O olhar português sobre o Brasil incita nosso imaginário, seja sobre questões iluminadoras ou ressentidas entre as duas nações. Vários ensaios de Eduardo Lourenço na obra A nau de Ícaro debruçam-se sobre essas questões. Dentre essas, a leitura de “Guimarães Rosa e o terceiro sertão” proporciona esse olhar do crítico português inicialmente sobre um momento considerado fundamental para a independência de nossa literatura: a semana de Arte Moderna de 1922. Adiante, relaciona esse acontecimento a obras fundamentais que focam o espaço conhecido como sertão, misto de espaço físico e construção imaginária-simbólica. Será na obra de Guimarães Rosa que essa construção será conduzida à hora zero, termo do utilizado pelo crítico para anunciar a importância da obra roseana.
Este artigo objetiva discutir o percurso do modo como o sertanejo é apresentado em obras literárias brasileiras a partir do Romantismo, primeiro estilo em que aparece como personagem, até a intensa liberdade das Tendências Contemporâneas. Fundamentado em discussões sobre sertanismo e regionalismo com Albuquerque Júnior (2011), Almeida (1999), Castro (1984) e Freyre (1976), este trabalho se direciona para um olhar de como o sertão/sertanejo se insere numa “caminho” trilhado dentro da produção literária no trajeto das épocas mencionadas. Deste modo, com o estudo empreendido, entende-se que o sertanejo mítico e depois realista dos oitocentos, modifica-se no forte lutador diante da seca e das injustiças sociais no século XX, utilizando-se da sua força, resistência e bom-humor que lhe são característicos, encarando as árduas sagas com seus únicos recursos, os impalpáveis.
Esta dissertação faz um estudo comparativo das micronarrativas presentes nas obras Os Sertões, de Euclides da Cunha e Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. O estudo tem como norteadores os seguintes questionamentos básicos: qual a finalidade dessas narrativas curtas e aparentemente independentes nas obras em questão? De que recursos se valem os autores para que elas se relacionem e se encaixem harmonicamente com o eixo-central das narrativas? São basilares para esta pesquisa o conceito de encaixe narrativo baseado nas reflexões teóricas de Lucien Dallenbch sobre o termo myse en abyme e o exemplo clássico da obra Ilíada através dos chamados encaixes homéricos que são os primeiros exemplos de encaixes narrativos de que se tem notícia. Aplicando esse conceito às duas obras, primeiramente de forma separada, depois comparativa, o propósito é evidenciar essas micronarrativas como estratégias de narrar que ligam a multioralidade do povo sertanejo com a textualidade erudita dos escritores. O conceito de encaixe narrativo, além de evidenciar as marcas da oralidade nas duas obras, faz que as lendas, os mitos e crendices populares sejam identificados em um nível narrativo diferenciado. Esse separar sem desvincular-se demonstra o universo lendário que povoa os sertões no imaginário e nas narrativas orais dos sertanejos em sua similaridade com uma epopeia. Objetivou-se assim, sobretudo, valorizar elementos do universo da oralidade presentes na composição dos romances em questão.
Sertão: palavra de enorme riqueza no imaginário, na história e cultura(s) do Brasil. Lugar desértico, paisagem árida e desoladora, onde vive uma população em constante processo migratório, lugar de uma rica cultura popular e também um espaço de barbárie, misticismo e miséria? O sertão se apresenta sob diversos aspectos, despertando sensações e sentimentos, evocando imagens e apresentando-se como resultado de uma longa experiência sócio-histórica e ficcional. Este trabalho investiga a formação da identidade narrativa sertaneja, percorrendo assim uma trajetória que tem como característica central a multiplicidade de autores, gêneros e discursos que formam as veredas simbólicas de um espaço sembre aberto para novas representações.
Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro
Este trabalho procura refletir sobre as representações das paisagens rurais nos textos narrativos estrangeiros e nacionais para pensar as mudanças sociais engendradas na transição ruralidade/modernidade. Nesse sentido, tratou-se de as objetivar e interpretar como fatos sociais que são, levando-se em conta os diferentes processos simbólicos de que resultaram os textos literários em questão. Pensando primeiro na noção durkheimiana de construção social de significados e símbolos, na auto representação relacional da sociedade com seu meio, objetivamos e interpretamos os fatos sociais de acordo com as diferentes abordagens das Ciências Humanas para pensar os processos socioculturais e históricos dessa relação. Dessa forma, o conceito cosgroviano de paisagem, como ideia, é fundamental, pois permite estudar a trama das relações humanas, inscrita num meio natural e cultural. Por fim, refletimos sobre o processo de criação literária de representação dos fenômenos sociais.
Esse trabalho busca entender o processar da nação brasileiras nas narrativas fotográficas sobre o sertão. Assim, analisamos as ideias de autores que escreveram sobre a nação moderna e daqueles que laçaram narrativas que propõe a existência de uma nação brasileira a partir da categoria sertão. Primeiramente, trabalhamos com obras da literatura nacional como Os Sertões de Euclides da Cunha e Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa. Posteriormente, abordamos a passagem do sertão literário para a fotografia. Entendemos que a linguagem e o meio fotográfico, por suas características singulares, geram imagens do sertão que diferem do sertão descrito nas páginas da literatura nacional. Buscamos então analisar esse sertão no caso das fotografias de Flávio de Barros em Canudos e da obra fotográfica Sertões: Luz & Trevas de Maureen Bisilliat. Desse modo, lançamos a proposta de análise dos cruzamentos entre o sertão literário, a nação e a fotografia documental.
Considerações sobre o sertão e o sertanejo, revisitando o discurso literário em Euclides da Cunha, em Os Sertões e Guimarães Rosa, em “Pé-duro, chapéu-de-couro”. Pela escrita jornalística e literária, esses autores brasileiros lançam o olhar crítico e intensamente humano sobre o homem, a terra e a luta, elementos já cristalizados na leitura dos sertões, como expressão do universo sociocultural e existencial que forma o sertanejo. Este, “antes de tudo um forte”, torna-se, síntese da identidade do Brasil mestiço, à margem da História oficial.
Imagens, representações, estereotipias sobre o Sertão, o Sertanejo, com suas etnias, culturas, psicologias têm sido, ao longo dos tempos, gestadas e amplamente disseminadas por praticamente todos os gêneros discursivos e por todos os modos e formas de linguagem verbal e não-verbal, com claros propósitos ideológicos de construção dessa região do país como o Outro, aí contemplados os mais diversos e ambíguos sentidos de positividade e de negatividade. Assim, de região berço e símbolo da nacionalidade e da brasilidade, de centro econômico, social, cultural e religioso durante quase todo o período colonial, de região representada ora como inferno ora como paraíso, torna-se, não raro, o Sertão, como o lugar da mestiçagem, da pobreza e da ignorância endêmicas, da seca, da migração, dos surtos messiânicos, do coronelismo e do jaguncismo e das formas de violência características de terras sem lei. Identificar, analisar, questionar, problematizando, em diálogo com Willi Bolle: Grandesertão.br,
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