São Paulo (AUN - USP) - O projeto “Luz para Todos” acaba de dar um grande passo em direção a seu objetivo. No início deste mês, foi aprovada a verba para o desenvolvimento de um novo aparelho capaz de gerar energia elétrica a partir de biomassa, isto é, cascas de frutas, restos de madeira. O novo gaseificador é o gerador ideal de eletricidade em comunidades da região norte, que não possuem condições para outros tipos de produção de energia.
O gaseificador gera energia elétrica através da combustão de resíduos agrícolas, como casca de cupuaçu, ouriço da castanha do Pará e cavaco de eucalipto. Uma das grandes vantagens desse gaseificador é sua flexibilidade, nele pode-se usar qualquer tipo de biomassa de pequenas dimensões (entre 1 e 6 cm). Mesmo dependendo de um motor a diesel, o gaseificador diminui em até 80% os materiais tóxicos produzidos.
Uma unidade, instalada na cidade de Aquidabã, a 90 quilômetros de Manaus, já passou por testes locais, mas ainda não está em funcionamento contínuo. O aparelho tem capacidade de produção de 20kW, que sendo usados para iluminação elétrica podem beneficiar até 100 pessoas.
A tecnologia que está sendo avaliada permite o uso de biomassa para geração de energia elétrica. O gás produzido é enviado para um motor diesel sem nenhuma modificação que, acoplado a um gerador, pode gerar energia elétrica. O gaseificador também é capaz de gerar gás combustível, que pode ser usado em processos de aquecimento e secagem. A principal renda dessa comunidade é o cupuaçu, porém eles ainda não usam o caroço para retirar a manteiga porque é necessária sua secagem, e para isso precisam de energia elétrica.
O maior problema na implantação desse sistema em comunidades sem rede energética é o treinamento de técnicos locais para sua operação e manutenção. “O gaseificador não depende de uma pessoa muito especializada, mas é necessário operar e fazer a manutenção dele e de um motor a diesel.”, declarou o engenheiro responsável pelos testes, Ademar Hakuo Ushima. No final do mês de setembro, começará o treinamento de seis a oito moradores da comunidade para colocá-lo em uso.
A tecnologia foi desenvolvida na Índia, onde é utilizada em mais de quarenta comunidades. Os pesquisadores brasileiros já implementaram algumas coisas ao projeto inicial, como a reutilização da água usada no processo. A água que é usada para limpeza do motor recebe produtos tóxicos que não poderiam ser devolvidos à natureza. Segundo o pesquisador, “O projeto indiano não incluía o destino a ser dado para essa água”. Os brasileiros criaram um sistema circular em que a água não sai do motor.
O trabalho no desenvolvimento de um gaseificador brasileiro tem apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Pesquisas) e começará no próximo mês, tem prazo de um ano para ser terminado, testado e instalado em outra comunidade. A idéia é fazer algumas melhorias ao gaseificador para ajustá-lo melhor às condições brasileiras, diminuindo também seu custo.
O Ministério de Minas e Energias aprovou o desenvolvimento desse trabalho e pretende utilizá-lo em seu projeto “Luz para todos”. O engenheiro diz que apesar do custo ser um pouco alto, esta é a melhor solução possível para a região amazônica e o benefício social é imensurável.
O gaseificador foi importado com o apoio da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), por duas instituições: o Cenbio (Centro Nacional de Referência em Biomassa) e o BUN (Biomass Users Network do Brasil). O gaseificador passou por diversos testes no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) durante oito meses, em que resultados satisfatórios foram obtidos.