O Instituto de Psicologia organizou um debate com o intuito de explicar o panorama da proposta de desvinculação do HU, além das consequências que viriam com sua possível realização. Para isso, contou-se com a presença do professor João Sebastião dos Santos, autor do estudo que levou à proposta do reitor, e da professora Laura Camargo Macruz Feuerverker, que é contrária à medida. As falas avulsas tanto dos palestrantes quanto da plateia se propuseram a explicar as questões centrais do evento. A dicussão e sua dinâmica tensa, todavia, acabaram sendo mais esclarecedoras ainda, explicitando as reações que a proposta e a administração da universidade têm gerado entre a comunidade uspiana.

O estudo que levou Zago a optar pela desvinculação foi exposto à comunidade do IP no debate, na quarta-feira, 24/09. Ele consiste em comparações quantitativas entre os gastos e o aproveitamento acadêmico e social do Hospital Universitário e os do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCFMRP/USP) e de hospitais estaduais. Através desses dados, a ideia do professor Santos era mostrar que a administração do HU não tem condições de permanecer inalterada, diante da atual crise da USP. De acordo com ele, o hospital escola teria de ampliar suas ligações com o Sistema Único de Saúde (SUS) e com a Secretaria de Saúde do Estado para conseguir superar situações como custos proporcionalmente altíssimos com um retorno quantitativamente inferior ao dos outros hospitais analisados em sua pesquisa.

Os dados apresentados por quem faz parte do dia-a-dia do Hospital Universitário, no entanto, apontavam para uma realidade diferente. E é desse lado que se encontra Laura Camargo Macruz Feuerverker, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP. Enquanto o professor Santos apresentou seus argumentos através de números e gráficos, o domínio empírico embasou a fala dos trabalhadores. Já para a professora, a origem dessas noções tem a ver com os estudos que ela desenvolve sobre a gestão do SUS e de hospitais universitários. Em sua fala, ela enfatizou a perda de autonomia e o prejuízo à dinâmica de aprendizado que se daria, caso, conforme sugerido no estudo do professor Santos, o HU fosse vinculado ao Hospital das Clínicas da USP. De acordo com a professora, a estrutura de poder do HC, vinculada aos interesses da Faculdade de Medicina da USP, prejudicaria a atuação dos estudantes de outros cursos da área da saúde no HU - sendo a psicologia diretamente afetada nesse cenário.

A continuação do debate, com aumento da participação da plateia, trouxe ainda pontos relevantes para quem quer refletir sobre o futuro do hospital que hoje é referência para a saúde do Butantã. Questionou-se a qualidade que o atendimento terá caso o hospital seja vinculado à Secretaria de Saúde, e a diferença que a tomada dessa atitude acarretaria, tendo em mente que a folha de pagamento do hospital seguiria sendo responsabilidade da USP.  E é no tom levemente hostil das perguntas e das respostas que se entende as muitas diferenças que ainda existem, entre os gráficos e números da reitoria e a realidade de quem faz parte do dia-a-dia do HU. O hospital vai seguir, pelo visto, trazendo controvérsias.