Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, e Doutor Fausto, de Thomas Mann, são colocados em uma leitura dialógica orientada por temáticas comuns – a figura do Fausto e do pacto –, mas especialmente por convergências em nível narrativo – o uso da alegoria e a elaboração de metáforas espaciais para a reflexão crítica da história. A um breve comentário dos estudos comparados existentes a respeito dos romances, segue-se a análise dos aspectos mencionados em três exemplos: a presença da tradição do Fausto nos dois romances, os dois pactários Riobaldo e Adrian Leverkühn como alegorias do Brasil e da Alemanha no século XX e as funções narrativas da cidade fictícia de Kaisersaschern e do Liso do Suçuarão.
O presente artigo apresenta um estudo comparativo entre os romances A Montanha Mágica, de Thomas Mann, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Investiga a relação que os respectivos protagonistas mantêm com os espaços naturais representados nas duas obras e a relevância de tal relação para a reflexão ética desenvolvida nos textos.
Este artigo se propõe a analisar o mito fáustico a partir de seu contexto de origem e também sob a ótica dos autores que fizeram uso desse mote. Para tanto, serão utilizadas as obras de Goethe, Machado de Assis, Thomas Mann e João Guimarães Rosa para a intelecção desse processo. Priorizamos no recorte a diferença de contextos de publicação, tanto temporais quanto espaciais, para abalizarmos a maneira como o pacto fáustico assentou-se na literatura ao longo do tempo. As divergências e convergências foram a base para um estudo sobre uma possível relação homológica entre os romances Doutor Fausto e Grande Sertão: Veredas no que concernem aos seus valores simbólicos amalgamados a uma dada realidade social. Outrossim, os teóricos basilares desta pesquisa foram: Watt (1997), Goldman (1967), Candido (2002), Eliade (1999) e Lukács (1965). Cada qual auxiliou na investigação de características individuais das narrativas para, no fim, estabelecer conjecturas sobre o pacto fáustico na literatura como um todo.
O ensaio pretende explanar sobre a travessia de Riobaldo em Grande sertão: veredas, como modelar do herói problemático na concepção proposta por Lukács, em A Teoria do Romance, através do estudo do episódio do (suposto) pacto demoníaco empreendido pelo protagonista da obra de Guimarães Rosa, nas Veredas-Mortas, feito que conduz a trajetória do herói por entre dúvidas e questionamentos, inerentes ao modelo lukacsiano. O estudo da obra rosiana será realizado por meio de análise comparativa com o pacto demoníaco realizado por Fausto, na obra homônima de Goethe, e de trechos de outras obras derivadas do tema do pacto demoníaco, como Dr. Fausto, de Thomas Mann e O mestre e Margarida, de Mikhail Bulgákov.
Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFBA
O presente estudo comparado põe em diálogo as narrativas Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa e A Morte em Veneza de Thomas Mann, a partir das simbólicas travessias dos protagonistas Riobaldo e Aschenbach. As cenas de travessia sintetizam as experiências dramáticas dos protagonistas que aprendem acerca da existência marcada pelo paradoxo e instabilidade assustadora. Considera-se, inicialmente, o modo como cada um dos escritores teceu um imaginário acerca da cultura do outro e como esses trânsitos culturais encontram-se representados em suas literaturas. Partindo das cenas de travessia, destacam-se os aspectos épico-dramáticos em ambas as narrativas e os principais leitmotive e simbologias presentes nas cenas que se desdobram nas aprendizagens existenciais dos protagonistas. O trabalho discute como os dois escritores elaboram seus discursos sob o signo da limiaridade, relacionando as experiências de Riobaldo e Aschenbach com as atuais configurações do conceito de devir propostas por Gilles Deleuze e Félix Guattari.
O objetivo deste estudo é analisar comparativamente o motivo fáustico e a representação do demônio nos romances Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski, e Doutor Fausto, de Thomas Mann. O conto A Igreja do Diabo, de Machado de Assis, também insere-se no estudo. A análise tem por base a tragédia Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe, origem de toda uma tradição que relaciona o demoníaco à insaciabilidade do homem moderno. Aspectos dos respectivos contextos históricos refletidos nas obras também são apontados, assim como diferenças e aproximações entre as experiências dos heróis no que tange ao bem e ao mal e às consequências do pacto com o demônio. Embora universal, tal temática alcança representações peculiares nos autores em estudo, em virtude do estilo e da inventividade de cada um deles e também das condições históricas e culturais diversas.
O presente ensaio tem o objetivo de estudar o exílio nas literaturas de João Guimarães Rosa e de Thomas Mann, a partir da análise de suas produções finais, Tutaméia (Terceiras Estórias), de 1967, e Confissões do Impostor Félix Krull, de 1954, que são, respectivamente, suas últimas criações, consideradas aqui como obras-limite do pensamento dos escritores. Thomas Mann e Guimarães Rosa valem-se da perspectiva mítica com a qual leem o homem, a arte e seus países no Século XX, perturbam as dicotomias dentro/fora, instaurando uma zona de conflito de aproximação/distanciamento entre tempos e lugares, e encontram-se inseridos e apartados das linguagens artísticas de suas épocas, problematizando, por suas situações ambíguas com as vanguardas, o novo, que surge atrelado aos discursos de modernização. É nesse cenário de discussões que os escritores são tratados, no presente estudo, como produtores tardios e exilados que colocam a temporalidade em xeque, interrogam o tempo presente, por meio do deslocamento do código artístico aceito e propagado, e trazem à cena o problema da linguagem.
Objetiva-se analisar o diálogo existente entre Grande sertão: veredas e A Morte em Veneza, na perspectiva dos estudos comparados. Guimarães Rosa apresenta forte relação com a cultura alemã, como se vê em algumas das narrativas de Ave, Palavra, em Grande sertão no qual a cultura alemã é representada pelo episódio do Seo Vupes, nos diários escritos na Alemanha, na Segunda Guerra, quando Rosa foi diplomata neste país, as correspondências com seu tradutor alemão que evidencia o conhecimento do escritor mineiro acerca da língua alemã. Thomas Mann é igualmente marcado pela cultura brasileira, como argumenta Miskolci. A figura da mãe Júlia Mann, brasileira de ascendência portuguesa, aparece na obra de Mann pintada como o elemento estranho, de onde provém o gérmen artístico. Em Dr Fausto, a prostituta de quem Leverkühn contrai a doença, tem seu nome relacionado à borboleta de origem brasileira. Alguns estudos relacionam os dois escritores: Soethe propõe o diálogo entre Grande sertão e a Montan