Este artigo examina as obras de João Guimarães Rosa, Mário de Andrade e João Simões Lopes Neto com o objetivo de verificar em que medida pontos de contato identificados na ficção desses autores promovem rearranjos na série literária brasileira. O estudo parte da noção de tradição literária, tal qual formulada por T. S. Eliot e Jorge Luis Borges, e, em seguida, procura mapear a ocorrência de ressonâncias das principais obras de Mário de Andrade e Simões Lopes Neto na literatura de Guimarães Rosa. Assim procedendo, pretende averiguar como a obra de Guimarães Rosa ressignifica os textos de Mário de Andrade e Simões Lopes Neto, renovando sua legibilidade e modificando sua posição no campo literário.
Esta dissertação investiga narrativas visuais no gênero do design de moda, que contemplam a roupa enquanto matéria ou substância capaz de sustentar a história. A pesquisa é contornada por narrativas de moda concebidas na contemporaneidade, seus componentes visuais proeminentes e os ritmos que se configuram no arranjo da plasticidade da roupa bem como suas manifestações de sentidos. Ronaldo Fraga, designer de moda contemporâneo, é destacado como exemplo nesta dissertação por se tratar de um designer narrativo comprometido com o ato de contar pequenas histórias às avessas, as quais se distinguem pela falta de linearidade. As narrativas concebidas por Ronaldo Fraga e que tangenciam a nossa investigação perpassam pela literatura, imagens de caderno de esboços, roupas e desfiles, além das mãos anônimas de costureiras, rendeiras e bordadeiras que desvelam o processo de criação do designer. As obras literárias, "O turista aprendiz", de Mario de Andrade, e "Grande Sertão Veredas", de Guimarães Rosa, assim como dois personagens retirados do último romance citado, Riobaldo e Diadorim, inspiraram as narrativas de moda das estações verão 2011 e verão 2007, eleitas como o foco de investigação deste trabalho.
In this dissertation, I describe how popular culture was represented in the experimental narratives of 20th Century Brazilian Literature. Taking advantage of their dialogic properties, I study how three experimental novels (Macunaima, Grande Sertao: Veredas and A hora da estrela) incorporate, reproduce, and undermine other discourses referring to the people. In a culture in which literature is commonly read as a resonance box of other kinds of discourses, I foreground how the representations created by these novels differ from other discourses---especially the essay---and cast new light to the notion Brazilian culture.
Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras
Neste trabalho estudamos o livro Os Contos de Belazarte, de Mário de Andrade, publicado em 1934. Nosso primeiro passo foi mostrar o descompasso entre o narrador e o que ele narra. Para isso, iniciamos na origem do narrador (primeiro nas histórias de Pedro Malasartes, depois nas Crônicas de Malazarte, textos do próprio Mário publicados na revista América Brasileira), baseado na tradição oral de contar histórias. Depois, tornou-se importante trabalhar com a história de São Paulo, intrincada na narrativa. Isso foi possível com o estudo da imigração e da tradição italianas da cidade, bem como da modernização, que aparece com inúmeras incoerências e é forjada, principalmente, no trabalho das pessoas do subúrbio. Analisamos também o conjunto da obra: desde as escritas e reescritas do texto até o mapeamento das mudanças de uma edição para outra. Nosso objetivo foi analisar a intenção de conjunto e de organização dos contos, o posicionamento do narrador, as escolhas narrativas, a organização dos contos, enfim, o que faz do livro um projeto estético. Por último, comparamos o conto “Piá não sofre? Sofre.” com outros que seguiam o mesmo tema: o universo infantil. A ideia foi traçar uma linha comparativa entre soluções de representação da infância e de desenvolvimento de narradores de outros contos com a mesma temática de autores como Machado de Assis, Alcântara Machado, Guimarães Rosa e do próprio Mário de Andrade.
As regiões afastadas dos grandes centros urbanos, mais especificamente as do interior de Minas Gerais, encontram-se no cerne do primeiro livro de João Guimarães Rosa, Sagarana (1946). Chama a atenção o modo como Rosa foca tais locais, bem como suas formas de sociabilidade: se a geração de 1930 aborda o interior do país sob seus vieses problemáticos, Guimarães Rosa lança um olhar simpático e afetivo para elementos como o familismo e a informalidade brasileiros, vislumbrando poesia em locais em que avultam precariedades materiais. Elaborando Sagarana num momento em que o atraso do país era interpretado, pela direita e pela esquerda, como resíduo e entrave ao progresso, Guimarães Rosa recua no espaço (para a região) e no tempo (para a Primeira República), desrecalcando a cultura do latifúndio. Esta dissertação busca discutir em que medida o autor mineiro, ao jogar luz sobre as benesses do provincianismo brasileiro, resgata o ideário forjado por nosso primeiro Modernismo e sua interpretação triunfalista do atraso.