Entrevista com Jéssica Tâmbalo, embaixadora do Thought For Food

Jéssica e o grupo "FOOD FOREST" que participará do projeto esse ano.
Jéssica e o grupo “FOOD FOREST” que participará do projeto esse ano.

Você sabe o que é o desafio Thought For Food? Esse evento é mais que um desafio, é um movimento que busca ideias para melhorar o acesso da população mundial aos alimentos. Até 2050, a população mundial chegará ao número de 9 bilhões de terráqueos. Toda essa gente precisa se alimentar, com segurança e qualidade. E como vencer esse desafio? É isso que o Thought For Food propõe, que os participantes desenvolvam ideias no sentido de dar mais segurança alimentar para a população Mundial. E para conhecermos mais sobre esse desafio, conversaremos com a Jéssica Tâmbalo, que foi uma das escolhidas como embaixadora do desafio no Brasil.

1- Conte-nos um pouco sobre sua formação.
Estou no 4° ano de engenharia agronômica, e já passei por alguns estágios dentro da ESALQ (melhoramento genético, SIPOC, GEPEMA, trainee da EJC).

2- Como você descobriu sobre o Thought For Food? E como decidiu participar?
Foi uma colega minha que descobriu, a Sabrina Della Bruna, quando fazíamos estágio juntas no melhoramento genético. Estávamos meio paradas nas atividades rotineiras da pesquisa e junto com mais um aluno da graduação e duas alunas da pós-graduação decidimos participar do TFF. Nós recebemos um e-mail institucional da ESALQ sobre o evento. Decidimos participar para realizarmos alguma atividade diferente da habitual e para tentar ganhar algum premio ou alguma coisa com a tese de doutorado de uma das alunas da pós.

3- Quando você se inscreveu do desafio, qual era o projeto que você participava?

Nós participamos com a tese de doutorado de uma das alunas da pós, era sobre o “Melhoramento da soja resistentes ao complexo de percevejo”,  ou seja, a intenção era melhorar essa soja para diminuir as perdas relacionada a essa praga (percevejo), ao mesmo tempo encontrar uma soja que fosse resistente e produtiva. Isso levava a diminuição da aplicação de defensivos agrícolas, o que diminui a utilização de água, perdas de grãos, barateando a soja e sendo usada como fonte de alimento tanto para humanos quanto para animais por um custo menor, o que poderia reduzir a fome no mundo. Por causa do acesso que as pessoas teriam a esse alimento. Basicamente, foi esse o projeto.

4- Como o desafio funciona? (etapas, formas de inscrição etc.)
O desafio é voltado para alunos da graduação e da pós-graduação. Os alunos devem se inscrever no site tffchallenge.com e submeter um projeto que irá responder a pergunta: “como alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050?”. Podem ser inscritos até 5 alunos de qualquer universidade, semestre e país. O projeto pode ser um produto, um processo, qualquer coisa que você acha que ajudará a alimentar todas essas pessoas. Por exemplo, um dos finalistas apresentou um projeto de osmose reversa mais barato e simples, dando acesso a água à muitas pessoas. Outro criou um aplicativo como se fosse o Tinder para agricultores, funciona assim: uma pessoa sabe carpir e ela cobra X, o agricultor precisa de uma pessoa para carpir um lote, eles vão ter isso em comum, dai o app vai dar match nos dois. Isso barateia o custo de contratação do agricultor (que muitas vezes precisa de pessoas para trabalhar sazonalmente), diminui custo, o tempo, etc. Esse era mais voltado para zonas rurais dos EUA, mas pode ser adaptado.
Dentro do site eles tem uma plataforma que chama Desing Lab que ajudará a encaminhar o projeto, fará pensar e desenvolver protótipos do seu projeto, para você pensar em uma forma de viabilizar o produto/processo. Muitas vezes os grupos se perdem no meio do caminho e ficam sem foco, o desing lab ajuda nesse quesito.
Eles tem algumas tarefas para cumprir que irão contabilizar como interesse, desenvoltura. Não só o projeto é avaliado, mas o desempenho do grupo também.
Dentro do site eles explicam os critérios que serão avaliados, quem são os juízes e tudo mais.

5- Como foi ser escolhida embaixadora do desafio no Brasil? Você se surpreendeu com a escolha? E como tem sido agora sua agenda de divulgação?
Foi uma surpresa na verdade. Quando participei como grupo, nós não fomos selecionados como finalistas, ai pensamos: “Ah, tudo bem. Nós tentamos” e depois nem pensamos mais nisso. Até que no dia 15 de janeiro de 2015 nós recebemos um e-mail no qual fomos convidados a participar da Global Summit TFF em Lisboa com tudo pago. Aceitamos na hora! Fomos e quando voltamos recebemos o convite para ser embaixadores no Brasil. Do meu grupo apenas eu fui convidada a participar da Global Summit em Zurique nesse ano.
Desde o ano passado eu trabalho divulgando o desafio dentro da ESALQ e das universidades no qual eu tenho contato. Eu converso com grupos de estágios, grupos de estudos, com o máximo de pessoas que posso para falar sobre o desafio. Coloco posteres nas universidades, compartilho em grupos de whatsapp e facebook. Infelizmente, não recebo nenhum tipo de recurso financeiro para sair para outras regiões para divulgar, e como eu não posso pagar eu tento dar o meu melhor na ESALQ. Eu participei de alguns eventos no qual eu tive a oportunidade de conversar com mais pessoas sobre o TFF. Mando e-mails institucionais. Tenho o apoio dos embaixadores de outros países e daqui do Brasil também, estamos espalhados no RS, MG e SP.
Os embaixadores do TFF tem uma plataforma online em que temos algumas tarefas para cumprir, isso facilita e nos dá foco para a divulgação e auxilio aos grupos participantes. O papel dos embaixadores também é de auxiliar os novos grupos da forma que eles precisarem.

6- A segurança alimentar, junto com a desigualdade social, deve ser o maior problema para os próximos anos tendo em vista o crescimento populacional. Em sua opinião pessoal quais aspectos devem ser focados para uma maior segurança alimentar no Mundo?
Eu já pensei muito nisso e nesse momento acredito que atitudes/projetos pontuais que visam solucionar problemas de uma comunidade ou região são mais impactantes socialmente e tem maior continuidade, pois neles são considerados aspectos sócio-culturais. A solução da segurança alimentar pode ser interpretada de diversas maneiras, uma delas é a redução do desperdício de alimentos, mas a outra está conectada com as relações culturais. Por exemplo, a África recebe milhares de toneladas de alimentos doados para comunidades selecionadas, ou seja, aquele alimento é dirigido à uma população na quantidade ideal por determinado tempo. As milicias guerrilheiras roubam a carga de caminhões que contem esses alimentos para usar como forma de controle e poder. O que quero dizer com isso é que, as pessoas devem sim pensar no seu produto final como resolução de um problema, mas não parar por ai. Elas devem ver como podem ser inseridos naquela região, como elas podem melhorar o social daquela comunidade, não apenas dar comida e pronto. É todo um conjunto.

7- Quais características você julga mais importantes para participar de um desafio como esse? (Criatividade, boa comunicação, experiência técnica?)
Eu acho que você deve ter um propósito, uma causa e saber aonde quer chegar. Porque nenhuma ideia é óbvia, e muitos projetos são adaptações bem melhoradas de alguma coisa que já existe, por um custo menor, mais sustentável. O que é óbvio no Brasil, não é óbvio na Asia, na Europa, as realidades são diferentes. Você deve acreditar no que faz. O TFF quer pessoas interessadas em mudar o mundo.

8- Por reunir participantes do Mundo todo, muitas ideias diferentes devem ser apresentadas no desafio. Quais lhe chamaram mais atenção quando você foi à Lisboa?
Eu gostei bastante da ideia do grupo brasileiro Rooty Roofs, que desenvolveu umas caixas que podiam ser feitas facilmente e instaladas em telhados de casas, com a ideia de telhado verde e produção do próprio alimento, que poderia ser trocado com seus vizinhos em áreas urbanas.
Em Zurique eu vi um projeto de fazer miojo com farinha de mandioca, que era um produto de bastante uso e abundante numa região da Ásia. Achei demais. Eu que tenho alergia a glúten seria bastante beneficiada.

9- Participar de algo grande como o TFF traz um impacto na vida dos participantes. O desafio mudou algo na sua concepção de carreira por exemplo? 
Sim, o TFF me ajudou a perceber o quanto eu gosto de trabalhar com causas, com empreendedorismo social e como é importante pensar em todos e impactar de alguma forma a vida das pessoas com meu trabalho, isso que importa no final.

10- Para quem se interessou em participar das próximas edições qual seria o seu recado? 
Entrar no desafio de cabeça, realizar as atividades propostas no desing lab e acreditar que aquilo que você está fazendo vai impactar alguém de forma positiva.
Cada projeto é um caso, tudo o que você puder agregar a ele é bem vindo, e multidisciplinaridade também é importante.

E ai Engenheiros de Biossistemas, vamos inscrever ideias? Multidisciplinaridade é o que não falta em nosso curso. Para quem quiser saber mais sobre o desafio acessem: www.tffchallenge.com, ou entrem em contato com a Jéssica pelo email: tambalo.jessica@gmail.com