Colheita da cana-de-açúcar: novas tecnologias

Uma proposta inovadora para aumentar a produtividade da cana-de-açúcar e reduzir custos está sendo desenvolvida no Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas/SP. Trata-se de uma máquina chamada de “Estrutura de Tráfego Controlado” (ETC), desenvolvida para executar todas as operações mecanizadas do ciclo agronômico da cana.

A ETC foi construída de maneira articulada, com tração e direção nas quatro rodas, braços que se recolhem para poderem ser transportados na estrada e frentes de colheita que se posicionam para colher seis linhas de cana, sendo duas de cada vez.

Um dos grandes diferenciais dessa nova máquina está no seu tamanho. Nas colhedoras atuais, a distância entre as rodas é de 1,6 a 2,4 metros, enquanto que na ETC essa distância é de 9 metros. Por ser mais larga, a ETC vai conseguir trafegar por áreas mais íngremes, conseguindo manter-se estável em locais com até 19% de declividade, frente aos 12% que as colhedoras atuais conseguem trafegar sem que ocorra o tombamento. Essa característica permitirá que a cana seja plantada em áreas onde as máquinas atuais não alcançam, aumentando sua produtividade. Outra vantagem está na menor compactação do solo, pois reduz o tráfego  na área plantada.

A primeira versão do equipamento foi concebida para se adaptar à estrutura de mecanização atual. Imagem: CTBE©.

A INOVAÇÃO É NECESSÁRIA

Para o professor Oscar Braunbeck, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Universidade Estadual de Campinas e coordenador do projeto da ETC, a operação de colheita mecanizada como é feita atualmente utiliza basicamente a mesma tecnologia de 50 anos atrás, desenvolvida na Austrália, tendo sofrido apenas algumas adaptações desde sua concepção.

“A perda durante a colheita mecânica nos canaviais hoje está em torno de 10%”, diz o engenheiro agrícola Guilherme Ribeiro Gray, ex-aluno da Feagri e um dos sócios da Agricef, empresa que participa do projeto. Para efeito de comparação, a perda na colheita de grãos é de cerca de 1,5%.

“Para reduzir os danos nos canaviais estamos propondo um princípio diferente do atual”, diz Gray. “Em vez de uma colhedora que tem um divisor para separar as linhas dos canaviais – o que resulta em emaranhamento e quebra da cana – a base da operação proposta é fixar a cana na máquina, depois disso ela é cortada na base, puxada e removida por tração para a parte superior, quando é picada em rebolos (pequenos pedaços) e transferida para o transbordo – veículo de transporte da cana. O separador que fica nas laterais do equipamento é sincronizado com a velocidade de deslocamento da máquina. Ele levanta o colmo (caule) para o mecanismo puxador – com correntes ou esteiras – pegar a cana. A ideia é mexer o mínimo possível com a cana antes de ela ser cortada, para reduzir os danos às soqueiras (raiz que fica na terra para rebrotar) e as perdas no campo”.

O projeto da nova máquina tem como empresa parceira a Jacto, indústria de máquinas agrícolas e veículos elétricos com sede em Pompeia, no interior paulista, e apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no valor de R$ 16 milhões. 

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Fontes: Revista Fapesp; CTBE.

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