A proposta deste trabalho é analisar o tema da viagem no livro Primeiras estórias (1972) de Guimarães Rosa, mais especificamente, nos contos “Pirlimpsiquice”, “Partida do audaz navegante” e “Nenhum, nenhuma”. As versões da peça em "Pirlimpsiquice", bem como as novas modificações da personagem Brejeirinha para a história do audaz navegante, fazem parte da viagem ao mundo da invenção e da liberdade de criação. Em “Nenhum, nenhuma”, o enigma dessa viagem consiste em não se poder precisar se o espaço descrito corresponde a um local visitado pelo Menino ou a visões de um sonho do narrador adulto que tenta unir fios do passado e emoldurar a essência do tempo. O imaginário da criança é descortinado ao criar histórias e a viagem torna-se o adentramento nesse universo infantil. As reflexões estão apoiadas em estudos do narrador e mantêm diálogos com ensaios críticos sobre a obra de Guimarães Rosa.
Este trabalho faz uma análise do conto “A partida do audaz navegante”, de Guimarães Rosa, tendo como fio condutor o universo mágico da infância. O objetivo é refletir sobre a construção do pensamento mágico-poético no discurso do narrador e das personagens crianças; apreender a construção e a desconstrução do universo poético-maravilhoso nessas narrativas rosianas, assim como analisar o vínculo entre a enunciação do narrador e a das personagens infantis, ressaltando o encantamento e o desencantamento. A fundamentação teórica baseia-se em concepções de Roland Barthes sobre a leitura e a escritura. O estudo evidenciou que, em um contexto em que a criança raramente tem sua voz própria, Rosa dilui seu discurso e o seu olhar poético ao do narrador e das personagens, tornando-o quase indissociável do discurso infantil, está intimamente relacionado com experiências mágicas, construídas, por sua vez, em universo poético-maravilhoso.
Guimarães Rosa em Primeiras estórias mostra-se fascinado pela arte dos contadores de estória. A obra de Rosa é publicada em 1962. Manuel Rui, dez anos depois, publica em Angola seu livro de contos, Sim camarada!. Este artigo pretende analisar as estratégias dos narradores-contadores de estórias em "Partida do audaz navegante", de Guimarães Rosa e "O relógio", de Manuel Rui, a partir da descrição de suas performances, produzidas pelos narradores dos contos.
A imagem poética, graças a essa realidade nova que representa, permite ao leitor ver diferentemente, ver outras coisas que a palavra esconde e, nessa diferença, a imagem impõe um reconhecimento e uma representação de mundo mais ampla, exigindo uma disponibilidade e uma abertura que, em última análise, são compartilhadas pelo poeta e seu leitor. Nesse caso, partindo-se do texto “Partida do audaz navegante”, contido em Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, espera-se verificar as diferentes formas de representação poética na narrativa ficcional de Rosa, observando, para tanto, os elementos e estruturas literárias e discursivas. Com a contribuição bibliográfica de críticos e teóricos renomados, espera-se desenhar algumas linhas de força que fazem do texto de Rosa uma experiência de prosa e poesia.
Nos contos de Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, transita-se por vários aspectos e temas que caracterizaram a obra do autor, dentre eles o tema da infância. Em “A partida do audaz navegante”, o olhar infantil é responsável por revelações de ordem pessoal, sentimental, existencial. O presente texto visa a analisar o conto a partir de observações feitas durante nosso convívio com o texto. Não selecionaremos um único aspecto, mas, a partir de interpretações várias, tentaremos associá-las entre si, em busca de alguma unidade. Para atingir essa finalidade, dividimos o estudo em duas partes: a primeira encerra aspectos genéricos que se podem depreender não só do conto em questão, como também de outros contos de Primeiras estórias; a segunda objetiva rastrear o texto,
esmiuçando-o em seus detalhes. A análise em questão é resultado do olhar de leitora apaixonada que, a cada nova leitura, redescobre o prazer de ver pelo olhar da infância.
Faculdade de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas
O interesse em pesquisar a questão do protagonismo da infância como veiculador de discursos a priori “não infantis” parte de indagações teóricas acerca das especificidades expressivas da Literatura infantil e juvenil, especialmente a presença da protagonista criança. Levantando hipóteses sobre a sua necessidade em obras voltadas para jovens leitores, chegou-se a um desdobramento deste foco: que sentidos são gerados quando um autor faz da criança porta-voz de sua mundividência? Em se tratando de uma obra de tamanha complexidade, e não sendo especificamente direcionada ao público jovem, salta aos olhos a importância das personagens crianças nas narrativas rosianas. Sejam elas centrais ou figuras passantes, a obra de Rosa está impregnada de infância. E do questionamento inicial chegamos à pergunta central desta dissertação: que sentidos adquire a infância na literatura de Guimarães Rosa? Partindo da ideia da infância que extrapola a mera representação nesta ou naquela personagem, mas interpretando-a como símbolo, o que se propõe é, através de um estudo de análise comparativa, traçar o percurso existencial desta infância protagonista, defendendo-a como potência vital para que o homem se coloque em estado de viagem. Entende-se que é através das crianças de Rosa, principalmente, que se instaura o olhar inaugural sobre as coisas; o olhar marginal que se torna central na elaboração da experiência humana, refundada pela imaginação. Assim, tendo como corpus Campo Geral (1956) e Primeiras estórias (1962), o trabalho visa explorar as potencialidades das protagonistas infantis de Guimarães Rosa, naquilo que elas apresentam de convergências e especificidades, tendo em Miguilim o símbolo da infância rosiana, cuja potência reinventiva reverbera de diferentes maneiras nos demais meninos e meninas de Primeiras estórias, apontando de todo modo, a presença protagonista do olhar revelador da condição movente do homem.
Esta dissertação trata do universo mágico da infância em João Guimarães Rosa, mais especificamente nas narrativas Partida do audaz navegante, publicada em 1962, Fita verde no cabelo, em 1970, e Campo Geral, em 1964. Entre seus objetivos, destacam-se: refletir sobre a construção do pensamento mágico-poético no discurso do narrador e das personagens crianças; apreender a construção e a desconstrução do universo poético-maravilhoso nessas narrativas rosianas, assim como analisar o vínculo entre a enunciação do narrador e a das personagens infantis, ressaltando o encantamento e o desencantamento. Para atingir tais objetivos, orienta-se pela seguinte problematização: até que ponto narrativas de João Guimarães Rosa operam o encantamento e o desencantamento de maneira a atribuir sentido ao rito de passagem da vida infantil à vida adulta? Como as sutilezas que diferem e separam a linguagem da infância da linguagem da vida adulta implicam ações mágico-poéticas nessa ficção? A fundamentação teórica baseia-se em concepções sobre o maravilhoso propostas por Todorov, Mieletinski e Propp; sobre o imaginário, recorre a Baudelaire e Bachelard; para refletir acerca do literário e da criança, vale-se de Walter Benjamin. A fortuna crítica sobre o autor é sustentada na voz de Henriqueta Lisboa, Benedito Nunes, Paulo Rónai. O estudo do corpus evidenciou, entre outras considerações, que Rosa dilui seu discurso e o seu olhar poético ao do narrador e das personagens, tornando-o quase indissociável do discurso infantil; que o rito de passagem, vivenciado pelas personagens, está intimamente relacionado com experiências mágicas, construídas, por sua vez, em universo poético-maravilhoso.
Instituto de Letras, Departamento de Teoria Literária e Literaturas
Este texto discute o sentido da criação com as sobras, especialmente no mundo Contemporâneo, caracterizado, entre outros aspectos, pela exacerbação do consumo e pelo esgotamento dos recursos naturais. Parte da observação do trabalho dos artistas Marcos Chaves, Arthur Bispo do Rosário, S. Gabriel Joaquim dos Santos e Frans Krajcberg e propõe uma aproximação entre eles em função de uma característica comum: o aproveitamento, em suas criações, do que é considerado lixo, sucata ou resto. O conto “Partida do audaz navegante”, de João Guimarães Rosa, é analisado ao lado da obra desses artistas e interpretado como uma alegoria do processo criativo que se realiza pelo aproveitamento das sobras. A poesia de Manoel de Barros perpassa todo o texto, contribuindo para a reflexão acerca das sobras na criação, uma vez que o poeta enfatiza a sua opção pelos seres, palavras e coisas desimportantes.
O presente trabalho discute as oscilações do protagonista-narrador do Grande sertão: veredas entre sua tentativa de estabelecer um nome próprio – como lugar seguro das designações – e sua inserção nas instáveis veredas de uma identidade infinita e tem como referencial teórico as discussões dos chamados pós-estruturalistas franceses. Ao levantar um mapeamento das posturas do personagem, este estudo objetiva tomar as suas experiências paradoxais como chave de leitura para reflexão sobre a destituição das identidades fixas, o saber nômade da contemporaneidade e as tensões inerentes a tais processos. O mapeamento revela as relações de embate e articulação entre nome próprio e identidade infinita que têm repercussões para as questões relativas à identidade propriamente dita, aos episódios da chefia, à metafísica riobaldiana e às estratégias narrativas do protagonista. Este estudo investiga se o caráter indagador do personagem impulsiona a instabilidade e a desterritorialização, ou se corresponde a uma tentativa desesperada de constituir os territórios de um nome próprio delimitado. Conclui que o personagem desenvolve um tipo relativo de desterritorialização, no qual nome próprio e identidade infinita conjugam-se em um processo dinâmico entre desterritorialização e reterritorialização que, ao invés de deter, colabora para manter ativo o movimento. Para melhor ilustrar e refletir sobre tal questão, compara as posturas do protagonista do Grande sertão: veredas com as de outros três personagens rosianos: Nininha, Brejeirinha e o narrador do conto “Famigerado” de Primeiras estórias. Salienta, também, o caráter heterogêneo e indagador que liga obra, crítica e teoria em contribuições recíprocas.
Este é um estudo sobre as figurações literárias dos infantes na obra de João Guimarães Rosa. Partindo do pressuposto de que estas personagens apresentam uma forma outra de ser que se articula, em mais de um aspecto, ao universo rosiano e à própria poética do autor, elegeram-se como eixo analítico quatro protagonistas de cinco contos rosianos: Dja/Iaí, de "Tresaventura"; Nhinhinha, de "A Menina de Lá"; Brejeirinha, de "Partida do Audaz Navegante" e o Menino, de "As margens da alegria" e "Os cimos". O estudo parte da contextualização histórica de sentimento da infância, segundo Philippe Ariès, para sondar perspectivas de carência e potência na figuração literária dos infantes, e convoca conceitos da psicanálise e filosofia a respeito da forma de existência infantil para dar lastro a sua representação pela literatura rosiana. De um olhar vertical para os contos e seus protagonistas e um olhar transversal que os atravessa comparativamente, emergiram os temas e imagens que compõem essa forma de existência bem como suas afinidades e ressonâncias com alguns dos grandes temas rosianos: a coincidência dos opostos e o princípio da reversibilidade/mobilidade, que desafiam a lógica linear e o pensamento cartesiano; a relação com a linguagem enquanto elemento móvel, plástico, metafísico porque genesíaco em sua capacidade de reinaugurar o mundo; a face lúdica e criativa da existência, a Graça em suas muitas acepções. Falta e potência tensionam o campo da infância e também constituem a vivência infante em sua articulação com as condições do sertão rosiano, sendo mais uma face do tema proposto. Explora-se a proximidade dos infantes à Origem, conceito delineado a partir de perspectivas sociológicas, psicanalíticas e antropológicas, que os torna "originários" e "originais", imprimindo-lhes uma anterioridade de ser que se faz plena em si mesma e configura sua relação com o mundo e a linguagem na contramão do pensamento hegemônico, em lógica aparentemente "desarrazoada", antes participativa do que analítica, elucidando também seu parentesco com os primitivos, caboclos e sertanejos. No último capítulo, são convocados personagens adultos que comungam de aspectos dessa existência infante, corroborando a ideia de que ela, mesmo radicada na fase inicial da biografia humana, permeia nosso vir a ser.
Os protagonistas do conto "Partida do audaz navegante", extraído do livro Primeiras estórias de João Guimarães Rosa, do filme Corra Lola, corra, de Tom Tykwer, e do romance PanAmérica, de José Agrippino de Paula, são responsáveis por engendrar narrativas contemporâneas, já que, simultâneas ao ato de contar, constituem-se como narrativas em processo, marcadas pela deriva de um contar sempre inacabado, um contar móvel e de inesperadas conexões. Rompendo com a linearidade do tempo do Cronos, desenham suas errantes narrativas no inapreensível tempo do devir, marca de um tempo contemporâneo, que se constitui como limiar incessante de um "já" e um "ainda não", impossibilitando a fixação de temporalidades pontuais. O contar móvel e improvisado desses protagonistas é, portanto, a chave de leitura que nos permite colocar em diálogo essas obras tão distintas e suas configurações de tempo, espaço e identidade: um tempo do devir, um espaço modelável e de conexões inusitadas e uma identidade mutante.
No estudo da narrativa, a tensão entre os aspectos de verossimilhança e de simulacro é um elemento presente ao longo das discussões tanto no campo da teoria fílmica quanto no da teoria literária. A experiência do cinema como ilusão de movimento e de continuidade fez surgir o embate entre uma montagem que tornasse invisível a descontinuidade elementar do fazer cinematográfico e uma opção pela ostentação desta descontinuidade. No que tange às questões da teoria literária, as primeiras tensões permeiam as discussões filosóficas de Platão e Aristóteles – desde a expulsão dos poetas de uma república ideal, dado o seu caráter subversivo, à reintegração aristotélica, que destaca os benefícios do encadeamento lógico e da representação como verossimilhança para a análise do real. A partir da modernidade, a adoção de estratégias que privilegiam a ênfase na potência do simulacro vai produzir uma mudança nessa relação entre narrativa e mundo, pois novos formatos de real passam a ser considerados, problematizando a perspectiva de representação análoga a um real contínuo e definido. O objetivo deste trabalho é analisar as repercussões narrativas de duas obras representativas destas espécies de rupturas, desta ênfase no simulacro: o conto “Partida do audaz navegante”, integrante do livro Primeiras estórias do escritor mineiro João Guimarães Rosa e o filme A idade da terra do cineasta baiano Glauber Rocha. Buscamos verificar como essas duas produções, instauradas no contexto cultural da modernidade, apresentam narrativas de ênfase no simulacro, cujas estratégias ultrapassam um mero exercício estético, uma mera ruptura formalista, para ajudar a lançar as questões desestabilizadoras das noções unívocas de tempo, espaço e identidade, inquietações tão presentes na discussão da contemporaneidade, ou modernidade tardia, como preferem alguns teóricos, ou pós-modernidade, na classificação de outros.
Atenção! Este site não hospeda os textos integrais dos registros bibliográficos aqui referenciados. Para alguns deles, no entanto, acrescentamos a opção "Visualizar/Download", que remete aos sites oficiais em que eles estão disponibilizados.