ISSN 2359-5191

21/12/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 22 - Saúde - Instituto de Psicologia
Problemas neurológicos de aprendizagem podem ser contornados

São Paulo (AUN - USP) - Muitas crianças não param quietas, parecem ter “bicho-carpinteiro” no corpo, são distraídas e têm dificuldades na escola. Características como essas foram e continuam sendo sinônimo de “burrice” ou “preguiça” para muitos pais. Mas elas podem ser sinal de que a criança tem algum transtorno ligado a aprendizagem. As crianças que têm qualidades como as descritas no início, por exemplo, podem ser portadoras de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDA-H). O tema foi abordado em uma palestra da psicopedagoga Ana Silvia Figueral Coelho.

Esse transtorno caracteriza-se, principalmente, pela dificuldade de manter a atenção e pela impulsividade, interferindo na vida escolar. Até a 4ª série, os problemas do portador são de comportamento, por não conseguir ficar quieto e se concentrar em uma atividade proposta. O colapso no desenvolvimento começa a partir da 5ª série, quando a grade de matérias aumenta, o ritmo acelera (professores diferentes, classes numerosas, menos atividades lúdicas) e passa-se a exigir mais pensamento abstrato. Outro problema para o portador de TDA-H são as provas, dissertativas, com enunciados que misturam a informação importante a um monte de dados, e cujo tempo é limitado.

Por causa disso, esse aluno começa a ter dificuldades e a enfrentar todas as soluções típicas: recuperação, professores particulares, repetência e até mudança para escolas mais fracas. Tudo isso abala muito a auto-estima dos alunos e dos pais. Segundo Ana Silvia, essas soluções não atuam no problema: todas elas investem na repetição de informações, em repassar novamente o conteúdo, enquanto que o ideal seria dá-lo de uma outra forma. A conseqüência dessa incapacidade do ensino brasileiro de lidar com esses alunos é que 15% a 30% dos portadores não completam o Ensino Médio.

E, no entanto, os portadores têm muitas habilidades que são mal aproveitadas ou sequer são descobertas por essa forma de ensinar. Ana Silvia cita o caso de um paciente de 13 anos, para o qual ela deu uma conta de divisão para fazer, envolvendo muitas dezenas. Ele não conseguiu levar até o fim uma conta com tantos números, mas percebeu algo que a própria psicóloga não percebera: um dos números da conta era formado por vários múltiplos de 2 (2, 4, 6). Assim, ele aproveitou isso e fez uma série de contas mais simples de multiplicação (envolvendo apenas uma dezena), e conseguiu chegar ao resultado.

A psicopedagoga sugere formas de estimular o aprendizado deles, partindo da idéia de que todo aprendente aprende. Para tal, recomenda que as provas sejam orais, pois eles têm facilidade em se comunicar, e podendo dialogar com o professor, vão conseguir “passar” melhor seu conhecimento. Outra idéia é fazê-os usar um processador de texto, para compensar a poluição visual dos cadernos e os erros ortográfico, e passar-lhes informação com o uso de gráficos e esquemas visuais, evitando assim textos longos, que dispersam a atenção.

Os portadores de TDA-H não precisam ser encaminhados para escolas especiais: basta aos pais encontrar um colégio que respeite as diferenças, possua classes pequenas e professores criativos. O tratamento ao transtorno mescla tanto o uso de remédios como a psicoterapia.

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