A tese é um estudo de um percurso de sentido - a poética do boi - de Alencar a Rosa, passando pelos pré-modernistas Simões Lopes Neto e Valdomiro Silveira. Em Alencar, o boi é sagrado, apolíneo. Nos autores pré-modernistas, oscila entre o sagrado e o profano, o apolíneo e o dionisíaco. Por último, em Rosa, é humano. O estudo de um mesmo tema em três recortes simbólicos traz considerações sobre uma poética intertextual, o metadiscurso, inserido no próprio bojo das narrativas, e mitopoesia, pois a imagem animal é o principal objeto de leitura. Alencar retoma a poética da tradição greco-latina e bíblica, os pré-modernistas a paisagem idílica e o imaginário popular, e Rosa o pensamento selvagem. Alencar e Rosa ainda referenciam o sertão, uma prática social e um intertexto, transformado em paisagem literária. A análise das narrativas não se prende a um modelo teórico, mas enfatiza os procedimentos construtivos ou temáticos que se mostraram mais significativos para a construção do sentido em determinado texto.
Esta dissertação tem como objeto de estudo a análise do chiste em Tutaméia, de João Guimarães Rosa, a partir dos 04 (quatro) prefácios e 10 (dez) contos selecionados da obra. Apresenta como principal referência a teoria psicanalítica sobre o chiste e o inconsciente, de Sigmund Freud e Jacques Lacan. Ao lado do chiste como fio condutor do estudo, é abordada a questão da narrativa como uma estética fundamentada na multiplicidade de vozes do narrador, na oralidade dos folhetos de cordel, intermediada por uma intertextualidade entre a tradição culta e a tradição popular, em que se sobressai uma lógica lingüística e conceitual às avessas, ao contrário dos cânones oficiais da língua. Por fim, é estabelecida uma análise comparativa entre a concepção de vida dos personagens rabelaisianos e alguns personagens de Tutaméia, tendo como paradigma o personagem de Melim-Meloso, através do qual a alegria de viver sobrepõe-se a todas as adversidades da vida, veiculando a mensagem de que o chiste, o riso, é o melhor antídoto contra as dores e pesares da travessia humana, encontrando-se a serviço de uma maior liberdade e prazer de criação.
Em nossa Dissertação de Mestrado, estudaremos, sobretudo, Meu tio o iauaretê, de Estas estórias, e, ainda, O espelho, de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Estes são os objetivos gerais do presente trabalho. Em relação ao primeiro relato (uma narrativa mais longa), temos como propósito específico efetuar a sua análise por meio da teoria do gênero fantástico desenvolvida por Tzvetan Todorov, a qual leva em conta os gêneros estranho e maravilhoso. Em relação ao segundo (uma narrativa bem menos extensa), o nosso intento específico é a sua abordagem a partir do maravilhoso. Também lançaremos mão de conceitos da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, na leitura de ambos os textos: noções como inconsciente coletivo, arquétipo, anima, animus, alma do mato (para Meu tio o iauaretê), si-mesmo ou self, persona e sombra (para O espelho). Não pretendemos, todavia, transformar os personagens das duas obras em casos clínicos, mas mostrar como aspectos da teorização junguiana, tal como ocorre com a de Freud, servem para iluminar a produção literária de um modo geral. Dois detalhes que funcionam como fatores de ligação das duas narrativas de Rosa são as presenças da figura da onça e do espelho nas páginas de ambas.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA E SOCIEDADE/CCH
A presente pesquisa se investe da responsabilidade em analisar, a partir de grupos temáticos, alguns contos de Tutaméia (1967), último livro publicado por João Guimarães Rosa no qual encontramos um trabalho magistral de ficcionalização da linguagem em que cada palavra e ato das personagens carregam um sentido excedente, plurissignificam. Embora, algumas obras do autor, a exemplo de Grande sertão: veredas, possuam uma fortuna crítica considerável, o mesmo não se pode dizer de Tutaméia que continua a exigir leitura e reflexão. Diante dessas premissas, selecionamos os seguintes contos: Os três homens e o boi, Lá, nas campinas, João Porém, o criador de perus, Desenredo, (primeira parte), Azo de almirante e Curtamão, (segunda parte). Apropriamo-nos, para este trabalho, de algumas teorias, a saber: da Semiótica, enquanto importante instrumental observador da linguagem e a fenomenologia existencialista, pelo enfoque à percepção e à experiência na compreensão dos fenômenos da existência humana. Considerando o texto literário como um fenômeno sígnico, utiliza-se os pressupostos dessas teorias que buscam, respectivamente, interpretar o processo de produção dos signos e as funções da linguagem humana para além de suas relações com o pensamento. Ademais, busca-se as contribuições de autores como Haroldo de Campos, Vera Novis, Paulo Rónai, Antonio Cândido, Maria Célia Leonel, Benedito Nunes que já enveredaram no universo das narrativas de Guimarães Rosa, dentre outros. Portanto, o espaço ficcional dos contos rosianos permite-nos pensar a força criadora da linguagem em que os dramas humanos são representados artisticamente através dos dramas de suas personagens num movimento onde o imaginário e o universal se confundem.
O presente trabalho propõe-se a realizar uma análise de contos integrantes da literatura brasileira contemporânea, a saber: A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa; O cobrador, de Rubem Fonseca; e A maldição de Tibério, de Arturo Gouveia. Baseando-nos na categoria da violência, que é comum às narrativas enfocadas, procuramos investigar como esta se instaura como elemento intrínseco, afetando o conteúdo e a forma dos textos. Após o estudo dos contos, mormente a partir da ação dos heróis, traçamos um paralelo, a fim de evidenciar as peculiaridades da configuração da violência engendrada nos referidos. Concluímos que a
compreensão da categoria da violência é fulcral para as narrativas contemporâneas em tela, tanto sob o aspecto temático quanto composicional, o que corrobora,considerando especialmente este último aspecto, a atipicidade estética.
Esta dissertação se propõe a analisar alguns aspectos atinentes à relação intertextual que se dá
entre os romances Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa, e Nhô
Guimarães (2006), de Aleilton Fonseca, sobretudo no que tange aos elementos de composição
utilizados nas suas narrativas, tendo como elo o contexto sertanejo. A análise partiu de uma
noção de intertextualidade, atribuída por Júlia Kristeva (1974) a partir do conceito de
dialogismo bakhtiniano. Assim, buscou-se analisar, primeiramente, os sentidos atribuídos à
palavra sertão no decorrer do tempo e com a invenção de suas imagens a partir de obras como
a do autor mineiro – que, por sua vez, também constrói um diálogo intertextual com Os
sertões (1902), de Euclides da Cunha – além do romance contemporâneo do escritor baiano,
Aleilton Fonseca, que não somente retoma o sertão ficcional como contexto para seu
romance, mas que também cria intertextualmente o próprio Guimarães Rosa como
personagem de sua ficção. Logo, em seguida, alguns aspectos de composição narrativa dos
dois romances foram tomados para a sua descrição e discussão, como a “voz” sertaneja, a
criação de um relato memorialístico, a inventividade da palavra literária, além do aspecto
“autorreflexivo” e pós-moderno do romance de Aleilton Fonseca. Como traço de destaque nos
dois romances, pode-se dizer que se trata de narrativas de misturas de técnicas e de gêneros
próprios da tradição e da modernidade, situação que demonstra a hibridez e a ambivalência de
seus discursos, além de confirmar o aspecto de “mobilidade”, “ambiguidade” e “pluralidade”
que boa parte da crítica rosiana atribui a sua obra. Já o romance Nhô Guimarães, além de
recriação “estilística” de alguns aspectos de composição da narrativa de Guimarães Rosa,
também apresenta traços que situam essa produção dentro do que alguns teóricos e críticos
estão denominando de narrativa “pós-moderna”, devido ao seu aspecto “autorreflexivo” e de
“metaficção historiográfica”, dados não somente pela incorporação de elementos biográficos
do autor mineiro no enredo de seu romance, mas também pela própria recriação estilística de
elementos e cenas do Grande sertão: veredas.
Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras.
O presente trabalho busca analisar o sertão e as personagens que Guimarães Rosa imortalizou em Grande Sertão: Veredas, focando, principalmente, o modo como o autor aproveita materiais apreendidos da própria experiência, aliando-os a recursos imaginativo-fabulares de que se utiliza amplamente, recriando ou mesmo deformando a realidade em prol do universo ficcional. Igualmente, busca-se averiguar a formação dos homens e o papel das mulheres no ambiente sertanejo criado por Rosa, espaço recoberto por valores masculinos, território violento e, aparentemente, hostil ao elemento feminino. Para tanto, toma-se como base teórica os estudos sobre a família patriarcal realizados por Gilberto Freire em Casa Grande & Senzala e Sobrados e mucambos, bem como os estudos acerca do romance de Guimarães Rosa desenvolvidos por Kathrin Rosenfield e Luiz Roncari, entre outros. Dá-se destaque para a relação de Riobaldo com as mulheres, além de empreender-se uma análise mais apurada da personagem Diadorim, a ―moça virgem‖ que encarna a aparência e os valores de um jagunço destemido a fim de vingar a morte do pai e promover a ordem no sertão. Seguindo o estudo, avalia-se a travessia de Riobaldo, investigando a transformação do protagonista/narrador ao longo da narrativa: de pobre menino, órfão e sem pertences, a chefe destacado e herói, até finalmente tornar-se fazendeiro. Por fim, volta-se a presente análise para o narrador e a confiabilidade de seu relato, enfatizando-se os artifícios empregados ao longo da narração para atrair e/ou ludibriar o interlocutor (e o leitor). Após várias leituras do livro, com o apoio do referencial crítico-teórico, a principal conclusão que se extrai do estudo de Grande Sertão: Veredas é que seu texto, habilmente arquitetado, conduz a uma leitura encantatória e, não raro, ingênua. Quem pretende de fato apreender o livro, deve ser meticuloso e atento, empregando esforço crítico e constantes releituras para desvendar os significados ocultos por detrás de suas paisagens, aventuras e artimanhas narrativas. Espera-se, com este trabalho, promover a reflexão e ampliar as possibilidades de leitura e compreensão da obra rosiana.
Nesta pesquisa, procuramos analisar a representação estética do medo em narrativas
de João Guimarães Rosa. Para tanto, o presente estudo se divide em duas partes: a
primeira corresponde ao exame do medo que invade o universo infantil em “Campo
Geral” e finda com o personagem já adulto em “Buriti”; já a segunda, compreende a
análise de como o medo se apresenta em meio ao universo do indivíduo idoso em duas
distintas estórias “A benfazeja” e “Os chapéus transeuntes”. Assim sendo, temos como
objetivo analisar o medo sentido ou provocado pelos personagens em meio aos
caminhos tortuosos por eles percorridos nestas estórias, na perspectiva de
compreender como o medo se firma em cada narrativa e se articula com seguimentos
culturais, históricos e sociais nelas impressas estruturalmente. Buscaremos entender,
também, como o medo se configura na linguagem literária, admitindo funções de
caráter místico, religioso e filosófico sobre os personagens, por vezes modificando o
modo como pensam, têm consciência de si e das circunstâncias em que vivem. Para o
estudo específico sobre o medo adotaremos como suporte teórico Delumeau (2009) em
História do medo no ocidente; Myra y López (2012) em Quatro gigantes da alma: medo,
ira, amor, dever; e Michel de Montaigne (2010) em “Sobre o medo”.