O artigo aborda a temática do humor e da alegria em “Tutameia: terceiras estórias” em estreita conexão com o arranjo formal da obra. Matizados pelas sombras da angústia, da dormência e do trágico, ali, ambos os conceitos, alegria e humor, tendem a ser distanciados da compreensão do senso comum, despontando de uma hermenêutica inteiramente atravessada pela consciência do absurdo. Essa visão de mundo intransparente, ambígua, ao mesmo tempo melancólica e venturosa, não está na base apenas da criação da afetividade dos personagens e da atmosfera narrativa, mas, igualmente, da organização formal de toda a obra, fazendo-se notar em sua estrutura lacunosa e em seu ritmo subjetivo, estranho e desconjuntado.
O presente artigo pretende analisar a relevância das estórias contadas (cantadas) em “Campo
Geral”, novela que se encontra em Manuelzão e Miguilim de João Guimarães Rosa, bem como
as opções e soluções tradutórias encontradas por Edoardo Bizzarri ao traduzí-las para a língua
italiana. Para tanto nos basearemos nas reflexões de Steiner (2001) a respeito de alguns
argumentos da Literatura Comparada e em Berman (2007) e Benjamin (1923) no que se refere à
tradução do texto literário enquanto experiência e singularidade, para que assim tenhamos
subsídios para analisar a construção dessas estórias dentro do texto original e no texto traduzido.
Bastante conhecida por seu olhar míope (mas poucas vezes em baçado!), a personagem Miguilim, de "Campo geral", apreende o mundo sobretudo através de seu corpo, isto é, da visão das pequenas coisas, de cheiros, toques e sons. Em nossa leitura da novela, examina remos o fluxo dessa experiência sensória em sua relação com o próprio corpo da linguagem rosiana. Nesse caso, será analisada outra característica fundamental de Miguilim: a sua atividade como contador de estórias. Esta, além de criar sentidos para as percepções sensoriais da personagem, vai se constituindo como um modo de enfrentar os reveses de uma infância ma rcada por dúvidas intensas, pelo medo e pela morte.
O processo de tradução intersemiótica se revela não somente como uma possibilidade de interação e diálogo eterno entre as artes mas também como uma ampliação de signos, imagens e sentidos. A literatura enquanto arte é campo fértil para esse processo de transcriação. Nesse sentido, o nosso artigo objetiva apresentar como ocorre a consubstanciação da literatura em cinema, da obra Campo Geral ou Miguilim, de Guimarães Rosa em Mutum, filme de Sandra Kogut, entendendo tal processo como fundamental para a revelação do olhar prismado do protagonista nesses dois sistemas significantes. Para tanto, utlizamos as teorias de Plaza, Pierce, Jakobson, entre outros pesquisadores da área.
Este trabalho analisa três estudos da fortuna crítica de Guimarães Rosa que tratam da temática
da infância, verificando os principais aspectos de cada uma das pesquisas ao tratar de um tema
comum. Foram lidos e analisados os textos “O motivo infantil na obra de Guimarães Rosa”
(1966), de Henriqueta Lisboa; “A trajetória do menino nas estórias de Guimarães Rosa” (1988),
de Vânia Maria Resende; e “O infantil na escrita de Guimarães Rosa – uma leitura de “As
margens da alegria” e “Os Cimos”’ (1998), de Ana Maria Clark Peres. Sem sobrepor um texto
ao outro, identificamos a abordagem de cada pesquisa sobre a infância em Guimarães Rosa. A
esses três textos, escritos em diferentes décadas, acrescentamos uma nova pesquisa com o
assunto recorrente, buscando confirmar a inquietação dos leitores rosianos em desvendar a
criança e a infância inauguradas em suas obras. Para analisar a infância na obra rosiana,
selecionamos, do livro Corpo de baile (1956), a novela “Campo Geral”, considerada, por
Guimarães Rosa, o próprio germe da infância. Utilizando, como principal fonte, passagens do
livro, procuramos entender o espaço infantil, a personagem Miguilim e identificamos passagens
comuns entre as infâncias da personagem principal, Miguilim, e de seu autor, João Guimarães
Rosa. O objetivo deste estudo, ao percorrer as pistas dos caminhos trilhados pelos críticos de
Guimarães Rosa, foi descobrir as diferentes abordagens realizadas e continuar este trajeto,
permanente e inesgotável, da pesquisa da infância rosiana. A partir de uma leitura dos aspectos
histórico-filosóficos relacionados à criança e à infância, observamos que Guimarães Rosa
elabora mais que personagens infantis, ele constrói um espaço literário para a vivência da
infância, onde podem habitar harmoniosamente todas as idades, constatamos ainda que, mesmo
meio século após o nascimento, a criança rosiana sobrevive, esperando outras leituras e novas
travessias.
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