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No princípio, era a palavra: resistência. E o verbo: resistir. Resistir aos golpes maiúsculos e minúsculos, resistir individualmente ou no âmbito coletivo, resistir nos espaços possíveis – palcos e ruas, ruas e palcos, dentro e fora. Porém, o soco foi brutal, provocando machucaduras indeléveis no corpus social e no imaginário político brasileiros. Os símbolos de todos tornaram-se símbolos de alguns; a narrativa dos “vencedores” se impôs com crueldade. As semânticas foram raptadas por slogans autoritários e excludentes. Há uma única: primeiro, o silenciamento; depois, o apagamento gradual das oposições. A palavra perdeu sua força.

Então, veio o gesto. Ou a tentativa da ação. O dolorido aprendizado do colocar-se em cena. A experiência do conjunto: comunidade, coletividade ou ambos? O corpo readquire a coragem do movimento para redescobrir-se corpo, corpus, e ativar memórias, sonhos, esperanças, imagens perdidas ou esquecidas, ou ainda subtraídas. Trata-se agora, portanto, de um ato. Mas não qualquer ato: um ato de resistência, recuperando potências e polissemias.

O encenador e ator palestino Ihab Zahdeh, cofundador do Yes Theatre de Hebron, na Cisjordânia, recebeu uma desafiadora incumbência: liderar uma residência de vinte dias com onze artistas brasileiros no âmbito das atividades pedagógicas da 4ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp). A iniciativa foi batizada de “Atos de Resistência I” e reuniu um grupo heterogêneo em suas habilidades – há atores, cantores e músicos, todos profissionais, alguns deles docentes –, mas muito coeso em suas angústias e inquietações como cidadãos. No encontro entre experiências tão diversas e similares, entre um palestino diariamente confrontado com a ocupação israelense e brasileiros ainda atônitos com um país afônico e entorpecido, estabeleceu-se um processo criativo baseado em provocações artísticas e improvisações cênicas.

O resultado desse processo será apresentado nos dias 20 e 21 de março, às 13 horas, no Tusp. No dia 20, após a apresentação, haverá um breve bate-papo com os artistas participantes e o palestino Ihab Zahdeh. Muitos dos impasses e contradições vivenciados por nós, como artistas e cidadãos brasileiros, ganharam corpo, voz e espaço ao longo dessa residência. Por isso, o processo conduzido por Ihab revelou-se uma importante experiência no contexto da micropolítica, de retomada dos lugares de fala e também do palco teatral como ambiente coletivo de encontro, partilha e diálogo.

Mostra Atos de Resistência I | 4a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo

Fragmentos cênicos resultantes do processo criativo com o palestino Ihab Zahdeh ao longo da residência artística da 4ª edição da MITsp
20 e 21.3, 13h. Tusp: Rua Maria Antônia, 294, Vila Buarque. Duração: 60 min.

Bate-papo: dia 20/3, após a apresentação.

Direção Ihab Zahdeh | Criação, textos e atuação Alice Stamato, Aminah Bárbara, Cacá Toledo, Carol Angrisani, Fany Magalhães, Filipe Ramos, Jeane Doucas, Ligiana Costa, Nick Vila Maior, Rodrigo Caldeira e Rogério Guarapiran |Trilha sonora Ligiana Costa |Autoria de “Cordão dos Democratas” Rodrigo Caldeira | Produção Richard Santana | Tradução Beatriz Negreiros Gemignani | Luz Rogerio Candido | Apoio Ferdinando Martins e Otacílio Alacran | Curadoria Ações Pedagógicas MITsp Maria Fernanda Vomero