Neste artigo, pretendo apontar as diferentes crenças religiosas presentes no livro Grande Sertão: Veredas (1956), de João Guimarães Rosa, apresentadas por meio da narração do protagonista Riobaldo, e como ele conviveu de maneira harmoniosa com essa realidade sincrética. A intenção é demonstrar, sem compromisso teológico ou filosófico, que o romance rosiano nos leva a refletir sobre o hibridismo inerente à essência humana. A proposta é ensaiar uma leitura de como Rosa, neste romance de formação, nos mostra a constituição identitária da fé do herói Riobaldo, um homem sertanejo que transitou com naturalidade entre ditos populares, presságios, preceitos católicos, espíritas e protestantes, algo tão característico da cultura do povo brasileiro.
Dois velhos amigos se encontram no sertão e trocam idéias a respeito da narrativa de Guimarães Rosa: diálogo ou monólogo?; Riobaldo: o narrador entre Deus e o Diabo; o pacto com o leitor; a criação do sertão e a memória; o prazer de narrar; intertextualidade (Dante, Cervantes, Mann...).Palavras-chave: Guimarães Rosa; Sertão; Riobaldo.
Riobaldo, durante três dias, narra a um misterioso ouvinte suas memórias pontilhadas de inquietações. Possivelmente o próprio Guimarães Rosa, que, como Hitchcock, inseria-se às vezes, por diversão, nas histórias. O relato de Grandes Sertões: Veredas, aparentemente confuso, é uma travessia pelo caráter ambíguo do homem, traço barroco na literatura de Rosa. Riobaldo – ele mesmo Guimarães Rosa, um pouco – transforma sua vivência individual na experiência humana universal (“o sertão é o mundo”). Se o sertão é o mundo, se o jagunço é o sertão, se o sertão está em todo lugar, como diz Riobaldo, portanto o jagunço não é somente o homem de Minas, mas o homem do mundo. Em suma, o homem é o mundo. Guimarães Rosa conseguiu conjugar os conflitos do ser humano, projetando a busca do sertanejo para fazê-lo conquistar dimensão universal. Em síntese, escancarando as dúvidas e
certezas do habitante do sertão das Gerais, o escritor acaba mostrando que o homem é o homem, mesmo igual, assinzinho mesmo, no sertão de Minas ou em qualquer outro lugar do mundo.
Este trabalho analisa a obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, partindo da função de seu narrador. Para tanto, embasamo-nos no texto de Walter Benjamim intitulado O narrador, observações sobre a obra de Nikolai Leskow (1983). Entendemos que o discurso de Riobaldo resgata as características definidas por Benjamim como primordiais ao narrador por excelência. Além disso, entendemos que tal elocução, ao mesmo tempo, define o personagem e delineia a sociedade na qual vive.
Este artigo analisa a função do narrador da obra Grande sertão: Veredas de Guimarães Rosa enfocando dois aspectos principais: a ação narrativa como organizadora, afirmadora e reprodutora do universo regional coletivo, ao mesmo tempo, como reveladora e identificadora da individualidade do próprio narrador. Riobaldo apela à memória para narrar e através de suas reminiscências revela-nos quem somos como também revela a si mesmo. Para tanto, utilizamos como suporte teórico os artigos de Walter Benjamin intitulado "O narrador, observações sobre a obra de Nikolai Leskow" e o de Hanna Arendt denominado "Ação".
O presente trabalho tem como objetivo analisar o tempo e o espaço na obra “Grande Sertão: Veredas” de João Guimarães Rosa focalizando a influencia que os mesmos possuem sobre as ações do personagem diante do mundo em que se encontra, mundo este que se apresenta de maneira diferenciada e enigmática, mística e sublime. Sendo uma das obras mais importantes da literatura brasileira “Grande Sertão: Veredas” é exaltada tanto pela linguagem como também pelos seus valores humanos, a diversidade temática, encantos e magia e por seu absoluto poder simbólico. Essa análise será realizada à luz de alguns teóricos como: Mikhail Bakhtin, Antônio Cândido, Paul Ricoeur, Jean- Paul Sartre e Osman Lins.
O presente trabalho procura analisar a travessia empreendida por Riobaldo, no romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, em busca de sua verdadeira identidade. Tomou-se como foco principal somente a questão da transformação do personagem central ao longo da narrativa: do menino em jagunço, de Tatarana em Urutu-Branco e do Chefe em fazendeiro. Como ponto de partida, buscou-se analisar a construção da obra como autobiografia e a função da oralidade como forma narrativa. Como suporte ao relato em primeira pessoa e sua parcialidade do ponto de vista narrativo, buscou-se fazer um panorama do funcionamento e da funcionalidade da memória no processo de construção da identidade de um indivíduo. Ao final, foi feito um cotejo entre as abordagens da memória apresentadas e análises críticas já realizadas sobre a obra, mostrando a transformação de Riobaldo e sua travessia interior.
As reflexões apresentadas neste breve artigo surgiram a partir de uma leitura de duas obras – o Fausto de Goethe e Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa -, leitura que tenta mostrar não tanto os pontos em comum entre os dois textos, mas, sobretudo, as divergências em relação à questão pactária, isto é, as modalidades nas quais os dois protagonistas, Fausto e Riobaldo, realizam o encontro com o diabo, com o “mal”. Na obra do escritor mineiro se evidencia um afastamento dos topoi que caracterizam as obras relativas a esse tema – ao contrário do que ocorre no Fausto de Goethe – e se chega à conclusão de que só “existe é o homem humano”.
Riobaldo é esse jagunço que, além da força e determinação de caráter, tem sensibilidade para se posicionar e assumir tensões e enfrentamentos. Adota uma prática cristã que rejeita a pureza religiosa – que conduz à insolência, à violência e ao isolamento do fundamentalismo – chegando a assumir o ‘sensus infidelium’, o sentido das coisas deste mundo, que os não-crentes podem oferecer aos crentes. O discurso autêntico sobre o Sagrado deve se expor ao questionamento, se submeter às perguntas e buscar respostas.