O texto pretende compreender o processo de metamorfose sofrida pela personagem
Riobaldo na obra Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa a partir das ideias deleuzianas de
Corpo Sem Órgãos – Plano de Imanência, e dos conceitos de devir e multiplicidade. Deleuze
identifica os diversos devires ou os estados intensivos a processos de metamorfoses ou de
variação de multiplicidades. A cada vez ocorrem afetos que determinam no Corpo Sem Órgãos
um “eu” sempre em devir. Tornar-se diabólico, no caso de Riobaldo, significa, então, estar no
limiar da afetabilidade do diabo. Riobaldo adquire qualidades novas e novas relações de
movimento a partir do pacto com o diabo. É esse tornar-se diabólico, então, a metamorfose de
Riobaldo. A relação de Riobaldo com o diabo é uma dessas experimentações onde são
produzidos os atributos do Corpo Sem Órgãos. O pacto de Riobaldo é, então, um devirdiabólico.
Este artigo se propõe a relacionar duas abordagens teóricas produzidas no âmbito do pensamento de três teóricos do século XX. São eles Mikhail Bakhtin, Gilles Deleuze e Felix Guattari, cujas abordagens dão conta da produção do discurso romanesco e da literatura menor em contextos culturais não hegemônicos. Bakhtin concebe o funcionamento do discurso romanesco pelo aproveitamento de uma dicção familiarizada com o menor, com o baixo, com a língua que ecoa na rua e não nos salões ou vozes aristocráticas; já a literatura menor de Gilles Deleuze e Felix Guattari é apresentada como o uso menor e hierarquicamente desprestigiado que uma minoria faz no seio de uma língua reconhecida culturalmente como superior.Da associação proposta aqui resulta a reflexão de que uma literatura produzida em meio não hegemônico se dá pela ativação de uma força linguística resultante do uso da língua que uma minoria faz em uma língua maior; estende-se essa percepção ao modo de realização literária que uma comunidade de produtores pertencentes a um grupo não hegemônico faz frente ao já avaliado criticamente em contextos culturais dados como mais relevantes histórica e culturalmente.
O ensaio aborda o conto O espelho, de Guimarães Rosa, a partir da leitura da obra do pintor britânico Francis Bacon por Gilles Deleuze. Tal como na obra de Bacon, o narrador do conto busca limpar os clichês que envolvem o rosto. Precipitando-se numa série de devires ao longo dessa tarefa, ele nos traça uma estratégia diante da guerra hoje em curso que, como adverte Giorgio Agamben, tem por objeto o controle do rosto, da aparência.
O conto “Meu tio, o Iauretê” (1962), de Guimarães Rosa, problematiza a fronteira entre o homem e o animal, através de uma escrita intensiva, que busca desvelar o animal no humano. Dessa forma, pensar a animalidade em Guima-rães Rosa, significa pensar aquilo que o filósofo francês Gilles Deleuze denominaria “Devir-animal”, conceito presente no texto 1730-Devir- intenso, Devir-animal, Devir-imperceptível..., e que seria da ordem de uma conjugação de um homem com um animal, sendo que nenhum deles se assemelharia ou até mesmo imitaria o outro, ou seja, não seria uma questão de metamorfose, mas de devires, atravessamentos e curto-circuito entre reinos. Nesse sentido, a filosofia de Gilles Deleuze, Jaques Derrida e Georges Bataille servirão como escopo básico para que se reflita sobre a questão do eu e do outro, do homem e do animal, da identidade e da diferença. A problematização dessa questão, através da literatura, visa demonstrar como se dá, na narrativa literária, na linguagem, o questionamento do antropocentrismo, nas palavras de Derrida os “pró-prios do homem”, o que acarretaria na subsunção da potência da vida, pura, imanente.
Esta dissertacao estabelece conexoes entre a producao literaria de Joao Guimaraes Rosa e o projeto filosofico de Gilles Deleuze e Felix Guattari. O trabalho gira em torno de um combate, que passa em nos, em favor da liberacao de uma potencia inconsciente, no contexto de uma experimentacao artistico-vital.
Discutiremos em Gilles Deleuze a idéia de forma de vida a partir de dois personagens na
obra Grande Sertão-Veredas: Riobaldo/Tatarana e Reinaldo/Diadorim. Para isso, Deleuze
nos apresenta os conceitos de hecceidade e individuação. Os dois personagens nos
apresentam na obra, práticas que fogem de uma tradição que estabelece um ethos para a
vida de um bando no sertão, tipificado nos jagunços. Os signos de amor entre Riobaldo e
Diadorim intensificam uma individuação que não se segmenta em homem e mulher, mas
entre corpos livres da forma ou de qualquer “órgão” individualizante. Essa individuação
por afetos não é submetida ao binarismo homem/mulher, mas a praticas de vida que
inventam uma nova maneira de viver. Daí, o conflito se estabelece, pois haverá sempre um
jogo do duplo, de “devires” e de máscaras. Observaremos os conflitos vividos por Riobaldo
que se vê envolvido por um amor transgressor: o amor a Diadorim/Reinaldo: intenso e
independente das normas de uma tradição. Segun
A partir do conceito de devir na obra de Gilles Deleuze e Felix Guattari, principalmente quando relacionado à obra de Franz Kafka, estabelecer pontes com o conto de João Guimarães Rosa, “Meu tio o Iauaretê”. Perceber na literatura o lado do inacabamento, sempre em via de se fazer, os atravessamentos, o entre-meio, o delírio do devir-animal. Observar na escrita a decomposição da língua materna e a recuperação da voz e da força de uma língua menor. Enfrentar o desafio de unir duas altas potências (a filosofia e a literatura) em um outro plano de composição: a imagem.