Este texto busca verificar as formas de construção da nação em Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa, e Deus e o Diabo na terra do sol, de Glauber Rocha. Utilizando autores como Homi Bhabha, Stuart Hall, Walter Mignolo, Veena Das, o texto indaga de que forma esses autores construíram o sertão.
Este artigo realiza uma aproximação crítica entre os universos ficcionais do escritor Guimarães Rosa e do cineasta Glauber Rocha, objetivando demonstrar como a invenção de linguagem em ambos contrapõe-se à tradicional verborragia dos discursos políticos brasileiros.
O artigo pretende estabelecer relações entre as obras de Glauber Rocha e João Guimarães Rosa a partir da reflexão sobre o posicionamento do cineasta em relação à estética do autor mineiro, explicitado sobretudo em Riverão Sussuarana, único romance de Glauber Rocha, no qual Guimarães Rosa é uma personagem. Dessa maneira intenciona-se discutir certos conflitos compartilhados pela literatura e cinema nacionais, como a representação do sertão através de técnicas narrativas avançadas.
Este ensaio visa abordar o "romance" Riverdo Sussuarana, de Glauber
Rocha, em que o autor e Guimaraes Rosa se tomam personagens. A neobarroca
linguagem de excessos que constitui a narrativa apresenta uma escrita de
exceção, ate mesmo uma neografia, ou heterografia, de carater alegorico, como
desafio aortografia e como afirmação autogcifica de uma autoria fantasmag6rica.
A partir da noção de limiar, o presente trabalho analisa as estratégias narrativas do romance Grande sertão: veredas de João Guimarães Rosa e do filme Deus e o diabo na terra do sol de Glauber Rocha, avaliando os efeitos desestabilizadores que essas narrativas-limiar exercem sobre as noções contemporâneas de tempo, espaço e identidade. Utilizando-se do conceito de corte cinematográfico como imagem de pensamento, metáfora do limiar, examina a tensão estabelecida por narradores que se posicionam entre a ordenação verossimilhante de uma narrativa contínua e a errância de uma narrativa elaborada sob a ação subversiva do simulacro, responsável por instaurar o tempo não cronológico, o espaço desterritorializado e a identidade paradoxal. Com o objetivo de melhor refletir sobre essa tensão entre verossimilhança e simulacro, analisa também alguns contos do livro Primeiras estórias de João Guimarães Rosa, o romance PanAmérica de José Agrippino de Paula e os filmes Psicose de Alfred Hichtcock, A Idade da terra e O dragão da maldade contra o santo guerreiro de Glauber Rocha, além de Corra Lola, corra de Tom Tykwer, estabelecendo um diálogo entre as estratégias narrativas dessas obras e as narrativas-limiar de Grande sertão: veredas e Deus e o diabo na terra do sol. Conclui que o caráter movente de uma narrativa-limiar se desenvolve pela ação de desvio do simulacro em processos de desterritorialização que remetem a um agenciamento incessante entre estratégias de codificação e de descodificação sígnicas.
Riverão Sussuarana não é um filme, mas poderia sê-lo. Revê-lo, re-visá-lo, indica que não foi lido o suficiente. Construído em torno do conceito de heuztorya, criado por Glauber Rocha, o romance alia a história pessoal, biográfica, de Rocha à história do país, a partir do tenentismo de 1930. Nesta dissertação apresento a crítica literária produzida à época de seu lançamento, demonstrando que sua recepção assemelhou-se à da produção cinematográfica de Glauber Rocha após a década de 1970: os críticos a desqualificavam como caso de loucura. No primeiro capítulo, abordo como se dá a relação com Guimarães Rosa no texto de Riverão, centrando-me no uso da linguagem. No segundo capítulo, apresento a vinculação com o romance A menina morta, de Cornélio Penna, destacando a polissemia da morte construída em Riverão. No terceiro capítulo, retorno a Guimarães Rosa para explorar a relação Riverão/Zé Bebelo, apresentando o teatro da lei.
A tese investiga as homologias estruturais e temáticas entre as estéticas inauguradas pelo escritor Guimarães Rosa e pelo cineasta Glauber Rocha. O ponto de partida da comparação é um estudo de Riverão Sussuarana, único romance publicado pelo cineasta, no qual Rosa é uma das personagens principais. O trabalho aponta não só fontes, influências e afinidades entre os artistas, como defende que suas obras são fundamentalmente alegóricas e discursos cifrados sobre o contraditório processo de modernização do país. Na primeira parte, analisam-se os conceitos de redemoinho e transe, criados pelos autores e que configuram uma espécie de dialética negativa. A segunda parte concentra-se nas alegorias de Brasília presentes em contos de Primeiras Estórias e no último filme de Glauber, A Idade da Terra. A intenção é desvendar em textos, roteiros e filmes a dimensão da realidade histórica e política do Brasil. Por fim, o trabalho procura mostrar as confluências e divergências de estilos dos autores ao retratarem um país moderno sem modernização.
No estudo da narrativa, a tensão entre os aspectos de verossimilhança e de simulacro é um elemento presente ao longo das discussões tanto no campo da teoria fílmica quanto no da teoria literária. A experiência do cinema como ilusão de movimento e de continuidade fez surgir o embate entre uma montagem que tornasse invisível a descontinuidade elementar do fazer cinematográfico e uma opção pela ostentação desta descontinuidade. No que tange às questões da teoria literária, as primeiras tensões permeiam as discussões filosóficas de Platão e Aristóteles – desde a expulsão dos poetas de uma república ideal, dado o seu caráter subversivo, à reintegração aristotélica, que destaca os benefícios do encadeamento lógico e da representação como verossimilhança para a análise do real. A partir da modernidade, a adoção de estratégias que privilegiam a ênfase na potência do simulacro vai produzir uma mudança nessa relação entre narrativa e mundo, pois novos formatos de real passam a ser considerados, problematizando a perspectiva de representação análoga a um real contínuo e definido. O objetivo deste trabalho é analisar as repercussões narrativas de duas obras representativas destas espécies de rupturas, desta ênfase no simulacro: o conto “Partida do audaz navegante”, integrante do livro Primeiras estórias do escritor mineiro João Guimarães Rosa e o filme A idade da terra do cineasta baiano Glauber Rocha. Buscamos verificar como essas duas produções, instauradas no contexto cultural da modernidade, apresentam narrativas de ênfase no simulacro, cujas estratégias ultrapassam um mero exercício estético, uma mera ruptura formalista, para ajudar a lançar as questões desestabilizadoras das noções unívocas de tempo, espaço e identidade, inquietações tão presentes na discussão da contemporaneidade, ou modernidade tardia, como preferem alguns teóricos, ou pós-modernidade, na classificação de outros.