ISSN 2359-5191

15/06/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 48 - Meio Ambiente - Escola Politécnica
“Faz mais sentido consumir bioenergia”

São Paulo (AUN - USP) - A 20ª Semana de Cultura Empresarial, promovida pela empresa júnior da Escola Politécnica, terminou na manhã de sexta-feira, 3 de junho, com uma palestra de Eduardo Giuliani, sócio-fundador da Venture Partners do Brasil. Edu, como o próprio empresário pediu para ser chamado, discutiu principalmente o futuro e as dificuldades da bioenergia e fez duras críticas a políticas nacionais.

Edu apontou as diversas vantagens que a bioenergia oferece sobre as principais fontes de energia atuais, em sua maioria derivadas de combustíveis fósseis. Apesar de custarem muito menos por já estarem prontos, enquanto os biocombustíveis precisam ser preparados, os combustíveis fósseis podem custar muito caro para a humanidade no futuro, pois apenas liberam carbono na atmosfera. Já os biocombustíveis, produzidos a partir de plantas que realizam fotossíntese, percorrem todo o ciclo do carbono e neutralizam suas emissões.

Embora estudos que apontem o perigo do aumento do efeito estufa sejam publicados desde a década de 70, quando, de acordo com Edu, “achavam que os cientistas eram loucos”, a mobilização em torno do assunto ganhou força apenas nos anos 90. No cenário atual, o potencial de crescimento da bioenergia, com regulamentação no setor que incentivem seu consumo, é enorme.

Fator decisivo
As vantagens dos biocombustíveis não parecem tão atraentes quando se comparam os preços dos produtos. O custo médio de um barril de petróleo, de acordo com Edu, é de apenas US$ 10, enquanto a mesma quantidade de etanol custa US$ 80. O preço em que o barril é negociado é muito superior ao seu custo real porque o petróleo é imprescindível para a indústria moderna, e os compradores estão dispostos a pagar o preço que os donos oferecerem para comprar a matéria-prima. O crescimento do consumo de biocombustíveis, portanto, está condicionado a preços atraentes e inovações tecnológicas que os tornem tão eficientes quanto os combustíveis fósseis. Outro fator que trava o avanço da ecoenergia é a pressão política dos investidores do petróleo, cujos lucros cairiam conforme a demanda baixasse.

O etanol, produzido em larga escala no Brasil, é o biocombustível mais adequado ao mercado norte-americano de caminhões, pois a maior parte da frota utiliza motores a gasolina que podem ser adaptados. Contudo, os Estados Unidos preferiram não importar o álcool da cana, que fica em segundo no ranking de eficiência, atrás apenas do óleo de palma, e produzir etanol a partir do milho. O resultado foi uma inflação no preço dos alimentos, pois o milho é um ingrediente importante na dieta norte-americana.

No Brasil, a maior parte do etanol é produzida a partir da cana-de-açúcar. Em termos de rendimento, só é menos eficiente do que o derivado de óleo de palma, que não é tão viável economicamente. Um dos problemas que o país enfrenta, de acordo com Edu, é o subaproveitamento de área útil. Muita terra é ocupada com pecuária extensiva, cuja densidade é de apenas uma cabeça de gado por hectare.

Um exemplo que o empresário deu foi o estado do Pará, cuja população rural vive em condições de miséria e sobrevive da extração ilegal de madeira. O governo do Pará contratou a empresa de Edu para realizar um estudo sobre áreas para plantio de cana-de-açúcar. Embora seja proibido plantar cana em áreas da floresta amazônica, há 9 milhões de hectares propícios ao desenvolvimento da planta, com boas vantagens devido à posição geográfica. O governo estadual, entretanto, preferiu não seguir em frente com as plantações para não dar espaço a críticas sobre desmatamento da Amazônia em favor da cana. Entretanto, apontou Edu, a situação atual causa mais impactos ambientais do que uma possível cultura de cana no estado.

O triste panorama nacional
Os estudos de Edu no ramo dos biocombustíveis indicam que o Brasil é um dos melhores países para a produção de biocombustíveis. Há terras e água em abundância, o clima é quente, há um mercado de fornecedores consolidado e a cana-de-açúcar interfere pouco nos alimentos. Como produzir açúcar é financeiramente mais vantajoso do que etanol, Edu aponta que alguém precisa cobrir esses gastos mais altos para incentivar a produção.

A produção e a venda do etanol esbarram em outra condição, ainda mais grave e que compromete todo o país. “O câmbio é um grande problema que temos no Brasil”, diz Edu, que criticou duramente a política cambial de valorização do real. Com uma moeda forte, o produto agrícola brasileiro fica mais interessante para os compradores internacionais. Empresários locais aproveitam a situação e investem ainda mais capital no agronegócio. Ao mesmo tempo, produtos industrializados chegam ao país a preços inferiores. O resultado é conhecido como doença holandesa: a moeda fortalecida impulsiona a produção agrícola e mata a indústria nacional, estagnando o desenvolvimento do país.

Os prejuízos para o Brasil vão além da economia. Ao causar danos à indústria, que representa apenas 11% do PIB nacional, contra 30% dos países industrializados, e priorizar os insumos agrícolas de baixo valor, a economia para de crescer e, consequentemente, a sociedade deixa de se desenvolver. “O PIB, no fundo, é o nível de conhecimento da sociedade por pessoa”, disse Edu, que apontou uma série de problemas sociais que travam ainda mais o crescimento industrial do país.

A miséria em que vivem 50 milhões de brasileiros, por exemplo, afasta investimentos. “Os países escandinavos, por exemplo, erradicaram a pobreza porque, para eles, é motivo de vergonha”, disse Edu. A falta de infraestrutura, as desigualdades sociais, a justiça lenta e a baixa produtividade da indústria nacional também contribuem para esse atraso.

A corrupção, contudo, é condizente com a condição social do Brasil. Edu citou, como exemplo de comparação, a Itália, onde o índice de corrupção é similar ao brasileiro, mas as condições econômicas e sociais são muito melhores. Edu afirmou que, conforme a sociedade brasileira avança, o bom jornalismo atrai mais atenção, desmascara mais crimes e contribui para a melhoria da política nacional. Ele disse que a situação hoje em dia está muito melhor do que há alguns anos, quando escândalos eram revelados e os acusados sequer perdiam o cargo.

O empregado brasileiro, tido como preguiçoso e improdutivo, não pode ser culpado pela condição péssima do setor industrial nacional. Edu comparou o empregado brasileiro ao mexicano, mão-de-obra da indústria norte-americana. Enquanto os dois trabalhadores se encaixam no mesmo perfil de “latino” e não parecem se esforçar para quebrar o estereótipo, o empregador norte-americano faz um planejamento melhor e fornece materiais e equipamentos de maior qualidade, que resultam em mais lucros e mais desenvolvimento. O empresariado brasileiro, aponta Edu, tem grandes dificuldades em aumentar a produtividade de seus negócios, independente do setor.

Nem mesmo a Escola Politécnica, onde Edu se formou em engenharia de produção, foi poupada. O empresário fez mestrado na Harvard Business School, nos Estados Unidos, e disse que, enquanto estudava antes das provas para manter um bom desempenho na Poli, dedicava duas horas de estudo para cada hora de aula na universidade americana. O nível de produtividade era tão superior que Edu disse que os alunos “iam à aula sabendo tudo, pois já haviam estudado, e aproveitavam o momento para tirar dúvidas”.

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