ISSN 2359-5191

11/10/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 95 - Arte e Cultura - Museu de Arte Contemporânea
Intervenções em outdoors e artista fictício são tema de palestra de israelense
Com participação inusitada do público, Yiftah Pelled apresentou sua obra e falou sobre produções relacionadas a sua pesquisa

São Paulo (AUN - USP) - Um convite para que os convidados, no decorrer de sua fala, se dirigissem ao palco e fizessem uma “doação de saliva” sobre folhas de papel que continham o mesmo texto lido pelo palestrante, tudo isso sendo projetado ao vivo em um painel. Foi assim que Yiftah Pelled iniciou sua apresentação no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), na última terça-feira (2), pela série de palestras O MAC encontra os artistas. O artista plástico falou sobre sua obra e projetos relacionados com sua pesquisa, como Delicatessen +00 eMarcelinho Campeche.

Radicado no Brasil desde 1991, o israelense é professor do Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo (DAV-UFES) e atualmente é doutorando na linha de Poéticas Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Desde então, Pelled tem produzido obras que envolvem a participação como forma de performance, buscando intervir nas obras de várias formas, inclusive com a participação do público.

O projeto Estratégias de Performance no Espaço da Publicidade foi o destaque da palestra. Em meio a agradecimentos pelas doações de saliva do público, que provocaram risos, o israelense apresentou a obra, que consiste em registros fotográficos de intervenções em outdoors, realizadas entre 1996 e 1999, em Curitiba e Florianópolis, cidades em que morou durante o período.

As intervenções consistem em frases escritas sobre faixas de papel, nas quais as letras do texto são cobertas com sabão em pó e a saliva do artista misturados, que para Pelled, “sinalizam a digestão da escrita e sua transformação em corpo”. Tudo isso exibido pelo artista, que sobre nu em frente às placas de anúncio e estende as faixas, sem permissão de prefeituras ou órgãos responsáveis. “A situação promove um encontro entre um agente artificial (sabão em pó) e um orgânico (a saliva). Quando eles se encontram, algumas fronteiras formais das palavras são desmanchadas. Como Barthes (2012) sugere, ‘as representações são formações, mas são também deformações’. O ato procura a diluição da minha própria escrita antes de utilizá-la”, afirmou.

Ainda segundo o artista, as mensagens permitem que os outdoors se atualizem e reciclem sua forma de comunicação, escapando de seu processo de envelhecimento. No projeto, as intervenções têm uma duração curta e não deixam rastros, além de não modificarem a imagem exposta. O que acontece é apenas um registro da ação, da aproximação do corpo do artista ao lado da imagem da publicidade. “O objetivo principal das intervenções é tentar relacionar-se com a projeção de poder. Porém, isso não ocorre em termos de substituição da ‘fala do outdoor’ pela ‘fala do artista’. A idéia, com a diluição, é somente formar um campo de tensão entre os discursos”.

Outros trabalhos apresentados no evento foram Delicatessen +00, exibida em Curitiba, na qual o público participava de uma oficina e atribuía valor sobre uma obra originada do vazio de embalagens de papel, High VoltageSuper Performance e Marcelinho Campeche. Este último foi baseado na tese de mestrado da artista Dora Longo-Bahia, na qual ela anunciava o sumiço de um artista fictício, Marcelo do Campo, clara referência ao artista francês Marcel Duchamp, tendo criado toda sua história, seus dados e figuras fictícias suas. A partir da personagem, Pelled criou uma exposição coletiva, na qual os artistas simulavam ter criado obras com Marcelo do Campo.

O ciclo de palestras continua até o fim de novembro, sempre às terças-feiras, às 18 horas, no auditório do Museu. O próximo convidado é o artista carioca Ângelo Venosa, que recentemente realizou a maior mostra individual de sua carreira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A entrada é franca.

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