O presente trabalho propõe a reflexão de um elemento de fora do perímetro textual: a dedicatória de Grande sertão: veredas, romance de João Guimarães Rosa, subsidiado pela leitura da correspondência trocada entre o escritor e sua mulher, Aracy Moëbius de Carvalho Guimarães Rosa. A análise desses dois elementos paratextuais possibilitou uma escuta diferenciada do romance, permitindo que os espaços da ficção e da vida pudessem ser entretecidos. A abordagem aqui apresentada, tal como defende algumas vezes o autor mineiro, considera o traço autobiográfico da sua ficção, o que se comprova por meio da análise cuidadosa da correspondência íntima de ambos.
Este artigo apresenta uma reflexão sobre os vaqueiros na obra de Guimarães Rosa. Para compor este personagem freequente de sua ficção, o escritor também se veste de vaqueiro, tornando-se ele próprio um personagem. Essa operação, que aproxima linguagens e perspectivas diferentes, é, nesta análise, apresentada como uma tradução criativa, onde a cultua popular e aestética se encontram.
Este estudo lê o romance Grande sertão: veredas e as influências da arte pictórica na composição de sua narrativa. A partir dos registros do autor encontrados no material arquivado no Instituto de Estudos Brasileiros, e da apreciação de Guimarães Rosa pela pintura, apresentamos relações entre a narrativa de primeira pessoa e as variações de cor no romance. Esses jogos de luz e sombras nos ajudaram a ler a intricada dubiedade que rege a vida, a violência e a sexualidade de Riobaldo.
A escrita de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, apresenta uma série de listas, superpostas, que contribuem para conferir ao romance movimento e musicalidade. A partir das reflexões de Umberto Eco, em A vertigem das listas (2010), este artigo analisa o efeito poético das listas que compõem a escrita do romance. Enumerações de palavras, ditos populares, nomes de plantas e animais compõem as listas que estão presentes nas cadernetas do autor. Essas listas, que serviram de suporte à escrita inventiva do autor, também aparecem de forma abundante em sua ficção. Propomos, no presente estudo, uma reflexão acerca das imagens, da musicalidade e do ritmo que as listas superpostas conferem ao romance.
Este estudo é parte de um trabalho de maior fôlego que se preocupa com o processo de criação literária de Guimarães Rosa. A leitura de manuscritos provenientes do arquivo do autor, que se encontra no IEB/USP, iluminou caminhos de leitura que apontaram o escritor montes-clarense Hermes de Paula como parte do material genético que deu vida e substância a pelo menos duas obras de Rosa: Tutaméia e Estas Estórias.
Na ficção de Guimarães Rosa, a pedra surge de forma repetida e multiplicada, como imagem do relevo, como metonímia e metáfora. Neste estudo, a pedra é equiparada a um jogo, em que autor e leitor fazem um pacto. A pedra de Araçuaí, que circula no romance Grande Sertão: veredas, é um símbolo de trocas linguísticas, invenções de palavras e experiências lúdicas.
A proposta do presente artigo é recolher e analisar sobre a presença do diabo em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. As formas do diabo assumem no texto permitem uma reflexão sobre os processos linguísticos e poéticos do romance.
Este artigo analisa o conto “Intruge-se”, que integra a coletânia de Tutameia (1967), do escritor mineiro João Guimarães Rosa, tendo como parâmetro a representação do mal. O conto se dobra numa perspectiva especular, possibilitando, ao mesmo tempo, a leitura da estória e a reflexão acerca da natureza humana. Percorreremos o conto com olhar minucioso e proposto a encontrar, nos meandros da escrita rosiana, os múltiplos sentidos que envolvem as ações e escolhas do personagem central e como, através delas, o autor busca representar uma das questões mais prementes da humanidade. Pretendemos evidenciar de que forma o elemento estético atua na formação do indivíduo, propiciando, além de uma experiência objetiva de fruição, um aprendizado espontâneo e inescusável que impinge no leitor inquietude e necessidade de refletir. Este trabalho é uma observação sobre o conto e aquilo que faz dele o que é. Guimarães Rosa traça esta estória sobre mundos de subjetividade, mundos que comportam um contexto que deflagra a estória, a qual pretende remeter o leitor para fora dela, numa espiral que propicia, pela natureza de sua forma, os mais variados questionamentos acerca das ações e sentimentos humanos. As experiências decorrentes dessa observação, bem como aquelas decorrentes de suas variações, resultam numa rica aprendizagem, na medida em que habilitam e habituam o olhar crítico, a dúvida e a reflexão. Nesse sentido, a literatura atua como mecanismo de aprendizado, segundo o que defende Antonio Candido.