Partindo de ponderações não apenas conceituais/reflexivas como também expressivas/literárias, este texto procura tensionar obras de campos distintos. O filosófico - em que o principal alicerce é a racionalidade conceitual - e o artístico em que ganham relevos os aspectos miméticos expressivos. Este entrelaçamento procura desvelar contrapontos entre o conto literário O Espelho, de Guimarães Rosa e as reflexões filosóficas suscitadas na Teoria Estética e na Dialética Negativa de Theodor Adorno. Essas obras, em seus distintos campos e com suas diferentes formalizações, colocam em tensão forças contraditórias. De um lado o esforço persistente do conceito que, mesmo ciente de seu fracasso e da impossibilidade de atingir suas próprias pretensões, procura dizer algo de indizível, explorando os seus limites em direção ao seu oposto, o não conceitual no objeto conceituado. Do outro lado do espelho, como um negativo do movimento do conceito, a narrativa de Rosa explora os aspectos expressivos da palavra de modo a revelar no objeto detalhes opacos ao conhecimento conceitual. No caso especifico, um conto que procura espelhar tanto um ensaio filosófico quanto um experimento empírico, colocando como objeto de análise, a própria imagem no espelho.
Este artigo utiliza a obra de Guimarães Rosa enquanto revelador de conceitos como o de experiência, narração e memória a fim de questionar e provocar o atual estatuto das noções homônimas presentes na psicologia. A partir de passagens do livro “Grande Sertão: Veredas”, procuramos levar a pensar o processo de subjetivação como engendrado pela narratividade, sendo assim um processo coletivo que atravessa as dicotomias presentes nas correntes de pensamento clássicos da psicologia e da semiologia contemporânea.
Através de um processo de criação a que chamamos de “ouvinte invisível”, Rosa transpõe a psicologização da experiência revelando o surgimento de “eus” e “mundos” advindos do próprio contar. A narratividade revelada pela criação literária provoca a possibilidade de uma mudança de paradigma no estatuto da experiência em psicologia. O contar une literatura e pensamento psicológico em uma travessia de todos.
Esse trabalho pretende dar uma nova abordagem ao termo contemporâneo na Literatura, conferindo-lhe um tratamento que vislumbra não sua concepção cronológico-histórica, mas uma mentalidade de desconstrução que emerge com uma série de mudanças e desilusões trazidas pelas fracassadas pretensões da modernidade. Dessa forma, as retinas do presente lerão um Guimarães Rosa contemporâneo e seu conto "Nenhum, Nenhuma" incorporará a condição de crônica intermitente, que evidencia a percepção do autor mineiro para continuidade dos grandes problemas que afligiram a história dos homens. Serão temas recorrentes na reflexão que aqui se trava a situação fragmentada do sujeito contemporâneo e o estiolamento de sua experiência identitária, o apárecimento da figura do outro, do exilado e, sobretudo, o papel da memória na lógica de ser no mundo contemporâneo e na estruturação das peculiaridades desse fazer literário, como, por exemplo, a narrativa arruinada benjaminiana.
O presente texto tem como objetivo analisar a obra Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa, um importante nome da literatura brasileira. O fio condutor desta análise é o conceito de experiência presente no pensamento de Maurice Blanchot e Walter Benjamin. A experiência aparece aqui tanto para compreender o exercício da escrita, enquanto narrativa, como para compreender a relação do ser humano com o mundo. Nesta compreensão buscarse- a pensar a relação possível entre a literatura, filosofia e educação, em um diálogo constante com a própria vida.
Trata-se de investigar o fenômeno da morte em sua relação com a palavra poética no conto “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” de João Guimarães Rosa (1908-1967). O pensador de fundo é Martin Heidegger (1889-1976) cujos escritos sobre a linguagem, datados entre os anos de 1950-58, devem dar o Norte de nossa interpretação.
A hipótese que procuraremos explicitar, justificar e funda- mentar neste artigo é a de que os escritos de João Guimarães Rosa são tramados por fios filosóficos a tal ponto que, neles, não raramente, os limites entre filosofia e literatura esvaem-se. Seus contos são filosóficos na medida em que sempre dão o que pensar, lançam perguntas e escavam as potencialidades e as profundezas da alma humana, o que o conto "O espelho" reflete paradigmaticamente.