O artigo discute, a partir de três obras literárias - Os sertões, de Euclides da Cunha, Tropas e boiadas, de Hugo de Carvalho Ramos e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa - a identidade do sertanejo esboçada por seus autores. Aponta para essas construções identitárias inseridas nas preocupações dos intelectuais/escritores referidas nos tempos históricos da escritura das obras. Assim, para Euclides da Cunha, revelar a existência do sertão e do sertanejo para o litoral/civilização, gerava a grande indagação sobre a identidade nacional já que a nação, que deixava para trás o Império e se lançava numa possibilidade de transformação com a República, ainda não havia conseguido identificar de que matéria era feita a ‘alma nacional’. Já o escritor goiano Carvalho Ramos buscou resgatar elementos da cultura ligada à pecuária de seu estado no momento em que divulgar Goiás na capital federal significava tentar inserir o estado no concerto da nação. Guimarães Rosa, por seu turno, vivenciando em meados do século XX a dominância do discurso desenvolvimentista da era JK, chama a atenção do Brasil e do mundo para a sobrevivência da cultura sertaneja, ao mesmo tempo indicando seu grau de universalidade.
Este artigo aborda a influência de Diadorim sobre Riobaldo em Grande
Sertão: Veredas, pela perspectiva filosófica do sublime e da coragem (Schiller e outros), baseando-se em concepções de Walter Benjamin e dialogando com a crítica de Willi Bolle. O ensaio identifica, na obra-prima de Guimarães Rosa, uma relação importante entre o sublime, associado a Diadorim a partir de elementos levantados por Benjamin, como a figura guia, o amor provençal e o justo hermafrodita, e a coragem demonstrada por Riobaldo. Finalmente, contribui para a avaliação de Bolle quanto ao caráter dialético e verossímil do texto literário no que concerne à coragem desse personagem, em comparação com a representação do sertanejo em Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Esta dissertação faz um estudo comparativo das micronarrativas presentes nas obras Os Sertões, de Euclides da Cunha e Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. O estudo tem como norteadores os seguintes questionamentos básicos: qual a finalidade dessas narrativas curtas e aparentemente independentes nas obras em questão? De que recursos se valem os autores para que elas se relacionem e se encaixem harmonicamente com o eixo-central das narrativas? São basilares para esta pesquisa o conceito de encaixe narrativo baseado nas reflexões teóricas de Lucien Dallenbch sobre o termo myse en abyme e o exemplo clássico da obra Ilíada através dos chamados encaixes homéricos que são os primeiros exemplos de encaixes narrativos de que se tem notícia. Aplicando esse conceito às duas obras, primeiramente de forma separada, depois comparativa, o propósito é evidenciar essas micronarrativas como estratégias de narrar que ligam a multioralidade do povo sertanejo com a textualidade erudita dos escritores. O conceito de encaixe narrativo, além de evidenciar as marcas da oralidade nas duas obras, faz que as lendas, os mitos e crendices populares sejam identificados em um nível narrativo diferenciado. Esse separar sem desvincular-se demonstra o universo lendário que povoa os sertões no imaginário e nas narrativas orais dos sertanejos em sua similaridade com uma epopeia. Objetivou-se assim, sobretudo, valorizar elementos do universo da oralidade presentes na composição dos romances em questão.
Esse trabalho busca entender o processar da nação brasileiras nas narrativas fotográficas sobre o sertão. Assim, analisamos as ideias de autores que escreveram sobre a nação moderna e daqueles que laçaram narrativas que propõe a existência de uma nação brasileira a partir da categoria sertão. Primeiramente, trabalhamos com obras da literatura nacional como Os Sertões de Euclides da Cunha e Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa. Posteriormente, abordamos a passagem do sertão literário para a fotografia. Entendemos que a linguagem e o meio fotográfico, por suas características singulares, geram imagens do sertão que diferem do sertão descrito nas páginas da literatura nacional. Buscamos então analisar esse sertão no caso das fotografias de Flávio de Barros em Canudos e da obra fotográfica Sertões: Luz & Trevas de Maureen Bisilliat. Desse modo, lançamos a proposta de análise dos cruzamentos entre o sertão literário, a nação e a fotografia documental.
Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro
Este trabalho procura refletir sobre as representações das paisagens rurais nos textos narrativos estrangeiros e nacionais para pensar as mudanças sociais engendradas na transição ruralidade/modernidade. Nesse sentido, tratou-se de as objetivar e interpretar como fatos sociais que são, levando-se em conta os diferentes processos simbólicos de que resultaram os textos literários em questão. Pensando primeiro na noção durkheimiana de construção social de significados e símbolos, na auto representação relacional da sociedade com seu meio, objetivamos e interpretamos os fatos sociais de acordo com as diferentes abordagens das Ciências Humanas para pensar os processos socioculturais e históricos dessa relação. Dessa forma, o conceito cosgroviano de paisagem, como ideia, é fundamental, pois permite estudar a trama das relações humanas, inscrita num meio natural e cultural. Por fim, refletimos sobre o processo de criação literária de representação dos fenômenos sociais.
Sertão: palavra de enorme riqueza no imaginário, na história e cultura(s) do Brasil. Lugar desértico, paisagem árida e desoladora, onde vive uma população em constante processo migratório, lugar de uma rica cultura popular e também um espaço de barbárie, misticismo e miséria? O sertão se apresenta sob diversos aspectos, despertando sensações e sentimentos, evocando imagens e apresentando-se como resultado de uma longa experiência sócio-histórica e ficcional. Este trabalho investiga a formação da identidade narrativa sertaneja, percorrendo assim uma trajetória que tem como característica central a multiplicidade de autores, gêneros e discursos que formam as veredas simbólicas de um espaço sembre aberto para novas representações.
Doutorado em Ciências Sociais / Área de Concentração: Cultura e Sociedade
A porta do sertão aberta pela Tese é magica, festiva, poética, triste, árida, mítica; é construída com rimas, sonhos, cores, santos, demônios, pedras, morte e vida. Evoca a música que vem dos tambores, dos pífanos, das violas e das rabecas. Exibe trajes com bordados coloridos, da chita, do couro trabalhado dos gibões, dos mantos dos reis, das composições bricoladas com retalhos e fitas coloridas. O sertão apresentado ressalta a riqueza excessiva de um imaginário repleto de animais bizarros, anjos, demônios, e homens que sentam à mesma mesa, numa espécie de confraria mágica. Trata-se de um sertão que se mostra por meio de uma vegetação quase rasteira, formando uma massa ocre-terra, ocre-vegetação, que se estende e oprime os fios de espelhos d´água que insistem em correr entre as terras secas. É desse contraste que nasce a estética do sertão: das imagens plásticas e poéticas que o homem sertanejo cria como elementos que complementam ou rivalizam com a geografia árida. Os suportes teóricos da Tese vem da obra de Edgar Morin e de Claude Levi-Strauss. Da literatura traz as vozes de José Lins do Rêgo, João Guimarães Rosa e Euclides da Cunha. Da estética, como filosofia, recruta as reflexões de Erwin Panofsky e Clement Greenberg. O estilo narrativo do texto assume a rima dos cantadores de cordel e poetas populares, no ângulo criador do homem e da natureza do sertão. A ideias e argumentos se relacionam num tempo não-linear, num tempo mítico. Como o romanceiro medieval, a narrativa é repleta de relatos que atestam o hibridismo entre os domínios do real e do fantástico. Discute-se aqui como arguemnto central a relação de oposição e complementaridade entre falta e excesso, padrão e variação, contingência e criação que constituem a estética do sertão
Imagens, representações, estereotipias sobre o Sertão, o Sertanejo, com suas etnias, culturas, psicologias têm sido, ao longo dos tempos, gestadas e amplamente disseminadas por praticamente todos os gêneros discursivos e por todos os modos e formas de linguagem verbal e não-verbal, com claros propósitos ideológicos de construção dessa região do país como o Outro, aí contemplados os mais diversos e ambíguos sentidos de positividade e de negatividade. Assim, de região berço e símbolo da nacionalidade e da brasilidade, de centro econômico, social, cultural e religioso durante quase todo o período colonial, de região representada ora como inferno ora como paraíso, torna-se, não raro, o Sertão, como o lugar da mestiçagem, da pobreza e da ignorância endêmicas, da seca, da migração, dos surtos messiânicos, do coronelismo e do jaguncismo e das formas de violência características de terras sem lei. Identificar, analisar, questionar, problematizando, em diálogo com Willi Bolle: Grandesertão.br,
Considerações sobre o sertão e o sertanejo, revisitando o discurso literário em Euclides da Cunha, em Os Sertões e Guimarães Rosa, em “Pé-duro, chapéu-de-couro”. Pela escrita jornalística e literária, esses autores brasileiros lançam o olhar crítico e intensamente humano sobre o homem, a terra e a luta, elementos já cristalizados na leitura dos sertões, como expressão do universo sociocultural e existencial que forma o sertanejo. Este, “antes de tudo um forte”, torna-se, síntese da identidade do Brasil mestiço, à margem da História oficial.