ISSN 2359-5191

14/06/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 34 - Saúde - Faculdade de Medicina
Tese sobre anestesia local e gestante cardiopata será publicada na revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia

São Paulo (AUN - USP) - A tese de doutorado da professora Itamara Lucia Itagiba Neves, cirurgiã-dentista assistente da Unidade de Odontologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, está para ser publicada na revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia, um veículo que trabalha com artigos originais, de grande relevância e contribuição científica para o conhecimento da área.

A tese, defendida em fevereiro de 2007, trata da existência ou não dos riscos para a mulher gestante e para o bebê quando a mãe necessita se submeter à determinada intervenção odontológica e para isso recebe solução anestésica. Segundo a cirurgiã-dentista Itamara, existem poucos estudos envolvendo mulheres gestantes, tanto na cardiologia quanto na odontologia. No entanto existe a preocupação de ambos os profissionais – e, claro, das pacientes – em relação a haver ou não riscos para a mãe e para o bebê nessas situações de intervenção odontológica.

O questionamento inicial foi: durante a aplicação do anestésico , com e sem vasoconstritor, e durante todo o procedimento odontológico, ocorreriam alterações dos parâmetros de pressão arterial sistêmica (PA) e freqüência cardíaca materna (FC) e fetal (FCF)? Para responder, entre abril de 2004 e janeiro de 2006, foram coletados dados de 31 portadores de cardiopatia reumática entre a 28ª e a 37ª semana de gestação.

Foi feito o monitoramento da PA e da FC da gestante durante 24 horas (com início duas horas antes da consulta odontológica) e da FCF durante o procedimento e 20 minutos antes e depois de sua realização. Para a anestesia foi utilizada a técnica do ligamento periodontal modificada, com equipamento computadorizado The Wand II, que permitiu injetar uma gota a cada 2 ou 3 segundos. Foram utilizados 1,8mL de solução anestésica em todas as pacientes, um grupo recebeu sem vasoconstritor e o outro com epinefrina na diluição 1:100 000.

O estudo permitiu a conclusão de que gestantes portadoras de doença valvar reumática podem receber anestesia com lidocaína 2%, com ou sem epinefrina (1:100 000) sob determinadas condições: a técnica anestésica deve ser lenta e evitar a introdução intravascular da solução, utilizando o recurso de aspiração negativa para verificar se o anestésico está sendo introduzido diretamente em algum vaso; o volume de anestésico deve ser respeitado em função da cardiopatia pré-existente, da classe funcional da paciente (isto é, de acordo com a classificação feita pela Associação de Cardiologia de Nova Iorque que avalia a gravidade da cardiopatia e o quanto limitado o paciente está) e de seu índice de massa corporal.

Através da análise dos resultados do monitoramento, Itamara Neves e sua equipe puderam concluir que a presença ou a ausência da epinefrina não provocou alterações significativas da pressão arterial sistólica ou da diastólica em gestantes valvopatas, que as variações da FC também não mostraram significância (exceto pela redução observada durante o procedimento em ambos os grupos), que extrassístoles ocorridas “parecem ter relação” com a presença da epinefrina na solução anestésica em gestantes que já as apresentavam em número maior que 10/h.

Chegou- se a conclusão ainda de que as variações da FCF e as contrações uterinas observadas ocorreram nos dois grupos sem significância e sem repercussões sobre o feto e que os recursos utilizados para minimizar a ansiedade, expectativa e dor relacionadas ao procedimento permitiram avaliar os parâmetros propostos. Nesse ponto, Itamara ressalta a importância da relação de confiança profissional-paciente e a orientação clara dada à gestante. Além disso, concluiu-se também que a ausência de epinefrina na solução anestésica permitiu a realização do procedimento restaurador em todas as pacientes desse grupo. Em relação a isso, ela afirma a importância do estudo, uma vez que existe um paradigma na odontologia de que não é possível realizar procedimento sem a presença do vasoconstritor na solução anestésica. Isso porque ele tem rápida absorção e necessita a aplicação de mais anestésico para evitar a dor. O estudo concluiu que o vasoconstritor tem indicações de uso em odontologia, no entanto no que se refere a portadores de cardiopatia deve ter seu uso limitado ao necessário e à aplicação de 3,6mL de solução anestésica contendo epinefrina 1:100 000 por consulta.

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