Ao contrário de uma ideologia civilizadora, muito forte no Brasil, em meados
do século XX, que defendia o avanço irrestrito da modernização e de uma atitude a ela
contrária, que quer preservar as culturas e comunidades tradicionais como peças de
museus, Rosa, em A estória de Lélio e Lina, mostra que o sertanejo é capaz de escolher
seu próprio caminho. Aproveitando-se do legado da tradição e das inovações da
modernidade, Lina irá ensinar a Lélio uma nova maneira de enxergar as relações sociais
e outra postura ético-política.
Ancré sur les théories narratologiques, cet article a pour but de saisir comment, à l’intérieur d’un topos spécifique, le « sertão » du Minas Gerais, marqué essentiellement par le mouvement et par le passage, le jeune protagoniste Lélio, qui clôt la trilogie des trois âges de la vie formée par le premier volume de Corpo de Baile, de João Guimarães Rosa, se permet « une pause » illusoire. En effet, si pause il y a, dans cet univers où tout est parcours géographique, social et humain, elle n’est en fin de compte qu’une étape d’apprentissage vers un nouveau départ, destin auquel est voué tout homme du « sertão ».
O ato de mover-se pelo espaço é marcado por amplos significados que são produzidos por sujeitos para os quais a mobilidade quase sempre representa mais do que um deslocamento físico. Para refletir sobre a produção de sentidos para o deslocamento espacial, propõe-se uma leitura de Corpo de Baile, de João Guimarães Rosa. A imagem central dos “corpos em baile” neste livro remete ao movimento como alternativa de vida, muitas vezes como única opção de sobrevivência, ou como solução que resulta da esperança de mudança de vida no contexto do sertão brasileiro; é também construída por sujeitos em crise, em que a estrada representa seu próprio devir. Este artigo apresenta uma reflexão sobre os mais diversos sentidos produzidos pelos personagens rosianos no que tange a temática da viagem, articulando-os aos conceitos de errância, travessia e peregrinatio. Os personagens das novelas Dão-lalalão (O Devente), Recado do Morro e Estória de Lélio e Lina estimulam uma reflexão sobre o deslocamento como experiência socioespacial e simbólica no contexto do sertão brasileiro. A partir da análise interpretativa das narrativas, o resultado da discussão levantada sugere a viagem como um dos aspectos centrais das estórias e, sobretudo, como condição extremamente arraigada nas relações espaciais e nas noções de ciclos que se sucedem no movimento da vida e da experiência.
O trabalho consiste em analisar o vínculo entre poeticidade, imaginação e memória nas narrativas “Buriti”, “Dão-lalalão – o devente” e “A estória de Lélio e Lina de Guimarães Rosa. Para tanto, toma-se como ponto de partida a presença da imaginação e da memória na constituição dos protagonistas masculinos, respectivamente, Miguel, Soropita e Lélio que, no sertão construído pelo escritor, vivenciam singulares experiências, em especial, nos recônditos da imaginação e da memória, geralmente suscitadas pelos relacionamentos com os pares femininos. Como, nas narrativas selecionadas, o devaneio, a fantasia e a memória são, em geral, apresentados poeticamente, investiga-se a similaridade entre certos processos discursivos oriundos da função poética da linguagem e mecanismos observados naqueles procedimentos. Como essa orientação peculiar dos protagonistas para a imaginação e a memória confere tratamento diferenciado ao espaço e ao tempo, o estudo dessas categorias contempla, primeiramente, os ensaios críticos sobre a obra rosiana em geral e sobre as três novelas em particular. Em segundo lugar, toma-se o instrumental teórico da poesia, no qual cabe destacar os textos basilares de Roman Jakobson “Lingüística e poética” e “À procura da essência da linguagem”. O estudo da imaginação e da memória como elementos atuantes nas personagens encaminha-nos a obras centradas na simbologia do imaginário, como As estruturas antropológicas do imaginário de G. Durand; ancoradas na filosofia, como as de H. Bergson, Matéria e Memória e Ensaio sobre os dados imediatos da consciência; na relação entre a palavra mítica e a linguagem, como Antropologia filosófica e Linguagem e mito; e de fundo psicanalítico, como “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud” de J. Lacan.
Este trabalho consiste na análise da narrativa “A estória de Lélio e Lina” de Guimarães Rosa, centralizando-se na observação da relação existente entre as personagens femininas que entram em contato com o protagonista dessa obra e naquelas que fazem parte da trajetória de Riobaldo em Grande sertão: veredas. A análise da estrutura narrativa é feita centrando-se nos elementos que a aproximam da definição de “narrativa poética”, terminologia proposta por Tadié. Assim, observa-se que a poesia e o mito têm importância fundamental na elaboração artística do autor: o espaço – a fazenda do Pinhém – é, de fato, um espaço mágico e mítico, recuperando o arquétipo do paraíso perdido; o tempo narrativo é cíclico, sugerindo a idéia de um não-tempo, ou tempo primordial, de origem das coisas; o narrador, apesar de exterior à história em questão, sempre segue a visão de Lélio, o protagonista, assumindo características de um eu-lírico. Além disso, é feito um estabelecimento das similaridades entre cada uma das personagens femininas que entra em contato direto com Lélio - Sinhá Linda, Jiní e Rosalina – e aquelas que se relacionam a Riobaldo – Otacília, Nhorinhá e Diadorim. Essa parte da análise tem o objetivo de esclarecer que papéis tais personagens femininas desempenham na busca dos protagonistas e demonstrar que existem similaridades entre a trajetória de Lélio e de Riobaldo.
Instituto de Estudos da Linguagem. Programa de Pós-Graduação em Teoria e História Literária.
Este texto busca estudar os aspectos políticos, históricos e sociais trabalhados por João Guimarães Rosa em "A estória de Lélio e Lina", texto presente em Corpo de Baile. Para isso, se analisará como as palavras e ações de Lina servem para resgatar a ordem de um mundo em transformação. Ao se perceber em pleno encontro do moderno com o tradicional na zona rural de Minas Gerais no final do século XIX e início do XX, Lélio sente-se perdido. Ele precisa de Lina para se situar em meio ao dinamismo da História e poder formular/reformular seu papel enquanto agente e sujeito de sua vida. As referências que o texto faz aos processos de transformação histórica são o objeto da pesquisa. O que insere este trabalho na linha de análise dos componentes históricos e sociais presentes na obra de Rosa e, sem desprezar os outros enfoques analíticos, busca analisar tal obra em meio à cultura e à época em que ela se desenvolveu e ver o que ela tem a dizer a respeito de seu mundo.
O objetivo deste estudo é mostrar como se dá o processo de individuação das personagens de Guimarães Rosa, nos contos Substância, Estória Nº3, A estória do homem do pinguelo, Um moço muito branco, As margens da alegria, Os cimos, A terceira margem do rio, e na novela A estória de Lélio e Lina, sob a perspectiva junguiana. Segundo o psicólogo, o embate com o outro, a relação de alteridade, é condição fundamental para a maturação psicológica do indivíduo. Somente através do confronto com o não-eu, o sujeito pode lograr atingir o seu si-mesmo, ou seja, atingir a máxima expressão de suas potencialidades inerentes. Demonstrarei como, nas narrativas citadas, a relação muitas vezes problemática entre opostos é a via de superação dos problemas existenciais vivenciados pelas personagens.
No Urubuquaquá, no Pinhém (1964), de João Guimarães Rosa (1908-1967), é composta de três narrativas:
"Cara-de-Bronze", "O recado do morro" e "A estória de Lélio e Lina". Esta última novela será o objeto de análise do presente trabalho. Centrada no protagonista Lélio de Higino, vaqueiro recém-chegado à fazenda do Pinhém para trabalhar na fazenda de seo Senclér, a trama é marcada por diversas temáticas que se circunscrevem no sertão, entre as quais se destacam o amor (NUNES, 1964), fonte de inquietação para a maioria das personagens e pelo erotismo como forma de supressão daquilo que se gostaria de ter. O último tópico mencionado será o ponto central de análise da novela em questão. Com base na Estética da recepção de H. R. Jauss (1921-1997) quanto à experiência estética do leitor diante do texto literário e nas concepções de Georges Bataille (1897-1962) acerca do erotismo, que se fundamenta na ideia de uma ruptura de fronteiras, em outras palavras, numa transgressão dos limites estabel
Considerando que na cultura patriarcal a "voz" da mulher é, de certa maneira, apagada, este estudo
pretende mostrar, na narrativa de Guimarães Rosa, a voz das personagens femininas, que configuram uma espécie de desarticulação quanto ao patriarcado. Centrando a análise em Jini e nas "tias" Conceição e Tomázia, retrataremos o poder simbólico exercido por essas mulheres, que não mais se submetem ao mando masculino e executam a ação em "A estória de Lélio e Lina". Dessa maneira, o autor pretende dar visibilidade às mulheres excluídas do discurso histórico oficial presente no ambiente sertanejo, alterando a representação comum deste espaço. Segundo Deise Lima, em Encenações do Brasil Rural em Guimarães Rosa (2001), há, na trama rosiana, o espaço de uma fazenda de pecuária do Pinhém, em que o cotidiano se movimenta por meio de uma dialética entre os desejos e frustrações dos vaqueiros, que acabam por buscar na casa das tias, e, no caso de Lélio, também em Jini, uma forma de se evadirem dos
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