A partir de uma discussão sobre a morte, o artigo analisa algumas imagens inspiradas na literatura de Guimarães Rosa que estão presentes em outras linguagens artísticas. São apresentadas as leituras dos textos rosianos realizadas pela fotógrafa Maureen Bisilliat e pelos cineastas Marcello Tassara, Roberto Santos e Glauber Rocha.
Esse trabalho busca entender o processar da nação brasileiras nas narrativas fotográficas sobre o sertão. Assim, analisamos as ideias de autores que escreveram sobre a nação moderna e daqueles que laçaram narrativas que propõe a existência de uma nação brasileira a partir da categoria sertão. Primeiramente, trabalhamos com obras da literatura nacional como Os Sertões de Euclides da Cunha e Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa. Posteriormente, abordamos a passagem do sertão literário para a fotografia. Entendemos que a linguagem e o meio fotográfico, por suas características singulares, geram imagens do sertão que diferem do sertão descrito nas páginas da literatura nacional. Buscamos então analisar esse sertão no caso das fotografias de Flávio de Barros em Canudos e da obra fotográfica Sertões: Luz & Trevas de Maureen Bisilliat. Desse modo, lançamos a proposta de análise dos cruzamentos entre o sertão literário, a nação e a fotografia documental.
Cette thèse a été conçue comme une analyse des relations existantes entre la littérature et la photographie. Elle a pour objet d'étude l'oeuvre littéraire Grande Sertão: Veredas (1956) de João Guimarães Rosa, traduite par des photographies de Maureen Bisilliat à partir de l’original de João Guimarães Rosa (1969). Bien que la photographie ait essayé d’interagir avec la littérature dès ses prémices en 1849, ce ne sera qu'avec l'arrivée des mouvements avant-gardistes qu'apparaîtra une plus grande interaction entre les deux arts. Ceci favorisera des questionnements sur le « travail artistique », et ce, pas uniquement pour le domaine de la photographie, mais pour l'Art, en général. L'accent est mis sur cette période de grande interaction, s’appuyant surtout sur l'école surréaliste, considérée comme innovante et pionnière artistique pour son interaction entre ces deux langages. Dans le domaine littéraire, l'étude sur l'interaction avec les écrivains a favorisé une connaissance sommaire de quelques noms qui ont dialogué avec la photographie dans leurs œuvres, écrivains passionnés par la photographie, considérés également comme photographes. Dans cette étude s’opère une traduction intersémiotique, ou une transposition créative. L'image photographique ne sert pas uniquement à illustrer les mots de l'écrivain. Elle dialogue avec le texte et cette construction n'est ni aléatoire ni directe. Le travail démontre que le processus créatif des artistes est similaire, dans la diversité de leur esthétisme. Bien que tous deux expriment leur spécificité, ils partagent des équivalences, qu'elles soient convergentes ou divergentes, transmises grâce à des images métaphoriques de l'ambiance du Sertão et de ses habitants. Dans le dialogue inter-sémiotique construit à partir de A João Guimarães Rosa, le roman Grande Sertão: Veredas a dû être fragmenté en légendes, pour que la photographie puisse explorer à loisir l'univers féminin latent de l’œuvre. Cette féminité est dévoilée progressivement grâce aux théories littéraires émanant de l'ensemble des critiques parues sur le roman. Le reportage-photo fonctionne dès lors que les personnages affleurent dans les images, notamment grâce aux légendes, mais aussi grâce aux éléments silencieux qui jaillissent des clichés, rattachés à l'univers durandien: l'élément féminin présenté dans les images appartient au régime nocturne. Maureen Bisilliat nous laisse croire en la possibilité d'une nouvelle signification de l'oeuvre de Guimarães Rosa, des relations entre la réalité et la fiction, dualité présente depuis le surréalisme, en accord parfait avec l'Imaginaire de Gilbert Durand.
O objetivo deste trabalho é estudar as relações entre os signos textuais e visuais na
construção de uma narrativa do sertão no livro A João Guimarães Rosa (1969) da
fotógrafa Maureen Bisilliat. O livro contém fotografias das paisagens e habitantes do
norte de Minas Gerais acompanhadas de fragmentos do livro Grande Sertão:
veredas de Guimarães Rosa, que atuam como guia para uma ressignificação das
pessoas e locais retratados. Considerando a nação na perspectiva de Stuart Hall
(2001) e Homi Bhabha (1998), como um sistema de representações sociais que
constituem um tecido de múltiplas narrativas e tendo em foco a identidade nacional
brasileira, que tem no sertão uma de suas mais poderosas representações, buscase compreender como a fotografia de Bisilliat interage com os textos de Rosa na
construção de uma narrativa de identidade do sertão. A partir de Philippe Dubois
(2012) e Boris Kossoy (2016), discute-se a fotografia enquanto possuidora de uma
narrativa própria, que em Maureen Bisilliat, contribui para construir uma noção de
identidade sertaneja/nacional. Na análise, os elementos que compõe a narrativa de
sertão em Grande sertão: veredas foram identificados e classificados conforme a
Análise de Conteúdo de Laurence Bardin (2011). Com base na semiótica de Charles
S. Peirce (2010) e no mapa metodológico proposto por Lúcia Santaella (2002)
executou-se a análise dos signos fotográficos em suas dimensões icônicas e, em
posse dos parâmetros estabelecidos pelas análises de conteúdo e semiótica, foi
estabelecida uma relação entre os signos textuais roseanos e os signos
visuais/textuais da obra de Maureen Bisilliat. Observou-se, assim, que a fotógrafa
realiza uma iconização das imagens, a partir dos altos contrastes entre luz e sombra
e do acréscimo do texto de Rosa, que modifica o seu significado. Além disso,
percebeu-se a presença de um discurso sobre o sertão que se assemelha ao
historicamente construído, em que as características negativas deste se relacionam
a seu isolamento e atraso, enquanto as positivas indicam possibilidade da
superação da condição sertaneja.
Esta tese realizou uma análise das relações existentes entre literatura e fotografia, tendo como objeto de estudo a obra literária Grande Sertão: Veredas (1956) de João Guimarães Rosa, traduzida em fotografias de Maureen Bisilliat na obra A João Guimarães Rosa (1969). Apesar de a fotografia ensaiar passos na interação com a literatura desde o seu surgimento em 1849, os movimentos de vanguarda é que propiciaram questionamentos sobre o fazer artístico não só na fotografia, bem como da própria arte em geral. O diálogo entre essas linguagens enfatizou-se sobretudo na escola surrealista, considerada como um marco de inovação e pioneirismo artístico nessa inter-relação. Essa interação propiciou um breve conhecimento de alguns nomes da literatura que dialogaram com a fotografia em suas obras, escritores amantes da fotografia, alguns considerados também fotógrafos. Neste trabalho ocorre uma tradução intersemiótica, ou ainda, uma transposição criativa. A imagem fotográfica não serve apenas para ilustrar as palavras do escritor. Ela dialoga com o texto, e essa construção não se dá de maneira aleatória nem direta. A pesquisa demonstrou que o processo criativo de ambos os artistas é o mesmo na diversidade de suas estéticas. Os dois expressam suas especificidades, mas, ao mesmo tempo, revelam equivalências, seja por convergências ou por divergências, viabilizadas por intermédio de imagens metaforizadas do ambiente sertanejo e em seus habitantes. No romance, foi necessária a fragmentação, em forma de legendas, por parte da fotógrafa para dialogar com as imagens, ao menos num primeiro momento. A feminilidade latente na obra é desvendada através da teoria literária, que apresenta um rica fortuna crítica acerca do feminino em Grande Sertão: Veredas. O ensaio fotográfico é acionado ao tempo que se percebe as personagens aflorando nas imagens literárias em suas legendas, além de diversos elementos que emergem, como as imagens relacionadas com o universo durandiano: o elemento feminino, pertencente ao regime noturno. Maureen Bisilliat faz acreditar na possibilidade de ressignificação da obra rosiana, das relações entre a realidade e a ficção, dualidade tão presente desde o surrealismo, que comunga com o Imaginário de Gilbert Durand.