A literatura, enquanto bem simbólico constitui-se um dos graus mais elevados de expressão cultural de um povo. A atividade literária de um povo expressa-se por meio do seu legado e fornece farto e fértil material para um vasto sistema de trocas e releituras, instigando novos e diversificados olhares. No estudo que vimos realizando percebemos que um dos motivos recorrentes nas narrativas breves de Guimarães Rosa e Manuel Bandeira é a leviandade amorosa. Constatamos que as narrativas Desenredo de Guimarães Rosa e Tragédia Brasileira de Manuel Bandeira, selecionadas para este trabalho, além de serem a expressão criativa de autores brasileiros representantes do estilo Modernista em suas diferentes fases, se comunicam esteticamente com um dos eixos temáticos que estruturam a clássica obra Ilíada, de Homero. Instiga-nos perceber em que medida a memóriadiscursiva que permeia a (re)leitura que as produções fazem do tema, se alicerça em uma confluência entre o clássico e o contemporâneo.
Leitura de aspectos da cultura popular, presentes no processo de construção ficcional de Guimarães Rosa, o “contista de contos críticos”, que confessara: "Não preciso inventar contos, eles vêm até mim”. Pela alquimia da palavra em seu estado primitivo, a fusão do real e ficcional com o obsessiva defesa de que "a legítima literatura deve ser vida". A multiplicação do imaginário rural mineiro na narrativa rosiana, especificamente, em contos de Tutaméia e Ave, Palavra. Historia e estória no cotidiano do povo do sertão mineiro. Pelo jogo da memória narrativa popular, a construção da identidade cultural sertaneja e a recriação do mito: "No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou o tu: por isso ali os anjos ou o diabo ainda manuseiam a língua".
A presença de metáforas náuticas na literatura brasileira é aqui examinada com particular referência a um cenário de sertão. A hipótese é aplicada a uma análise do conto "Desenredo", do livro Tutaméia - Terceiras Estórias, de João Guimarães Rosa.
Jó Joaquim, personagem do conto “Desenrendo”, de Tutameia, pode ser visto como um temulento, cujo destino é constantemente alterado, seja pela operação do “passado – plástico e contraditório rascunho”, seja pelos constantes acontecimentos desviantes de suas metas traçadas. Os desvios de rotas obrigam-no a reinventar a história, ou, dito com Santiago-Sobrinho, que por sua vez o diz com Nietzsche, a incorporar uma “outra verdade, uma verdade não histórica”. Joseph Hillis Miller, em “Derrida’s Destinerrance”, lembra-nos que Derrida fala de “destinerrância” como uma “possibilidade fatal de errar por não se alcançar um objetivo pré-definido temporalmente”, como lembra Sérgio Bellei, “é um destino de tal modo comprometido por errâncias que corre o risco de não atingir jamais seu ponto final”. Tal errância, como dissemos, obriga o personagem a agir contrariamente ao logos, ou, a criar um mythos, racionalizado pela arbitrariedade de um narrador que põe a fábula em ata.
Os estudos sobre a problemática da oralidade vem crescendo no Brasil, exigindo dos pesquisadores o enfrentamento teórico necessário para dar conta, por um lado do seu objeto de estudo e , por outro, para justificar-se no âmbito da academia, onde ainda se encontram resistências ao estudos da literatura oral, que por desconhecimento, quer por preconceitos injustificáveis.
Este trabalho propõe analisar a novela Dão-Lalalão, presente no livro Noites do Sertão, o qual faz parte da obra Corpo de Baile, e o conto Desenredo, presente no livro Tutameia, de João Guimarães Rosa. Nossa proposta é verificar como o tema amoroso se configura nessas narrativas, levando em consideração o contexto histórico e social do sertão. Partindo desses dois elementos, o amor e o sertão, que consideramos fundamentais para compreender a obra do escritor mineiro, este estudo apresenta uma nova chave de leitura, a qual discute o amor inserido no ambiente social e político do sertão, em que o primeiro não pode ser pensado sem o segundo. Nesse sentido, as perguntas que motivam esta pesquisa são: como o amor se manifesta nestas narrativas rosianas, onde, de maneira menos explícita ou mais explícita, há a determinação de ordem social, predominada pelo sistema jagunço? Porque os protagonistas, Jó Joaquim e Soropita, encontram soluções diferentes para lidar com suas relações amorosas, levando em conta que ambos amam mulheres que não correspondem - ou não correspondiam - ao modelo de mulher esperado no sertão? Em outras palavras, buscamos compreender como o amor ocorre neste ambiente histórico específico e quais as implicações para Soropita, protagonista de Dão-Lalalão, que sucumbe ao mal-estar, e para Jó Joaquim, protagonista de Desenredo, que consegue perdoar a mulher que ama e encontrar a felicidade pelo amor.
No cenário pós-moderno, muitas têm sido as mudanças relativas ao homem e ao seu modo de interagir com o que o cerca. Neste sentido, este trabalho analisa como ocorre a fragmentação das relações humanas, especialmente das relações amorosas atuais, verificando quais são as causas, nos textos literários observados, que dão origem a essa fragmentação, a partir da comparação da representação dessa fragmentação nas literaturas contemporâneas de Língua Portuguesa, tanto Africana quanto Brasileira, tendo como corpus elegido as obras de dois autores coetâneos representativos dessas duas literaturas: Mia Couto e Guimarães Rosa. O corpus selecionado para a análise são os contos “O perfume”, de Mia Couto, publicado na obra Estórias Abensonhadas (1994), e “Desenredo” – conto de Guimarães Rosa, presente no livro Tutaméia – Terceiras Estórias (1967). Quanto à análise, nos detemos nas seguintes categorias temáticas comuns nos dois objetos em questão: a crise de identidade do sujeito, o amor (enamoramento) e o sofrimento causado pela decepção amorosa. Sobre as manifestações dos personagens relacionadas às características presentes nessas relações, nos respaldamos no que relatam Bauman (2004) e Alberoni (2010); quanto ao processo de fragmentação da identidade do sujeito no mundo contemporâneo, nos apoiamos no que ressalta Hall (1992). Ainda, sobre o sentimento de sofrimento causado pela decepção amorosa, adotamos os conceitos trazidos por Schopenhauer (1960).
Este trabalho tem como corpus os contos Desenredo e Reminisção , do livro TUTAMÉIA, 1967, de João Guimarães Rosa . Focalizamos, nos dois capítulos que compõem a dissertação, a temática do Amor, sob a ótica do trágico clássico e do trágico como constitutivo da experiência humana. Nosso objetivo é explicar o tratamento que o autor dispensa ao tema, redimensionando o trágico, que se insurge, de modo diferente, na relação amorosa dos protagonistas das duas narrativas analisadas. O título do conto, Desenredo , anuncia uma descomplicação da trama que se instaura sobre a virtualidade de uma tragédia clichê; no entanto, o procedimento paródico da inversão da relação de causalidade revela um outro enredo, que pode estar ocultando a ameaça do trágico. Ao des-enredar uma tragédia clichê, impulsionado pelo amor erótico, a personagem pode estar construindo uma tragédia moderna. Reminisção apresenta o problema de uma relação de tempos diferentes: o tempo da enunciação e um tempo passado que gerencia a ação do protagonista. O discurso irônico do narrador anuncia a vivência de uma situação marcada pela tragicidade, por parte do protagonista, ironicamente sinalizando um processo de ascese da personagem. A metodologia adotada para o tratamento dos contos rosianos caracterizou-se pelo método da descoberta, construído entre o contar e o mostrar do narrador, o dito e o não-dito , texto e ausência de texto : construção dialógica , crítica e poética . Um prefácio e um posfácio articulam-se, na abertura e na finalização do trabalho, como uma introdução e uma conclusão reversiva, relação interativa de textos que se ampliam em complementação circular.
Faculdade de Letras, Departamento de Letras Neolatinas
A pesquisa presente realça as variações das traduções franesas, de 1910 até 2004, de oito contos dos escritores brasileiros Machado de Assis e Guimarães Rosa. A partir de um corpus de oito contos (quatro de cada autor), confrontamos os trabalhos de doze tradutores, de acordo com a metodologia de Berman. Definimos, primeiramente, os problemas encontrados na tradução e na retradução, expondo suas principais teorias na França, do século XVI até os dias de hoje. Em seguida, estudamos as relações literárias França-Brasil e a recepção das obras brasileiras na França, assim como o "horizonte das traduções". Na segunda parte, apresentamos os "sistematismos" da escrita de Machado (a distância para com o realismo e a presença do narrador no texto) e os "intraduzíveis" de Guimarães Rosa (o particular e o universal bem como a língua recriada), mostrando como os tradutores resolveram esses "particularismos". Depois de ter apresentado os primeiros tradutores, que apresentam, geralmente, uma tendência "etnocêntrica" e estão sempre prontos para "naturalizar" a obra, e, em seguida os retradutores, com uma tendência "estrangeirizante" e "literalizante", investigamos, a partir dos textos, os seus "projetos de tradução", suas "éticas", suas "posições tradutivas" e suas "bibliotecas imaginárias". Enfim, comparamos nos dois autores a maneira como os aforismos, as expressões do popular e da loucura são traduzidos. Este trabalho mostra a variedade de tons e sentidos dados a um texto original, na medida em que cada tradutor materializa diferentes sentidos possíveis da obra faz com que ela tenda a ser retraduzida.
Instituto de Psicologia, Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a universalidade do tema da ambivalência ao analisar sob a ótica da psicanálise personagens de alguns contos de Guimarães Rosa. Dois livros da obra de Guimarães Rosa foram analisados: Primeiras Estórias e Tutaméia. Destes, quatro contos foram selecionados para interpretação: Desenredo, Se Eu Seria Personagem, Os Cismos e A Terceira Margem do Rio. Buscou-se apontar o conceito de ambivalência da psicanálise, como sintoma e como fator constituinte do psiquismo. Foi proposta uma reflexão acerca da relação entre psicanálise e literatura. Apontamos temas fundamentais da técnica e da teoria psicanalítica, como luto, transitoriedade e fantasia. Compreendemos como a ambivalência se apresenta nos personagens dos contos selecionados. A metodologia aplicada foi o uso do método psicanalítico para a interpretação de textos, no qual o psicanalista se coloca em uma leitura flutuante, atento às perturbações que a escrita provoca no leitor. Estudos e teorizações da psicanálise freudiana, kleiniana e winnicottiana, e de psicanalistas contemporâneos trouxeram aportes para o estudo da ambivalência e de outras temáticas importantes na análise dos contos. Conclui-se que os personagens dos contos de Guimarães Rosa conseguem retratar esta dinâmica interna do sujeito: ambivalência e constituição psíquica, o que possibilita a universalização da temática e a abertura de novas discussões, por se tratar de uma questão essencial da constituição do sujeito. A compreensão desse sujeito no mundo possibilita novas formas de ajuda a esse sujeito, que é o que fundamentalmente a psicanálise busca: entendimento, possibilidades de elaboração, modificação dos sofrimentos e sintomas.
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