ISSN 2359-5191

18/04/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 21 - Economia e Política - Escola Politécnica
Abertura de capital das empresas imobiliárias provoca a expansão do setor

São Paulo (AUN - USP) - O Brasil, em especial a cidade de São Paulo, vive um momento de intenso crescimento no setor imobiliário. Praticamente, todos os bairros da metrópole abrigam novos empreendimentos. O principal motivo para esse mercado superaquecido, segundo a professora da Escola Politécnica da USP, Eliane Monetti, é a ampliação do capital das empresas imobiliárias a partir de sua entrada na bolsa de valores. “Elas fizeram o que a gente chama de IPOs (Initial Public Offering): colocaram parte da empresa à venda no mercado de ações e, com isso, captaram muitos recursos”, explicou Eliane.

Ao abrirem seu capital, as empresas adquiriram não só recursos, mas também a responsabilidade de distribuir resultados aos novos acionistas. Essa necessidade levou as empresas a aumentarem consideravelmente sua produção. Esse aumento da capacidade do setor aliado à expansão do seu mercado consumidor, com o aumento dos financiamentos imobiliários, provocou esse fenômeno de crescimento.

Porém, a construção civil brasileira apresenta alguns entraves para a consolidação dessa tendência de expansão do setor. Um dos problemas é a de falta mão-de-obra qualificada em todos os níveis, desde a etapa de incorporação até a de construção. As empresas cresceram, mudaram de escala e passaram a exigir competências que o setor imobiliário brasileiro ainda não consegue oferecer. “Às vezes, decisões pesadas estão nas mãos de pessoas que não têm experiência. Isso preocupa, porque, queira ou não, qualquer empreendimento imobiliário demanda recursos financeiros expressivos”, constatou Eliane.

Prova da defasagem profissional no mercado imobiliário brasileiro é o fato de o Núcleo de Real Estate do Departamento de Construção Civil da USP, do qual Eliane é integrante, ser o único núcleo desse tipo registrado na Capes (Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O Real Estate trabalha com tudo que está ligado, direta ou indiretamente, ao mercado imobiliário. Ele estuda, entre outras coisas, a forma do produto para adequada inserção no mercado, determina os mecanismos de funding (captação de recursos para realização do projeto) e define a administração das empresas e empreendimentos apropriada para cada segmento do setor. Esse grupo não constitui apenas uma linha de pesquisa. Ele acaba sendo também uma consultoria especializada que transfere ao meio produtivo o conhecimento especializado, tentando preencher a lacuna profissional que há no planejamento de negócios imobiliários no Brasil.

Além da falta de mão-de-obra qualificada, a inflação mais acentuada no ramo da construção civil também pode ser apontada como um gargalo do setor. Os fornecedores de insumos não estão conseguindo acompanhar a demanda excessiva do mercado imobiliário. Isso, além de aumentar o custo da construção, pode atrasar o cronograma dos empreendimentos.

Eliane também comentou que, apesar de já ter sido feito muito em relação ao financiamento imobiliário no Brasil, a dificuldade de acesso para o consumidor ainda é um entrave para a construção civil brasileira. Segundo a professora, ainda é preciso trabalhar mais a vertente da taxa de juros. A queda desta permitiria um maior acesso da população ao consumo do produto imobiliário.

A professora ainda esclarece que os créditos oferecidos no Brasil em nada se parecem com o subprime norte-americano, o qual desencadeou a crise que se iniciou no ano passado e se espalhou por vários países. As instituições de financiamento no Brasil trabalham de forma muito mais conservadora que o crédito subprime. Diferente deste, os financiamentos imobiliários no Brasil são concedidos apenas àqueles que provem exaustivamente sua capacidade de cumprir o pagamento da dívida, o que inibe, de certa forma, a ocorrência de igual fenômeno.

A superoferta no mercado imobiliário e os abortos de empreendimentos que já se verificam no setor são indicadores que preocupam e põem em dúvida a durabilidade desse período de crescimento. Segundo Eliane, se as empresas tiverem um bom planejamento e conseguirem responder positivamente ao desajuste entre demanda e oferta, a tendência é a manutenção da expansão do setor. Por outro lado, respostas negativas podem estagnar o mercado.

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