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por Talita Abrantes
Fotos por Cecília Bastos e Francisco Emolo

arte sobre foto de Cecília Bastos

 

 

Foto crédito: Cecília Bastos
"O importante hoje, amanhã já não vale mais. As pessoas dizem o sim, mas fazem o não", aponta Yves de La Taille , especialista em Psicologia da Moral

 

Foto crédito: Francisco Emolo
"O limite dá estabilidade, contorna o caos que é o mundo", avalia Belinda Mandelbaum, professora do Instituto de Psicologia da USP

 

Foto crédito: Cecília Bastos
"Se tentar protegê-las de tudo, que tipo de pessoa estarei criando?", percebe Aline Moraes da Costa, doutoranda da FAU

 


Em uma sociedade marcada pela ausência de normas estáveis, os pais parecem confusos na hora de educar os filhos. Sem limites claros, qual será o futuro da nova geração? O que fazer para driblar esta sina?

A morte do índio pataxó Galdino dos Santos, em abril de 1997, tornou-se símbolo da indiferença dos jovens educados sem limites morais. Hoje, dez anos depois, o fim de Galdino é um número nas estatísticas e a falta de princípios continua sendo o câncer das novas gerações. Para Yves de La Taille , professor do Instituto de Psicologia e especialista em Psicologia da Moral, o problema não começa na dificuldade dos pais em impor limites, mas no fato de que eles não sabem por onde estes limites passam.

"O importante hoje, amanhã já não vale mais. As pessoas dizem o sim, mas fazem o não", aponta La Taille. "Cada um tem a sua moral, a sua ética." Sem parâmetros nítidos, os pais ficam perdidos. Oscilam entre a urgência em dizer não e as pressões para sempre responder sim. Desconhecem até a sua função na educação dos filhos.

Para completar esse quadro, de acordo com Belinda Mandelbaum, também professora do Instituto de Psicologia e especialista em relações familiares, os ideais do mundo contemporâneo estão mais associados à satisfação dos desejos pessoais do que às noções de direitos e deveres. Com isso, "as famílias ficam divididas entre a necessidade de estabelecer limites e a pressão para que a criança esteja sempre feliz", pondera.

A professora deixa claro que impor limites não significa impedir a criança de exercer a sua autonomia. Ao contrário, para ela, é por meio da consolidação de regras, direitos e deveres, que a criança pode construir a sua subjetividade. "O limite dá estabilidade, contorna o caos que é o mundo", avalia Belinda. A psicóloga da Creche Central do campus da capital, Daniela Tepperman completa: "Regras não produzem traumas, mas organizam".

A arquiteta e doutoranda da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Aline Moraes da Costa, concorda com as especialistas. Mãe da Nina, de dois anos, e da Beatriz, de quatro meses, ela admite que é necessário exercer mais a função de pai que de amigo. "Às vezes é difícil fugir do não e ponto final", confessa. Para ela, mais que tentar impedir traumas, o seu trabalho é ensinar as pequenas a lidar com isso. "Afinal, traumas, frustrações, desafios fazem parte da vida. Se tentar protegê-las de tudo, que tipo de pessoa estarei criando?"

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