ISSN 2359-5191

17/12/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 99 - Saúde - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
Materiais descartáveis podem ser reutilizados

São Paulo (AUN - USP) - Materiais hospitalares fabricados e vendidos como descartáveis podem ser reutilizados em instituições de saúde. Essa é a principal conclusão do trabalho de Kazuko Uchikawa Graziano, titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da USP.

Popularizados inicialmente porque eram mais baratos que os reutilizáveis, alguns materiais de uso único passaram a incorporar tecnologia cara em sua fabricação. São os chamados materiais de uso único de alto custo. Com isso, a indústria desses instrumentos começou a crescer e a lucrar muito, impondo um consumo que as pesquisas da professora mostram desnecessário. Hoje, existem mais de 300 mil itens de uso único disponíveis no mercado. Alguns deles chegam a custar R$ 7.000,00. Para a professora Kazuko, o material tem que ser financeiramente compatível com o uso único. Caso contrário, a instituição hospitalar deve optar pelo material permanente.

Enfermeira voltada para a área de microbiologia, esterilização e desinfecção, Kazuko é contrária à reutilização, mas também não concorda com a atuação da indústria de material hospitalar. Por isso, começou a desenvolver na EE – USP um trabalho para validar um protocolo de testes para o reprocessamento de materiais. Basicamente, a professora contamina propositalmente materiais para testar sua resistência.

“Eu submeto alguns instrumentos à contaminação com sangue infectado. Depois sigo os passos de limpeza utilizando a tecnologia mais indicada para a esterilização. O passo seguinte é expor o material a resíduos orgânicos e a cargas microbianas para ver se é possível recuperar o microorganismo que eu propositalmente inoculei”, explica a professora. Instrumentos como a caneta de bisturi elétrico e o cateter de angiografia cardiovascular já passaram nos testes coordenados por ela.

A reutilização de materiais hospitalares enfrenta controversas no mundo todo. Países como França, Inglaterra e Itália condenam o reuso, mas em lugares como a Alemanha e o Canadá o procedimento é permitido mediante um rígido controle.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é o órgão responsável pela outorga do material de uso único. Mas a determinação do que pode e do que não pode ser reutilizado foi prescrita por uma resolução de 2006. Segundo a professora, o critério adotado foi arbitrário. Ela garante que nunca houve testes para determinar o que podia e o que não podia ser reprocessado.

Os fabricantes solicitam a outorga do selo de uso único para a Anvisa, mas a professora garante que a agência tem dificuldades para intervir no que está posto. “A Anvisa precisa avançar para determinar a outorga do que é de uso único. A partir do momento em que eu validei o material, eu derrubei o selo de uso único”, provoca.

O reprocessamento seguro, portanto, não é definido pelo material. “O que importa é fazer uma limpeza cuidadosa e uma esterilização adequada para ter o produto seguramente reprocessado”, diz a professora.

Todo hospital tem uma central de esterilizações que recolhe, lava e inspeciona os materiais utilizados. “Se um hospital não tem uma central estruturada, ele não pode reprocessar”, afirma Kazuko. Por isso, ela acredita que cada instituição de saúde deve criar um comitê de reuso para projetar quantas vezes vai reutilizar o material. E sugere que o comitê seja formado por uma comissão de ética e por uma assessoria jurídica. Caso contrário, o hospital estará assumindo uma prática irresponsável.

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