São Paulo (AUN - USP) - Um novo fenômeno tem chamado a atenção dos brasileiros nesse ano olÃmpico. Daiane dos Santos, forte promessa de medalhas na ginástica olÃmpica, despertou o interesse para a modalidade que pratica. O que poucos percebem, no entanto, é que por trás da atleta há o trabalho de uma bem preparada equipe técnica, sem a qual dificilmente bons resultados seriam alcançados.
O diagnóstico do processo de formação esportiva na ginástica olÃmpica é o objeto de estudo de Myrian Nunomura, professora da EEFE-USP. Em projeto financiado pela Fapesp, ela analisa como a formação do técnico pode influenciar â e muito â no desenvolvimento e desempenho do atleta. No Brasil ainda se dá pouca importância para tal questão. Técnicos mal preparados inibem e desestimulam os praticantes, sobrecarregando-os de responsabilidades e cobranças.
A pedagogia é fator essencial na boa formação do atleta. Métodos de ensino, especialização precoce e processos de aprendizagem são estudados pela professora, que busca em centros de excelência, como clubes e escolas, analisar as diferentes fases de ensino da modalidade.
A ginástica olÃmpica ainda não tem um programa estruturado para formar atletas no paÃs. Esse é um fator que também compromete a qualidade da equipe técnica. Em paÃses como Canadá, Estados Unidos e Austrália, a organização que prevê a formação de atletas profissionais na modalidade já está bastante consolidada. âTemos um respaldo cientÃfico, mas o empirismo ainda é a principal base para o trabalhoâ, afirma Myrian.
Segundo a professora, muitas vezes os técnicos não estão preparados para lidar com questões como o medo e o estresse dos atletas. Como os praticantes da ginástica olÃmpica são mais novos do que aqueles de outras modalidades, com exceção da ginasta Daiane, hoje com 21 anos, a atenção deve ser maior. As crianças têm mais dificuldade de lidar com problemas como a cobrança dos pais, da mÃdia e do próprio técnico. Competir é muito mais do que os resultados. A competição faz parte da formação esportiva, e deve ser encarada como um processo importante, não meramente ganhar ou perder. Tais questões devem ser trabalhadas para não causar traumas, desistências e principalmente nenhum acidente, já que a ginástica olÃmpica envolve potencialmente um risco fÃsico.
Estresse e medo são fatores pedagógicos importantes, que devem ser estudados com cuidado. O técnico deve saber como lidar com essa situação. Quais aspectos pedagógicos podem melhorar a atuação do técnico e, conseqüentemente, o desempenho do atleta são o principal foco de estudo da professora Myrian, que pretende lançar um livro que colabore na boa formação do profissional da ginástica olÃmpica, abordando o medo, a preocupação pré-competitiva e o estresse dos atletas. A partir do momento em que se tem um técnico melhor preparado, uma prática mais saudável é realizada e mais pessoas praticarão a modalidade.