O que eu senti no “I Congresso Brasileiro de Engenharia de Biossistemas (CONBEB)”

Texto por: Leonardo Magalhães, Engenheiro de Biossistemas pela FZEA/USP e Mestrando em Engenharia de Sistemas Agrícolas na ESALQ/USP.

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Fonte: Organização I CONBEB.

Em uma primeira vista o título acima pode parecer passional demais. Afinal de contas, falar sobre um Congresso científico com base em sentimentos não é muito usual. Porém, deixando de lado um pouco o caráter impessoal que procuramos colocar nos textos do Portal, procurei colocar aqui a emoção que senti em participar desse evento não mais como um engenheiro em formação, mas sim como um egresso da Engenharia de Biossistemas. De poder visualizar em um evento tantos anos de caminhada dessa profissão que abraçamos como nossa.

Como disse Heráclito de Éfeso: “Ninguém entra no mesmo rio uma segunda vez, pois quando isto acontece já não se é mais o mesmo. Assim como as águas já serão outras”. A Engenharia de Biossistemas já não é mais a mesma de 2009, ano que se iniciou no Brasil. Antes era um curso novo, se iniciando em duas Universidades brasileiras (USP e UFCG), estava ainda contratando professores, procurando definir afinal o que era essa nova área de ensino. Hoje é uma profissão com mais de 60 egressos atuando em empresas das mais diversas áreas, no setor público e privado. Já se expandiu para mais duas Universidades (UNESP e IFSP), possuí cursos de pós-graduação (UFF). Os alunos da Engenharia de Biossistemas já não são mais os mesmos. Hoje são profissionais que trabalham, lideram, produzem ciência. Que realizaram no CONBEB apresentações nas mais diversas áreas: reuso de água, produção orgânica, robótica, melhorias no uso e aspectos do solo, eficiência energética, análise de imagens aplicadas tanto na produção vegetal quanto na animal, bem-estar e muitas outras. Olhando os pôsteres expostos no evento e conversando com os apresentadores dos trabalhos, podemos notar mais ainda como a Engenharia de Biossistemas é diversa, multidisciplinar.

Estar novamente em Tupã me trouxe a felicidade de rever rostos conhecidos. Ver como muitos deles antes eram apenas alunos inseguros acerca de sua escolha profissional e hoje são profissionais já indo para o mercado de trabalho, atuando ativamente nos assuntos relacionados à Engenharia de Biossistemas. Foi muito importante para vermos como temas e ideias que começávamos a discutir muitos anos atrás já são mais do que realidade. A palestra do Eng. Agrônomo Guy Mitsuyuki Tsumanuma atestou isso. Com uma carreira de muitos anos em grandes empresas, como a Monsanto, Guy hoje administra as fazendas de sua família e é mentor de diversas startups de tecnologia do agronegócio.  O uso da internet das coisas, de índices vegetativos, drones, da mineração e análise de dados, todos temas que vemos em aula e que eram apontados como tendencia para a Engenharia de Biossistemas já são aplicados por diversas empresas citadas pelo Guy Mitsuyuki.

Tanto Guy quanto a Profa. Irenilza de Alencar Nääs (que para quem não conhece é uma das idealizadoras da Engenharia de Biossistemas) destacaram a importância cada vez maior no aumento da produtividade no agronegócio. Desde o inicio do curso sempre ouvi que um dos desafios para a Engenharia de Biossistemas era se inserir em uma produção mais eficiente de alimentos. Esse desafio continua aí. O aumento da população mundial, as mudanças nos padrões de consumo, o aquecimento global e suas consequências para a agricultura lançam os engenheiros de biossistemas em desafios cada vez maiores.

Em 2011, o Prof. Sérgio Mascarenhas (um dos maiores cientistas do País), realizou uma palestra na FZEA em Pirassununga. Mascarenhas defende que o nosso Mundo esta se tornando cada vez mais complexo (veja mais aqui) e para enfrentar essa complexidade só uma nova Engenharia faria sentido. Essa Engenharia seria multidisciplinar, passível de relacionar fatos distantes (como física nuclear e produção de alimentos, por exemplo) e que se aplique em problemas de muitas variáveis. Participar do CONBEB me fez lembrar dessa palestra e de como a Engenharia de Biossistemas (apesar de não ser a Engenharia idealizada pelo Prof. Mascarenhas) caminha para esse sentido, de não ter um enfoque único, mas conseguir abordar problemas mais e mais complexos de uma maneira ampla e interconectada.

O I Congresso de Engenharia de Biossistemas, além de ter sido uma oportunidade de ampliação de conhecimentos, troca de experiências e debates, serviu para me trazer felicidade. Felicidade de visualizar o quanto nossa profissão adquiriu importância dentro do mercado e da ciência nacional. A contratação de nossos colegas por um número cada vez maior e diverso de empresas, a atuação de engenheiros de biossistemas nos mais diversos programas de pós-graduação no País e no exterior, a avaliação cinco estrelas do curso pelo Guia do Estudante são só alguns indícios de que a profissão caminha para um destaque cada vez maior. Mas, como grandes poderes trazem grandes responsabilidades, nós Engenheiros de Biossistemas temos que estar cada vez mais cientes de que devemos tomar mais o protagonismo dentro de todo esse cenário vislumbrado. O momento não é mais de incertezas sobre o futuro, mas sim de união, de realizações, tomarmos a frente e contribuirmos ainda mais com uma agricultura e acima de tudo com um Biossistema mais sustentável, produtivo e vivo. Afinal, Biossistema é um sistema que contém vida. Temos que ser cada vez mais engenheiros que promovam uma vida melhor.

Fonte: Organização I CONBEB.
Fonte: Organização I CONBEB.

Obrigado à UNESP de Tupã, à organização do evento, a cada um que esteve presente. Agradeço pela contribuição que vocês deram à Engenharia de Biossistemas e principalmente pela injeção de alegria de ver tanta evolução na nossa profissão.