ISSN 2359-5191

21/12/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 22 - Saúde - Instituto de Psicologia
Palestra liga psicanálise ao futebol

São Paulo (AUN - USP) - A psicanálise geralmente é associada ao tratamento individual em consultório, mas não se resume a isso. O próprio Freud aplicou conceitos de sua teoria em fenômenos sociais, como a arte, por exemplo. Essa foi a proposta do professor Cláudio Bastidas Martinez, na palestra “Tendência Anti-social, perversão e futebol”, na qual ele analisou não só esse esporte, mas o imaginário brasileiro como um todo.

Cláudio baseou-se, principalmente, na teoria de Winnicott, psicanalista inglês, e seus conceitos de tendência anti-social. Segundo o psicanalista, tudo o que leva as pessoas aos presídios e manicômios, têm equivalentes normais na infância. A agressividade está presente já no início da vida. A criança tenta “destruir” a mãe, através de puxões de cabelo, mordidas (atos tão comuns dos bebês). Se a mãe “sobrevive” a esses ataques, sem devolver as agressões, a criança terá encontrado segurança, e se desenvolverá bem.

A tendência anti-social surge na criança que sofre uma privação da mãe. Ela age de maneira a incomodá-la. Por se sentir desprotegida em casa, ela vai buscar apoio na sociedade, na escola, nas instituições. E se esse ambiente oferecer segurança, ela irá testá-lo, com agressividade. A delinqüência, para Winnicott, é a busca por um pai, uma figura amorosa mas rígida, forte, que ofereça segurança e impeça essa criança de cair na loucura.

À luz desses conceitos, o professor Cláudio fez uma análise do povo brasileiro – um povo que não tem tão presente a figura do pai autoritário, daí sendo malandro, aberto, adepto do jeitinho. O futebol, esporte símbolo do país, não é utilitário, disse o professor citando o antropólogo Roberto da Matta. Por isso mesmo, ele é depositário de tantos símbolos – por ser jogo, brincadeira. O ser humano tem necessidade disso, e essa é uma característica nossa muito forte, que foi valorizada pelo psicanalista inglês.

O futebol brasileiro, bem como outras manifestações culturais, é marcado pelo jeitinho, pela criatividade, e até pela transgressão a pequenas regras. Como exemplo, o professor cita a prática do “gato”, ou seja, de falsificar documentos para diminuir a idade, e as faltas que Pelé cometeu e que não foram percebidas pelo juiz. Tudo isso, se visto de forma rígida, poderia ser considerado errado. Mas, se pensarmos nas desigualdades sociais, podemos entender essa forma de agir de forma mais flexível.

Winnicott dizia que a transgressão também estava na criança normal, evitando assim condenar todos os atos do tipo. Assim, a proposta deixada pelo professor foi a de que os estudantes e profissionais da área estudassem todos esses psicanalistas europeus, tendo em mente a realidade brasileira, fazendo pontes e adaptações necessárias entre as duas culturas. Uma análise menos rígida para um povo que sempre foi flexível.

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