Neste artigo, pretende-se analisar a trajetória do protagonista do conto “São Marcos”, que faz parte da obra Sagarana (1979) de João Guimarães Rosa, sob a perspectiva da descoberta da magia e da poesia. João/José desloca-se do espaço habitado de Calango-Frito em direção ao local distante e solitário do mato para encontrar-se com a natureza e realizar seu rito de passagem. Quanto mais João/José afasta-se desse espaço, mais as descrições ocupam papel relevante na narrativa. O tempo passa a ser percebido pela movimentação do protagonista na natureza e o espaço forma-se lenta e detalhadamente. A descrição deixa de ser um dos elementos da narrativa e passa a ocupar o centro dela, estando impregnada de minúcias que corroboram a interpretação do significado da narrativa e do rito de passagem pelo qual passa o protagonista.
Estratégias de representação cultural da velhice formam nosso foco analítico de três contos de Sagarana, de Guimarães Rosa: O burrinho pedrês, São Marcos e A hora e a vez de Augusto Matraga. Este universo ficcional está vinculado à produção cultural, observada como extensão criativa e crítica da sociedade que lhe funciona como base e fornece elementos múltiplos e heterogêneos para a produção de identidades transversais.
O presente artigo resulta de um estudo sobre a construção e o aprendizado do olhar na obra de João Guimarães Rosa, ou melhor, sobre a maneira como o autor questiona, através de seus personagens, a visão mecânica ou estereotipada de mundo, associando o gesto de olhar com o desejo de aprender. A abordagem é intertextual, pois contempla, além de duas narrativas de Guimarães Rosa, o Mito de Narciso, e a Tragédia de Sófocles, Édipo Rei. Em termos teóricos, este é um estudo hermenêutico,cujo ponto de partida é sempre o texto rosiano, a expressão de seus personagens e o seu modo de relacionar-se com o mundo. O texto é fruto de uma pesquisa que contempla a educação pelo olhar, e mostra como esta ocorre na obra de um autor como Guimarães Rosa, que construiu narrativas em que os personagens têm percepções e visões de mundo bastante específicas. É o que mostraremos a seguir.
Este artigo tem por objeto dois contos do livro Sagarana, o primeiro é São Marcos, e o segundo, Corpo Fechado. Nosso objetivo é analisar o imaginário afro-brasileiro de João Guimarães Rosa, mineiro do sertão de Cordisburgo. Na análise das obras, serão utilizados os referenciais teóricos que dizem respeito às estruturas do imaginário, às conceituações de magia brasileira nas ambiências dialógicas entre o dito e o feito, mas também na tradição histórica da temática de ritual e feitiço a partir dos clássicos, Claude Lévi-Strauss e Marcel Mauss, assim como os contemporâneos Bronislaw Malinowski e Yvonne Maggie. Nosso desafio é analisar o imaginário afro-brasileiro em seus usos da reza, magia e feitiços, retratados ficcionalmente por Guimarães Rosa nos contos São Marcos e Corpo Fechado, ambos formam um breve retrato de nossa afro-brasilidade, e uma oportuna leitura da cultura e religiosidade popular no sertão mineiro e brasileiro.
Esta tese realiza um estudo na obra de Guimarães Rosa, detendo-se, especificamente sobre três contos no livro Sagarana, que são: São Marcos, A hora e vez de Augusto Matraga e Conversa de bois. Seu objetivo toma como categoria específica de análise, o herói, orientando-se segundo duas abordagens. A primeira tem como fundamento o reconhecimento de uma estrutura formal que sustenta as narrativas populares como matriz textual dos contos selecionados. A figura do herói, animada pela série luta-provação-superação, advinda do universo popular, evidencia o mito como ideia especulativa e filosófica sobre a existência. Na base temática da unidade formal de nossos contos identificamos as variantes da sátira menipeia, que remontam diretamente ao folclore carnavalesco (o tempo coletivo que torna possível a vizinhança das coisas e dos fenômenos de onde nós saímos e para onde voltaremos). A particularidade mais relevante do gênero da menipeia que capturamos em nosso recorte é a criação de situações extraordinárias pelos jogos de oximoros, com o intuito de provocar a experimentação de uma ideia filosófica. O caráter temático dos contos de tipo carnavalesco está por sua vez vinculado estreitamente ao sistema histórico-cultural da vida comum do sertanejo. Assim, a segunda abordagem pretende seguir a lógica cultural e simbólica da estrutura sócio-histórica representada, propiciando um trajeto investigativo que vai do imaginário de um grupo bem definido (crenças, código de honra e vingança) às relações sociais e vice-versa. Nosso percurso analítico em torno da obra Sagarana toma como ideia crítica fundamental a noção de que a arte rosiana desencadeia uma reflexividade em que múltiplas correspondências podem surgir a partir de uma constelação de elementos aparentemente díspares. Nos contos selecionados, dedicamo-nos a estudar como os acontecimentos morais e históricos da vida do sertanejo, constituindo a sua visão de mundo, cruzam-se com o caráter cíclico (tempo mítico) que a obra assume interessadamente, realizando a sua unidade artística.
O presente trabalho concentra-se na análise de como, através dos elementos
narrativos, como narrador, personagens e historia, Guimarães Rosa constrói o tema da justiça em contos de Sagarana. Embora toda a coletânea seja levada em consideração, demos ênfase no estudo de: "O burrinho pedrês", "Duelo", "São Marcos", "Corpo fechado", "Conversa de bois" e "A hora e vez de Augusto Matraga". Percebemos que a justiça construída nos contos tem sempre duas formas de manifestação: a justiça humana e a justiça divina, que rege todos os acontecimentos das histórias.
Programa de Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade - PPGLI
Este trabalho, embasado pelos crescentes estudos das interfaces entre literatura e sagrado, analisa a narrativa “São Marcos”, de João Guimarães Rosa, na perspectiva de rastrear em sua composição a presença de gestos humanos e elementos configuradores das experiências numênicas, determinantes na composição do convívio do homem com a sacralidade. Publicada em Sagarana (2001), a mencionada narrativa, através de um discurso predominantemente composto em primeira pessoa, coloca em questão as metamorfoses do olhar humano desencadeadas pelas experiências místicas que o narrador-personagem vivencia em diferentes momentos de sua trajetória. Sua análise permitiu a apreciação de posicionamentos adotados pelo homem em sua insuperável busca por transcendência, propiciando reflexões sobre os cruzamentos e rejuntes que perfazem as experiências religiosas contemporâneas.
O propósito desta dissertação é apresentar uma leitura de duas narrativas de Sagarana, São Marcos e A hora e vez de Augusto Matraga, como alegorias do fazer literário em G. Rosa. Na primeira, os elementos de feitiçaria, de reza brava e de experiências com a palavra são tomados como alegorias das concepções de linguagem e dos modos como se produzem os fazeres literários. Estas concepções e estes procedimentos passam por vários ensaios de avaliação de sua força produtora de efeitos poéticos e ficcionais, o que faz de São Marcos um laboratório da língua e de seus personagens verdadeiros artífices da palavra. Na segunda, a experiência do homem frente ao seu destino e sua luta contra a dominação e em favor da permanência de sua fama são consideradas como experiências semelhantes às do trabalho com a linguagem contra a domesticação normativa da escrita, o desgaste pelo uso excessivo ou o esquecimento pelo desuso. Assim, neste conto, a ficção encena, como seu efeito alegórico, a recaptura da condição selvagem, primitiva da linguagem. Em ambas, esta leitura tenta colher os elementos de uma poética rosiana, profundamente meditada e pensada no interior de sua própria produção literária.
Este trabalho tem por objetivo o estudo de aspectos da cultura popular e do foco narrativo nos contos O Burrinho Pedrês , A Volta do Marido Pródigo , São Marcos e Corpo Fechado inseridos em Sagarana, livro do escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967) publicado em 1946. Além de uma abordagem teórica do conto, compreendido como gênero ficcional multifacetado, contemplaremos o recorte da representação social enquanto elemento literário e o papel do narrador na legitimação de valores da cultura popular relativos a códigos de honra existentes no âmbito da comunidade rural literariamente representada em cada uma das estórias destacadas. Em relação a este aspecto, tentaremos demonstrar a postura de comprometimento da voz que narra com determinados valores do universo cultural popular enfocado no corpus analisado.
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