Analisam-se os procedimentos de enunciação no diálogo que se estabeleceu entre Guimarães Rosa e Günter Lorenz, por ocasião da entrevista realizada no Congresso Internacional de Escritores realizado em Gênova, em 1965, expondo-se o confronto entre duas estratégias discursivas distintas: a da contradição e a do paradoxo, como duas imaginações diferentes de
linguagem.
Estudo da correspondência de João Guimarães Rosa com os tradutores Edoardo Bizzarri, Curt Meyer-Clason e Harriet de Onís. Observase a importância da correspondência para o trabalho da tradução, no sentido de resolver determinados impasses suscitados pela originalidade do material lingüístico a ser traduzido, e para a compreensão do processo criador. Explicita-se como, para Guimarães Rosa, o diálogo epistolar ? o pacto de colaboração ? que se estabelece entre ele e os tradutores é uma oportunidade para a reflexão a posteriori de seu processo, é o momento propício para assumir os erros e para revelar sua ânsia de perfectibilidade.
O texto busca refletir sobre algumas passagens da trajetória artística e intelectual do artista plástico mineiro Arlindo Daibert que antecipam e iluminam aspectos da série G.S.:V, realizada por ele entre 1981 e 1993 como uma tradução plástica do romance de João Guimarães Rosa. O texto trata com especial interesse de duas questões que emergem e se entrecruzam na obra e nas preocupações teóricas do artista — as relações entre a imagem e a escrita e a apropriação crítica das tradições pictóricas e literárias —, buscando compreender como elas marcam o desenvolvimento de sua concepção de desenho como "forma de raciocínio", e de seu trabalho em G.S.:V. como uma espécie de "ensaio plástico" que não se limita ao interior da obra literária, mas explora suas relações com o biográfico e o auto-biográfico, com o dado histórico, com elementos do cotidiano, com referências artísticas e culturais diversas, com a tradição e a contemporaneidade, revelando uma visão da arte como "diário de bordo" em ininterrupto diálogo com a realidade.
O objetivo desse artigo é estudar a expressão do desejo em Grande Sertão: Veredas, percebendo como o escritor nomeia o amor e o descreve em analogia com o espaço do sertão. Para isso, analisaremos dois episódios: o encontro com a "prostitutriz" Nhorinhá, em um lugarejo chamado Aroerinha, e a descoberta do desejo por Diadorim, na Guararavacã do Guaicuí. O texto encerra-se com uma análise da imagem-enigma: "O amor? Pássaro que põe ovos de ferro", com o intuito de compreender o processo de elaboração metafórica do tema amoroso.
Mostro como não se pode considerar que João Guimarães Rosa tenha aproveitado diretamente as idéias platônicas, a não ser que se leia Platão com a interpretação de phármakon de Derrida. Falo sobre a intercambiabilidade dos sentidos das palavras, através do uso das mesmas em novos contextos, com pequenas variações, aptas a fazer com que seus sentidos originais sofram mudanças permanentes. O segredo (cifra do intervalo), por exemplo, provocador de culpa (morte) — com confissão ou enquanto relato — desvela e revela, sendo fator de conhecimento. O segredo é veneno e remédio. Como o chumbo na cena de Grande Sertão: Veredas, que é remédio ou veneno. Para João Guimarães Rosa, o estilo é a imagem do próprio sistema de escritura, poético, de cuja tensão despontam intuições do universo. Não há uma essência da escrita, nem do conhecimento, não há logos, nem mythos, mas um conhecimento que se constrói passo a passo e que termina no paradoxo do "homem humano", criador e criatura da palavra, da fala e da escrita.