Sala 39

Estudo de vacina contra HIV realizado pela Janssen é encerrado

Depois de aproximadamente três anos de testes em nove países, a vacina se provou segura, mas ineficaz

Encerramento do estudo foi anunciado em janeiro deste ano. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Por: Davi Caldas, José Adryan, e Tiemi

Editor: Jean Silva

No dia 18 de janeiro de 2023, a empresa Janssen Farmacêutica anunciou o fim do estudo da vacina mais adiantada do mundo de HIV, que vinha sendo testada desde 2019. O motivo foi a falta de eficácia do imunizante contra o vírus, apesar de comprovada a sua segurança.

Com testes realizados na Argentina, Itália, México, Peru, Polônia, Porto Rico, Espanha, Estados Unidos e também no Brasil, a ineficácia foi constatada após análise dos resultados. Estes demonstraram taxas de contaminação semelhantes entre aqueles que receberam um placebo e aqueles que receberam o imunizante.

Antes do início da terceira fase do projeto as expectativas eram altas. O professor da Faculdade de Medicina da USP, Ricardo Vasconcellos, foi o pesquisador e coordenador desta fase do estudo no Hospital das Clínicas da FMUSP e demonstrou otimismo ao Jornal da USP ao falar sobre o assunto: “A gente nunca esteve tão próximo de uma vacina de prevenção ao HIV realmente interessante para aplicação em larga escala”.

Apesar de promissor, os novos testes confirmaram a sua ineficácia, causando o descontinuação do estudo. A Infectologista Pediátrica e especialista em Vacinação e Medicina de Viagens formada pela USP, Dra. Anne Layze, concedeu uma entrevista ao site SanarMed, em que destacou a principal dificuldade de se criar essa vacina: “O grande problema do vírus HIV é que como um retrovírus, ele tem muitas mudanças genéticas, mutações mesmo, o que dificulta ter um antígeno padrão para todos os casos”.

Além dos problemas biológicos, ainda alerta: “(…)existe na sociedade uma perda do medo na aquisição do HIV. […] No entanto, há uma falácia na banalização da infecção pelo HIV, porque o tratamento (com medicamentos antirretrovirais) é eficaz, mas mesmo assim ele possui efeitos colaterais”.

Tendo em vista os resultados negativos do estudo da Janssen, a infectologista ainda afirma: “É preciso ter muita atenção ao assunto, lembrar que as pessoas podem morrer de HIV. […] Atualmente, graças às medicações, não vemos isso acontecer como no passado. Apesar disso, não podemos deixar acontecer a banalização da infecção”.

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