São Paulo (AUN - USP) - âFelicidade se acha é só em horinhas de descuidoâ. à essa a frase mais conhecida do conto Barra da Vaca, de Guimarães Rosa. E é também com essa certeza que Rosa Tane se reúne, todas as quartas-feiras, no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, para uma roda de leitura das obras do escritor mineiro.
O projeto já dura quatro anos e foi uma iniciativa do professor Dieter Heidemann, estudioso de Guimarães. Desde então, todas as semanas um grupo de pessoas se reúnem em meio a Diadorins e Riobaldos, seja no Morro da Garça ou em Mutum, que se fazem presentes na sala do IEB, sempre às 18 horas.
Segundo Rosa, a diferença em ler Guimarães em voz alta não é só a sonoridade, mas a própria narrativa: âPrecisamos parar, ouvir, se lembrar um pouco da fala do pessoal mineiro. Quando você faz a leitura de Guimarães sozinho, você encontra uma série de dificuldades. Tem uma série de palavras que você não sabe o que é. à extremamente difÃcil, mas por outro lado extremamente vibrante, instiganteâ, relata.
A paixão por Guimarães não é desde sempre. Rosa conta que também teve um perÃodo em que não gostava ou não entendia a escrita neologÃstica ou rebuscada do autor. A distância, no entanto, foi amenizada por inúmeras visitas a Cordisburgo, cidade onde o escritor nasceu, e onde âse respira Guimarãesâ. Desde então ela e um grupo de amigos e admiradores do autor se reúnem e alimentam essa devoção.
A roda é gratuita, aberta a todos que gostem de Guimarães e queiram compartilhar seus textos em voz alta. As obras são escolhidas ao gosto dos participantes. Rosa conta que já leram diversos contos soltos, passando pelo romance Grande Sertão: Veredas e também por coletâneas, como Sagarana e Corpo de Baile.
Para ler Guimarães ao lado de Rosa não é preciso conhecer o autor ou já ter visto qualquer obra dele. Basta estar disposto a encontrar a felicidade, em pequenas horinhas de descuido.