então passou a narrar as suas memórias.

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